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08/05/2009 10:08 - Seca encolhe produção e retrai intenção de plantio de inverno

A estiagem que se estende desde o ano passado e que ainda afeta as lavouras brasileiras deve secar mais 0,7% da produção agrícola. O oitavo levantamento da safra 2008/09 da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) indica que o Brasil vai colher 136,6 milhões de toneladas de grãos e não 137,57 milhões de toneladas como previsto anteriormente, queda de 5,2% sobre a produção de 144,1 milhões de toneladas do ciclo passado.

 

A redução da perspectiva de colheita de 1,1 milhão de toneladas foi determinada pela quebra de 500 mil toneladas na safra gaúcha de soja e de mais 600 mil toneladas no milho safrinha do Paraná, explicou o diretor de Logística e Gestão Empresarial da Conab, Sílvio Porto. A estiagem atingiu também a produção em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. "Agora a atenção está voltada para a safra de inverno", destacou Porto, referindo-se principalmente ao plantio de trigo que, nas lavouras do Rio Grande do Sul está atrasado em pelo menos 30 dias. Antes dessa estiagem, havia intenção de aumento da área cultivada com trigo entre 5% e 10%, destacou o Ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes. Mas com a persistente falta de chuvas não é mais possível garantir essa expansão. "Só vamos saber disso em 30 dias".

 

Sobre a redução de 5,2% na safra deste ano, Stephanes, preferiu adotar um tom otimista. "Será a segunda melhor safra da história", disse. Para o ministro, não há problemas na comercialização da atual safra. Segundo ele, é notável o retorno das tradings ao mercado futuro. "Estão voltando os compradores e também os financiadores, vagarosamente", disse.

 

O índice mais forte de perda é na cotonicultura, com retração de 22% sobre o ano passado. Já a produção de arroz cresce 6,2% sobre a anterior, atingindo 12,8 milhão de toneladas. A produção de feijão aumenta 6,9%. A área total plantada permanece praticamente a mesma do ano passado, atingindo 47,5 milhões de hectares, alta de 0,3%.

 

Neste novo levantamento, a produção de soja é estimada em 57,6 milhões de toneladas, queda de 4% sobre as 60 milhões toneladas do ano passado, frustração de 2,4 milhões de toneladas. Para o milho, a produção é estimada em 51,3 milhões de toneladas, quebra de 12,4% sobre as 58,6 milhões de toneladas do ano passado, ou seja, retração de 7,2 milhões de toneladas.

 

Pela primeira vez em 10 anos o consumo interno de milho deve recuar, seguindo de perto a estimativa de queda na safra do cereal apontada pela Conab. De acordo com André Pessoa, diretor da Agroconsult, se se confirmarem as projeções de nove milhões de toneladas embarcadas ao mercado externo este ano, no estoque final deve permanecer milho suficiente para atender uma demanda interna de 43 dias. "Sem ameaça de desabastecimento", pondera o analista. No ano passado o estoque final era suficiente para abastecer 3 meses de consumo.

 

Ainda segundo Pessoa, o consumo brasileiro deve acompanhar a tendência mundial e encolher em função da queda da demanda do grão para a produção de ração. Levantamento da Agroconsult aponta que o mercado de alimentação animal deve consumir 136 milhões de toneladas de milho ante as 151 milhões de toneladas de 2008. Contudo, o encolhimento do mercado interno de milho será equalizado pelo aumento das exportações, e o produtor também deve ser compensado com o aumento da rentabilidade, mas só no último trimestre.

 

André Pessoa calcula que de cada hectare plantado com milho o produtor vai voltar a colher uma margem de lucro de R$ 700, em virtude da redução dos custos de produção em 16%. "Como essa condição de rentabilidade só estará presente no final do ano, a disposição para plantar soja será maior pelo período que ocorrerá a reação dos preços", justifica. De acordo com ele, a expectativa para a próxima safra verão de milho é a manutenção dos já reprimidos 9,3 milhões de hectares de área e incremento de um milhão de hectares de soja.

 

A segunda estimativa da safra de café de 2009 aponta para uma produção de 39 milhões de sacas. Em janeiro, a Conab havia apurado que a produção ficaria entre 36,9 milhões e 38,8 milhões de sacas. Segundo Stephanes, esse aumento da oferta não irá depreciar preços. "É mais ou menos o que o mercado já esperava", disse o ministro. O clima favorável nas regiões produtoras ajudou a ampliar a estimativa de colheita, justificou a Conab.

 

Na safra passada, a produção do grão atingiu a marca de 45,9 milhões de sacas beneficiadas. Mas já era esperada redução da oferta, uma vez que os cafezais apresentam característica de ciclo bianual - forte produção em um ano e redução no ano seguinte. Na comparação com o ano passado, a produção de café arábica terá queda de 20,2%, enquanto a oferta de café robusta crescerá 2%. Minas Gerais será o principal produtor, responsável por 19,2 milhões de sacas. Em segundo lugar aparece o Espírito Santo, com 10 milhões de sacas. O parque cafeeiro é estimado em 2 milhões de hectares em produção e mais 245 mil hectares de lavouras em formação.

 

Eduardo Carvalhaes, do Escritório Carvalhaes, explica que a tendência é que o equilíbrio entre produção e exportação será ainda mais precário. "É possível que continue assim até que ocorra algum problema climático com prejuízo à safra e ao abastecimento". Para ele, a possibilidade de isso ocorrer é grande por causa das variações climáticas nos últimos anos.

 

O secretário de Produção e Agroenergia do Mapa, Manoel Bertone, confirmou que o governo vai lançar contratos de opção para atender 3 milhões de sacas de café, operação que exigirá R$ 1 bilhão. Bertone disse que o mecanismo está sendo discutido com equipes do Ministério da Fazenda, como níveis de preço, volumes por produtor e condições de entrega. O secretário disse que o apoio governamental confere sustentação à cafeicultura. "Este ano não foi preciso pagar dívida com o Funcafé", declarou.

 

Veículo: Gazeta Mercantil

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