Economia
31/03/2017 11:16 - Estratégias de proteção das plantas mantêm produtividade nos cafezais
Sistemas de irrigação subterrânea e até cerca de flores ajudam na continuidade do vigor das lavouras de café no cerrado mineiro. Cultivo do grão gourmet eleva renda dos produtores rurais
Uberlândia (MG) - O cenário de preços para o café é promissor e deve se estender ao longo dos próximos anos. Cientes disso, cafeicultores não medem esforços para melhorar a infraestrutura, proteger a lavoura e gerar ganhos de produtividade. No município de Serra do Salitre (MG), no cerrado do estado, a Fazenda Santa Helena adotou uma cerca 'viva', uma plantação de flores em volta de parte dos cafezais que os protege contra a invasão de animais como o lobo guará. A propriedade era uma antiga lavoura de sorgo e foi comprada pelo até então pecuarista Jayme Miranda.
"Mudamos para a atividade agrícola e plantamos de uma só vez os 170 hectares da fazenda, 100% irrigados por gotejamento. No ano passado, tivemos a maior safra da história: 112 sacas por hectare. A média nacional do a café de sequeiro [sem irrigação] é no máximo 35 sacas por hectare", afirma o proprietário. Neste investimento inicial, percebeu-se que haveria a necessidade de uma cerca e ao invés de fios e madeira foram escolhidas flores do tipo hibisco-colibri.
Gotejo enterrado
A decisão de implantar um sistema de irrigação por gotejo na Fazenda Morro Grande, localizada no município de Ibiá (MG), visava o aumento de sacas colhidas por hectare. Deu certo e a média passou de 32 para 60 sacas logo na primeira safra. No entanto, a estrutura que ficava sobre os pés de cada planta vinha sendo danificada por roedores. "Tínhamos um problema e para resolver, optamos por investir em um novo sistema, mas de irrigação enterrada. Além de evitar impactos dos animais, ele diminui o trânsito de máquinas para fertilização", conta o gerente da Morro Grande, Mauro Camargo. O aporte aconteceu em 2005 e totaliza R$ 1 milhão. Agora, o mesmo está sendo feito na Fazenda Morro Alto, vizinha e do mesmo proprietário.
Cada lavoura do cerrado mineiro do grupo possui 180 hectares e somados a um terceiro cafezal em Garça (SP), o produtor José Serra Neto mantém 1080 hectares da cultura. A irrigação subterrânea da israelense Netafim vem acoplada a um sistema de monitoramento de umidade do solo. O usuário lança as informações sobre a temperatura atual e a máquina informa quando e quais locais precisam ser irrigados. "O gotejo enterrado me facilita o manejo e as próximas lavouras [na Fazenda Morro Alto] terão a mesma tecnologia", enfatiza o gerente.
Cafés especiais
Miranda, da Fazenda Santa Helena, define a rentabilidade do café como "maravilhosa". A justificativa é o constante avanço da demanda pela bebida, impulsionado pela expansão das cápsulas, e a liquidez na exportação. Paralelamente, o alto custo de implantação da lavoura cafeeira impede o aumento de áreas, como aconteceria na soja ou no milho. Para extrair o máximo de benefício do negócio, uma parte da colheita é de grãos gourmet - conhecido como cereja descascada - cujo valor da saca de 60 quilos costuma ser de R$ 80 a R$ 100 superior ao da commodity convencional. Este produto deu a Miranda o prêmio de segundo melhor café do cerrado, em 2015, pela companhia italiana Illy.
No ano passado, das 18 mil sacas colhidas, 4,5 mil eram de grãos especiais.
Já na Fazenda Morro Grande, o produtor José Serra espera colher 10 mil sacas neste ano, das quais 40% destinadas ao mercado de alto valor agregado. A vantagem é que suas duas propriedades mantêm os produtos especiais, também elencados pela Illy como alguns dos melhores da região. Por conta da infraestrutura adotada e resultados obtidos, as lavouras de Miranda e Serra foram utilizadas pela multinacional Netafim como demonstração dos sistemas de irrigação aplicados. As propriedades receberam produtores rurais da América Latina e África nesta quarta-feira (29). As visitas faziam parte da programação do 1º Seminário Internacional de Café e Cacau, evento realizado em Uberlândia (MG) desde segunda-feira (27).
Fonte: DCI
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