Mais de 200 mil animais já foram abatidos na Ásia e na Europa, em decorrência da doença, desde outubro de 2016 e expectativa do setor é ampliar embarques brasileiros para suprir a demanda

São Paulo - Pelo menos 30 países registraram, nos últimos dias, casos de gripe aviária em frangos, perus e patos. Algumas das nações contaminadas são exportadoras de aves e, com as vendas interrompidas pela doença, podem perder mercado para o Brasil. Antes do atual surto, que tem se intensificado na Ásia e Europa, os Estados Unidos sofreram com o vírus da influenza H5 entre os anos de 2014 e 2015. Naquele período, os norte-americanos perderam cerca de 3,5 milhões de toneladas da carne que deixaram de ser embarcadas, recorda o vice-presidente de mercados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin.

"O Brasil foi chamado para suprir essa lacuna [na época] e teve um incremento de 250 a 300 mil toneladas nas exportações de aves por ano", diz o executivo. Só com estas vendas o País faturou, em média, US$ 450 milhões. A mensuração exata do potencial que os embarques brasileiros do setor podem atingir virá em meados de janeiro, pois a ABPA está trabalhando na coleta de dados sobre os países com casos da doença apontados. Volume fornecido e compradores que deixaram de ser atendidos devem compor a análise.

"Arábia Saudita, Emirados Árabes, são regiões que não têm influenza, mas estão banindo as compras dos países contaminados", explica Santin. Em Taiwan há um processo de abertura do mercado para produtos brasileiros em curso e que, segundo o executivo, pode ser acelerado pelos problemas asiáticos.

O Brasil deve fechar o ano com 4,39 milhões de toneladas de frango exportadas, carro-chefe entre as aves, aumento de 2% em relação a 2015. Caso o volume se confirme, o faturamento somará US$ 6,8 bilhões, equivalente a uma queda de 4,1% em relação ao ano passado, quando atingiu US$ 7,169 bilhões, de acordo com a ABPA. Para 2017, a previsão preliminar - antes do crescimento nos casos de gripe aviária - é de uma elevação entre 3% e 5% tanto na produção quanto nas exportações do setor.

Sinal Amarelo

Com a ocorrência da doença, o analista da consultoria Safras & Mercado, Paulo Molinari, alerta para um ponto negativo à cadeia, com possível reflexo aos embarques do ano que vem. "Quando isso ocorre, a população deixa de comer carne de aves e substitui por outra proteína. Ao invés de gerar um incremento ao Brasil, podem aparecer demandas mais voltadas para a carne suína, por exemplo", argumenta.

Ontem, autoridades alemãs informaram o abate somam 77 mil aves (perus, galinhas e patos), segundo a agência de notícias Reuters. Na última terça-feira (27), o Ministério da Agricultura chinês já havia anunciado que 170 mil aves foram abatidas desde outubro e, na mesma data, o governo de Hong Kong disse que um idoso morreu no domingo (25), infectado pela doença. Para o especialista da Safras & Mercado, o envolvimento de pessoas infectadas é um agravante que colabora para inibir o consumo da proteína no mundo. Quanto a isso, o vice-presidente da ABPA esclarece que a contaminação não acontece pelo consumo da ave que passou pelo processo industrial, mas sim pelo contato direto com o animal vivo.

Prevenção

Em Santa Catarina, um dos maiores estados produtores do setor, ao lado do Paraná, o cuidado nas granjas tem se intensificado para evitar a entrada da doença. "Toda a produção é verticalizada e integrada com a indústria, por isso há um forte engajamento na questão sanitária. Quando mais de 10% dos animais morrem, são realizadas vistorias", diz o presidente da Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc), vinculado à Secretaria Estadual da Agricultura, Enori Barbieri.

"Orientamos os produtores a trocar de roupas e sapatos antes de entrar nos planteis e que não haja visita desnecessária", acrescenta o presidente da Associação Catarinense de Avicultura (Acav) e diretor de agropecuária da JBS, José Antônio Ribas Júnior.

Para o executivo, neste momento é importante que os trabalhos estejam alinhados com o governo para que exista infraestrutura suficiente para um diagnóstico e também rápida extinção de eventuais focos da doença. As medidas fazem parte de um plano de contingência do governo federal que existe e está sendo colocado em prática. Periodicamente, a cadeia da avicultura tem se reunido em um comitê para monitorar as ações do plano de acordo com prazos estabelecidos.

"Os riscos estão nas pessoas que vêm de fora do País e também nas aves migratórias, visto que já houve casos da doença na América do Norte nos últimos anos. O verão é justamente o momento em que esses animais partem para outras regiões", sinaliza Ribas. Por isso, Barbieri, que também é vice-presiente da federação de agricultura do Estado de Santa Catarina, a Faesc, destaca que o controle nacional desses animais está em dia.

Nayara Figueiredo

Fonte: DCI - São Paulo