Economia
14/06/2017 14:20 - Mesmo com avanço do desemprego, soma de salários na economia cresce em 1 ano
Apesar do número de pessoas desempregadas ter aumentado no Brasil, a massa salarial cresceu em um ano. É o que mostram dados de abril da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), a última divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na prática, isso significa que o “bolo” dos salários aumentou, mas está sendo distribuído entre menos pessoas.
Em abril, a massa salarial bateu R$ 183 bilhões – um valor 0,93% maior na comparação com o mesmo mês de 2016. Esse montante representa a quantidade de dinheiro em circulação na economia cuja origem são os salários das pessoas que estão empregadas. Os dados já descontam o efeito da inflação e mostram um leve aumento real da massa salarial no país.
Mas, nesse período, o número de desempregados no Brasil saltou de 11,4 milhões para 14 milhões de pessoas.
Esse crescimento da massa salarial em meio ao avanço do desemprego mostra que, na média, quem conseguiu manter seu emprego na crise estava ganhando mais em abril na comparação com o ano anterior.
Inflação menor, salários maiores
Para economistas ouvidos pelo G1, entre as principais causas do aumento da massa salarial está queda da inflação. A inflação oficial perdeu força neste ano e seu avanço em 12 meses ficou em 3,6% em maio deste ano, abaixo da meta do Banco Central.
“A inflação caiu muito rapidamente. De mais de 10% para abaixo de 4%”, observa Claudio Dedecca, professor de economia social e do trabalho da Unicamp, comparando o IPCA em 12 meses em 2016 e em 2017. “Isso acaba rebatendo, sendo favorável ao salário.”
A explicação é que, por causa da inflação baixa, o aumento real acontece mesmo que as pessoas não tenham recebido elevados reajustes salariais. “Quando você tem uma inflação menor, os aumentos nominais valem mais”, confirma Everton Carneiro, analista econômico da RC Consultores. “O rendimento médio real (que desconta o efeito da inflação) acaba subindo, mesmo que nominalmente não tenha uma alta tão forte”, complementa Thaís Marzola Zara, economista chefe da Rosemberg Associados.
Zara cita ainda o reajuste do salário mínimo como fator que contribuiu para o aumento da massa salarial. Em 2017, o salário mínimo nacional é de R$ 937, um valor 6,47% maior do que o praticado ao longo do ano passado. Como a inflação acumula alta abaixo desse patamar, quem ganha um salário mínimo hoje, na prática, tem uma renda real maior do que tinha no ano passado.
Já Carneiro explica o avanço na massa salarial com o maior êxito dos trabalhadores de negociar aumentos acima da inflação frente a uma pressão menor dos preços na economia. “Tem a ver também com a capacidade de negociação dos sindicatos, que estão conseguindo aumentos reais”.
Segundo a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), os ajustes salariais têm registrado aumento acima da inflação desde fevereiro, após vários meses sem alta real. Especificamente em abril, o ajuste médio foi de aumento real de 1,4%. Segundo o Salariômetro da Fipe, 89% dos ajustes salariais realizados em abril tiveram aumento acima da inflação.
Carneiro também aponta outro fenômeno que pode explicar o aumento da massa salarial, embora não haja indicadores para isso: com a demissão de parte dos funcionários, os que ficam nas empresas acabam acumulando mais trabalho e, em alguns casos, conseguem aumento.
Menos pessoas trabalhando
De qualquer forma, o ganho na renda pelos salários está sendo sentido por uma quantidade menor de pessoas. Isso porque, no mesmo período em que a massa salarial cresceu 0,93%, o número de pessoas desempregadas subiu de 11,4 milhões para 14 milhões.
Na avaliação de Everton Carneiro, analista econômico da RC Consultores, os números mostram também que “a gente está caminhando para um mercado de trabalho mais injusto”. “É mais saudável para uma economia permitir que os salários circulem [de forma mais equilibrada] do que concentrá-los”, opina.
Para Dedecca, a alta da massa salarial “é uma recomposição limitada [da renda], porque ocorre no âmbito dos trabalhadores ocupados”. “Aqueles que não têm renda não são beneficiados por esse movimento.”
Sérgio Firpo, professor e pesquisador em mercado de trabalho do Insper, afirma que o crescimento da massa salarial enquanto o desemprego segue em alta, por si só, não representa um aumento da desigualdade, mas “é um fator que contribui” para isso.
Outro ponto destacado por Firpo é que “o desemprego tem afetado as pessoas de maneira desigual”, atingindo com mais força os mais jovens e com escolaridade baixa. “O desemprego não é igualitário. Afeta mais as pessoas mais vulneráveis e contribui para aumentar a desigualdade. ”
Já Zara diz que o aumento da massa salarial ao mesmo tempo em que o desemprego sobe “não necessariamente” significa um impacto na desigualdade, pois reflete diretamente a queda da inflação e o reajuste do salário mínimo.
Mais dinheiro circulando
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, tem dito que o aumento da massa salarial é um dos sinais de que a economia já retomou seu crescimento. Para os economistas do G1, no entanto, isso não é tão claro.
“Comemorar esse dado acho que é forçar um pouquinho a barra”, diz Carneiro sobre a afirmação do ministro. “Em termos de recuperação, é muito pouco para que se possa dizer. A massa está crescendo devagar, e com muita gente ainda desempregada.”
De qualquer forma, o aumento da massa salarial significa mais dinheiro em circulação, o que, aliado à queda dos juros, pode resultar em melhora do comércio e ajudar no crescimento da economia. “Se você é um comerciante do varejo, o principal dado que você olha para entender a recuperação da economia é a massa salarial”, diz Carneiro.
No entanto, apesar de a melhora na renda das pessoas empregadas ter potencial para puxar o consumo para cima, ainda é cedo para dizer se esse movimento é suficiente para gerar empregos. Dedecca explica que, para que isso aconteça, é necessário também que “a economia brasileira sustente uma trajetória de recuperação”.
Firpo diz que a alta da massa salarial é um indicativo do crescimento da economia, “ainda que pequeno”, mas também ressalva que a geração de empregos deve demorar mais que o previsto para se recuperar.
“As empresas ainda têm capacidade ociosa. Além disso, a retomada era esperada para o segundo semestre, mas ainda tem uma grande incerteza no ar. As empresas precisam ter uma certa evidência de que a economia está crescendo de maneira sustentável para voltar a contratar. ”
Fonte: G1
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