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13/04/2009 10:22 - Um tombo feio em 6 meses

A indústria perdeu R$ 24,7 bilhões de riqueza nos últimos seis meses em razão da crise, segundo projeções do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). O carro que deixou de ser montado, a máquina de lavar que não foi fabricada, o alto-forno da siderúrgica desligado, por exemplo, provocaram uma contração da ordem de 15% no ritmo de produção entre setembro e março e um recuo no Produto Interno Bruto (PIB) industrial.

 

O baque sofrido pela indústria em seis meses foi tão grande que, mesmo com a recuperação esboçada no ritmo das fábricas em janeiro e fevereiro, economistas preveem que a produção industrial encolha entre 4% e 5% este ano na comparação com 2008. A maior retração anual havia sido em 1998, quando a produção industrial caiu 3,3%. Naquela época, lembra o sócio-diretor da RC Consultores, Fabio Silveira, o País sofria os efeitos das crises da Ásia, da Rússia e estava na antessala da desvalorização cambial, ocorrida em janeiro de 1999.

 

"O tombo na indústria foi muito grande em tão pouco tempo", afirma o economista do IEDI, Rogério César de Souza, que calculou a contração no PIB industrial após a eclosão da crise. Para chegar aos R$ 24,7 bilhões, que é a perda do PIB industrial a preços de mercado, ele levou em conta margens de comercialização e impostos da ordem de 20%, que é uma média, na sua opinião, conservadora.

 

O economista também fez as projeções a partir dos dados mais recentes que são o PIB do último trimestre de 2008 da indústria de transformação e extrativa mineral. Esses dois segmentos respondem por quase 70% da produção da indústria. Ficaram de fora a construção civil e a distribuição de eletricidade, gás e água, que entram, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no PIB da indústria. Souza lembra também que uma das hipóteses consideradas no cálculo foi que o PIB industrial no último trimestre de 2008 e no primeiro deste ano tenha tido comportamento semelhante ao da produção industrial, que mede os volumes de mercadorias produzidas.

 

O economista do IEDI destaca que a perda no PIB da indústria é real e pode ser ainda maior, se for considerada a deflação dos preços dos produtos industriais. É que, para desovar os estoques excessivos acumulados nas fábricas, a indústria também cortou preços, a exemplo do que ocorre hoje no comércio varejista. Em março, por exemplo, os preços dos produtos industriais caíram 0,72% segundo dados do Índice Geral de Preços -Mercado (IGP-M) apurado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).

 

O recuo nos preços da indústria foi quase equivalente ao do IGP-M como um todo para o mesmo período, que teve deflação de 0,74%. Segundo o coordenador de Análises Econômicas da FGV, Salomão Quadros, 14 dos 20 grupos de preços industriais pesquisados para a apuração do IGP-M tiveram deflação em março. A queda mais abrupta ocorreu nos produtos siderúrgicos, cujos preços no atacado recuaram 4,23% no mês passado. "A deflação nos preços industriais significa perda de renda na indústria, perda de arrecadação para o governo e isso ficou visível no primeiro trimestre deste ano", observa Souza.

 

Nas contas do IEDI, se a produção da indústria continuar crescendo 2% nos próximos meses, que foi a média registrada no primeiro bimestre ante o período imediatamente anterior, excluídos os efeitos sazonais, encerrará 2009 com queda de 4% na comparação com 2008. O economista da entidade pondera que o tombo pode ser maior e chegar a 5%.

 

Silveira, da RC Consultores, prevê um recuo de 4% na produção industrial neste ano, a maior retração em dez anos, apesar da recuperação ocorrida no primeiro bimestre. Em 2008, a produção industrial encerrou o ano com alta de 3,1% ante 2007. "Em dezembro, a indústria foi a nocaute e vem se recuperando gradualmente em razão de medidas anticíclicas que estão sendo adotadas", destaca.

 

Para Souza, do IEDI, o crescimento de 2,2% da produção industrial em janeiro e de 1,8% em fevereiro ante o mês imediatamente anterior, descontados os efeitos sazonais, não sinaliza uma nova tendência: "Não está clara a recuperação: a indústria caiu bastante e agora está subindo um pouco."

 

Veículo: Jornal do Commercio - RJ

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