As mudanças no papel da loja física devem começar a ficar mais claras no varejo brasileiro. No próximo ano, o Magazine Luiza deve transformar as suas 790 lojas em espécies de minicentros de distribuição, que devem armazenar produtos para que o cliente que comprou um produto pelo site da rede faça a retirada em loja ou para a entrega na casa do consumidor que mora nas proximidades. Os pontos de venda não deixam de oferecer os produtos, mas passarão por ajustes para que funcionem também como pequenos armazéns.

Outras cadeias, como Extra, Casas Bahia e Lojas Americanas, já iniciaram reformas em lojas para adaptar a operação ao serviço de "click and collect" - compra on-line e busca do produto no ponto. São medidas que reduzem a conta de custos com frete, atualmente a linha que mais pesa para as redes que operam a venda on-line, seguida da despesa financeira. "Devemos passar a fazer entregas a partir das lojas, transformando-as em minicentros de distribuição no próximo ano", disse Decio Sonohara, diretor executivo de infraestrutura do Magazine Luiza, durante reunião com analistas e investidores na sexta-feira.

Até o fim de dezembro, 600 lojas da rede estarão operando com o sistema e, nos primeiros meses do ano que vem, o projeto deve atingir todas as quase 800 unidades. Os estoques devem ir se adequando para atender as entregas de clientes que vão até o ponto pegar o produto comprado no site ou daqueles que fazem pedidos on-line, mas preferem receber em casa. Futuramente, o plano é tornar as lojas do Magazine Luiza em pontos de entrega também de produtos de redes varejistas parceiras da empresa no "market place". É uma mudança de modelo. Por décadas as varejistas diminuíram drasticamente as áreas de estoque das lojas.

Por meio do market place, pequenos varejistas comercializam seus produtos no site da empresa pagando pelo serviço de "hospedagem". A ideia é que, um consumidor que compre de qualquer outra cadeia, pelo market place do Magazine, retire essa mercadoria nas lojas da rede. E o Magazine receberá do lojista parceiro por prestar esse serviço de entrega. Especialistas do setor acreditam que outros líderes desse mercado, como B2W (controlada pela Lojas Americanas) e Cnova (dos sites de Casas Bahia e Ponto Frio), vão oferecer esse mesmo serviço aos parceiros de seus portais.

É uma mudança na forma como se trabalhou a loja por décadas. Pelo modelo atual, as varejistas de eletroeletrônicos reduziram drasticamente as áreas de estoques de suas lojas, em decorrência do aumento da venda direta dos centros de distribuição para a casa dos consumidores. Os grandes armazéns continuarão a ser o ponto de partida das entregas de forma maciça, mas as lojas passam a funcionar também como um suporte, um pequeno "hub", na chamada "última milha" de atendimento ao cliente. Na semana passada, o "The Wall Street Journal" publicou que a Amazon estuda abrir 2 mil lojas nos Estados Unidos e algumas vão funcionar como grandes "drive-thru" com compra on-line e retirada das mercadorias nessas lojas.

No Brasil, de dois anos para cá, Cnova e B2W passaram a vender pelo comércio eletrônico com retirada de mercadorias em pontos físicos (Magazine Luiza começou neste ano). Na B2W, controlada pela Lojas Americanas, a opção de compra on-line e busca na loja funcionava, em setembro, em 250 pontos de venda, versus 80 um ano antes. No Grupo Pão de Açúcar, esse sistema chegará a 1.400 lojas até fevereiro, incluindo pontos de Casas Bahia, Ponto Frio, Extra, Minimercado Extra e Minuto Pão de Açúcar. Em fevereiro de 2016, atingia pouco mais de mil lojas.

No país, o que se viu até então, no processo de evolução das lojas, foi um aprimoramento na venda de serviços financeiros e um espaço maior para experimentação dos produtos. Na visão de Frederico Trajano, presidente do Magazine Luiza, o custo fixo das lojas vai ter que cair "radicalmente" para que seja viável no mundo digital. "O consumidor aceita pagar na loja de 5% a 10% a mais por um produto em relação ao preço que há no site, e, para vender com essa diferença, a loja tem que oferecer muito mais, em termos de serviços e de atendimento, do que oferece hoje", afirmou o empresário. O Magazine Luiza deve retomar a abertura mais acelerada de lojas em 2017, mas não mencionou números.

Fonte: Valor Econômico