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12/09/2016 10:44 - Inflação: de cada 100 produtos pesquisados pelo IBGE, 64 ficaram mais caros

As famílias estão levando sova da inflação. Em 12 meses, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) cravou em 8,97%, segundo divulgou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado ficou acima do observado nos 12 meses imediatamente anteriores, de 8,74%. Para analistas, é um sinal de que o custo de vida segue resistente, carregando a herança da alta de preços de 2015. Dessa forma, é cada vez mais provável que a carestia feche o ano próximo da expectativa do mercado financeiro, de 7,34%. No ano, a taxa acumula alta de 5,42%.

Nem mesmo o recuo mensal da inflação representa um alívio. Em agosto, o IPCA ficou em 0,44%, abaixo do resultado de 0,52% observado em julho, mas o maior resultado para o mês desde 2007. O índice de difusão, que mede a disseminação da alta de preços no mercado consumidor, ficou em 63,5%. Isso significa que, a cada 100 bens e serviços, quase 64 apresentaram elevação de preços. Para analistas, o aumento no número de produtos que ficaram mais caros é o principal sinal de resiliência da inflação. O indicador estava em queda entre março a junho, mas voltou a subir nos últimos dois meses.

Para o economista-sênior da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fábio Bentes, o crescimento da difusão é preocupante. Diferentemente da disseminação observada entre novembro de 2015 a fevereiro deste ano, quando ficou acima dos 70% em decorrência da alta dos preços administrados, o alastramento atual é causado por  pressões exercidas por preços livres. Ou seja, nem mesmo a queda do consumo provocada pela recessão está sendo suficiente para segurar os aumentos.

Feijão

Entre os gastos que contribuíram para pressionar a inflação, Bentes destaca os com despesas pessoais, alimentação e educação. Somente os custos médios com hotéis, empregado doméstico, ensino superior, leite longa vida, mamão, arroz e leite em pó contribuíram juntos com 0,21 ponto percentual do IPCA em agosto, ou seja, responderam por 47,7% do indicador. “É natural que os consumidores estejam sentindo no bolso o aumento de gastos com feijão, mas o drama da inflação vai muito além desse tipo de produto. De alguma forma, os preços dos alimentos e de alguns itens da cesta de consumo das famílias estão contaminando outras classes de despesas”, disse.

O auxiliar de escritório Severino da Silva, 42 anos, tem sentido no bolso a disseminação de preços na economia, principalmente no consumo de alimentos. “Às vezes é até difícil de acreditar que os preços estejam subindo tanto. Faço o possível para comparar os valores dos produtos, mas sinto que é em vão. Seja em qual supermercado vou, a sensação é de tudo está muito caro”, lamentou. A situação financeira da família dele piorou depois que a mulher ficou desempregada, em julho. “Sem o salário dela, a renda familiar caiu quase 40%. Desde então, cortamos ainda mais os supérfluos e estamos vivendo estritamente do básico”, disse.

Em agosto, os gastos com alimentação e bebidas subiram em média 0,30%, abaixo do resultado de 1,32% registrado em julho. O IBGE atribuiu o movimento aos gastos com batata-inglesa e feijão-carioca, que recuaram 8% e 5,6%, respectivamente. Em contrapartida, as frutas subiram 4,94%, com a maior contribuição para alta dessa classe de despesas, de 0,05 ponto percentual. O preço da banana-d’água, por exemplo, subiu 15,1%. “Até para comer de forma saudável está difícil. As frutas estão pela hora da morte”, reclamou.

Mas se houve desaceleração na alta dos preços de alimetos, os gastos com educação deram um salto. O grupo saiu de uma elevação de 0,04% em julho para 0,99% em agosto, segundo a gerente do IPCA, Irene Machado. “Há cursos diversos que normalmente têm as mensalidades reajustadas no segundo semestre”, disse. Houve pressão no bolso também por conta das despesas pessoais, que subiram 0,96%, ante um crescimento de 0,70% observado no mês anterior. O principal motivo para o aumento foram os Jogos Olímpicos. As diárias com hotéis, no período, subiram 11,58%, puxadas pelo aumento de 111,23% captado apenas no Rio de Janeiro.

A carestia resiste há tanto tempo que até mesmo quedas mensais como a do feijão-carioca, por exemplo, não são sentidas ou comemoradas pelos consumidores. O empresário Dydier Fernandes, 33, foi categórico: “Não tem como achar barato o quilo do feijão a um valor de aproximadamente R$ 10, como alguns supermercados estão cobrando”. Na opinião dele, por mais que esteja menos caros do que em meses anteriores, o preço continua absurso quando comparado ao de um ano atrás. A vendedora autônoma Laura Cutrim, 28, também se queixa do feijão. “Os valores continuam muito altos. E mal adianta substituir um produto pelo outro, porque outros tipos também estão com custos elevados”, disse. Em 12 meses, o valor pago pelo feijão-carioca subiu 160,2%. É o item de maior variação entre os pesquisados pelo IPCA, seguido de perto pelo tipo mulatinho, com alta de 129,9%, e o preto, de 94,4%.

 

Fonte: Jornal Diário de Pernambuco

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