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10/04/2017 14:29 - Varejo quer conquistar os recursos do FGTS

As condições de pagamento variam de acordo com cada lojista. Na rede Extra, os eletrodomésticos e smartphones poderão ser parcelados em até 20 vezes sem juros no cartão da loja. A empresa explica que essas condições antes eram restritas a produtos específicos ou promoções de datas comemorativas.

 

Até o mês de julho, quando ocorre a liberação do último lote das contas inativas, o Walmart oferece aos consumidores a possibilidade de parcelar em até 15 vezes as suas compras de produtos da linha branca, eletrodomésticos e telefonia. Nos demais meses do ano, o prazo máximo será de 10 meses.

 

Para Nicola Tingas, consultor econômico da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), a receita extra do FGTS é boa tanto para o consumidor - que ganha poder de barganha para tentar descontos maiores -, quanto para o lojista, que vê o risco de inadimplência cair.

 

As prestações a longo prazo, no entanto, podem esconder um risco para os consumidores, já que os juros sempre estarão embutidos nas parcelas, alerta a planejadora financeira da Planejar, Diana Benfatti. Mesmo que a loja anuncie que pagamentos a prazo são isentos de taxas, "o valor do dinheiro no tempo sempre está dentro do preço. O que existe é a falta de desconto. Se conseguir desconto maior que os juros que estaria pagando, vale a pena pagar à vista", explica.

 

A queda de 7% nas vendas nos últimos 12 meses, segundo o IBGE, aliada a um cenário ainda incerto, faz com que os empresários do setor varejista não se sintam confortáveis para oferecer juros menores nas compras parceladas, avalia o diretor econômico da Associação Nacional dos Executivos de Finanças Miguel Oliveira. Para ele, as promoções anunciadas também são uma estratégia para liquidar os altos estoques.

 

Consignado com garantia do FGTS ainda é promessa

 

A nova regulamentação que permite o uso do FGTS como garantia adicional para o empréstimo consignado - descontado diretamente da folha salarial - é mais uma ferramenta para que o trabalhador troque uma dívida cara por outra mais barata. Porém, especialistas questionam as consequências da iniciativa no longo prazo e divergem sobre a sua atratividade para os bancos.

 

Pela medida, que libera os bancos para firmar convênios com empresas, o trabalhador poderá utilizar como garantia do empréstimo 10% do saldo de seu FGTS. Em caso de demissão, a instituição financeira poderá reter 100% da multa rescisória. A taxa máxima de juros é de 3,5% ao mês, e o prazo para pagamento, de 48 meses.

 

Maurício Godoi, professor da Saint Paul, explica que a novidade pode ser um bom negócio porque um cliente que está atrasando o pagamento de uma dívida ou não consegue honrar as prestações pode optar por pegar um consignado para liquidar o débito e pagar um juro menor do que o de outras modalidades, como o cheque especial. "É vantajoso para o banco porque ele não estava recebendo e vai passar a receber."

 

No entanto, um dos principais obstáculos que as instituições financeiras podem enfrentar é o alto custo operacional. A análise do perfil do trabalhador, do salário recebido, da empresa e do FGTS faz com que a operação seja mais trabalhosa e cara. Aliada ao juro baixo, essa burocracia tornaria essa linha pouco atrativa para os bancos. "O trabalho que o banco vai ter não faz frente a essa taxa. Antes de conceder o crédito, vai ter de saber quanto você tem para calcular a garantia. O processo só ficaria mais simples se tivesse uma automatização", explica Marcelo Prata, consultor e fundador do Canal do Crédito.

 

Por outro lado, a baixa taxa de juros incentivaria mais pessoas a optar por esse tipo de crédito, o que faria com que o banco lucrasse em cima do número de empréstimos. "Em um momento de recuperação da economia, quanto mais crédito a instituição ceder, mais ela ganha no volume, e não na taxa", observa Juliana Inhazs, professora da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap).

 

Os bancos ainda estudam como viabilizar as novas regras. Procurados, Itaú, Banco do Brasil, Bradesco, Santander e Caixa, que juntos detêm cerca de 80% do total em crédito consignado, ainda não começaram a operar a nova modalidade. Em nota, o Bradesco afirmou que "oferecerá a linha tão logo o sistema operacional entre as partes envolvidas esteja apto". O Santander afirmou que oferecerá a linha, mas que ainda não há detalhes sobre as condições, que dependem das regras estabelecidas pela empresa no convênio com o banco. Itaú, Caixa e Banco do Brasil afirmaram que estão avaliando as novas regras e os ajustes operacionais.

 

Uma das principais preocupações em relação à nova modalidade é que ela compromete o que pode ser a única poupança de muitos trabalhadores brasileiros. Juliana, da Fecap, explica que, se o mecanismo for usado em massa agora, no futuro, muitas pessoas estarão com a renda comprometida.

 

Fonte: Estadão

 

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