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01/09/2016 11:39 - Copom mantém Selic e destaca inflação alta

Diretores da autoridade monetária ressaltaram preços de alimentos, mas também indicaram a necessidade do avanço de medidas do ajuste fiscal nos próximos meses


São Paulo - O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, ontem, manter a taxa básica de juros, a Selic, em 14,25% ao ano. Em decisão unânime, o colegiado do Banco Central (BC) destacou a inflação elevada no País, "em boa medida decorrente de preços de alimentos".
 
Segundo especialista entrevistado pelo DCI, o BC "tem muitas preocupações" e a maior delas é o avanço do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
 
"Vai ser muito difícil trazer a inflação ao centro da meta [4,5%] no ano que vem, como o [presidente do BC] Ilan Goldfajn gostaria. Isso deve atrasar os cortes na Selic", disse Miguel de Oliveira, diretor executivo na Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).
 
Em nota divulgada à imprensa, os diretores do BC apontaram que "a inflação corrente segue pressionada e vem recuando em ritmo mais lento que o esperado". Em julho, o IPCA acumulado em 12 meses ficou em 8,74%.
 
O documento ainda indicou que "a inflação acima do esperado no curto prazo pode se mostrar persistente". A autoridade monetária colocou o encarecimento de alimentos como principal motivo da resiliência do índice.
 
Para Virene Matesco, professora de economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), o IPCA pode avançar mais neste ano, caso esses preços continuem crescendo.
 
De acordo com a professora, um indicativo dessa tendência foi a queda de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) do setor agropecuário no segundo trimestre. A informação foi divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
 
"Esse enfraquecimento do setor pode significar uma diminuição da oferta de alimentos nos próximos meses, esquentando os preços novamente", disse Virene.
 
À frente dos outros componentes durante todo o ano, o grupo alimentação e bebidas esfriou no IPCA-15, prévia do dado oficial de agosto. Ainda assim, o ramo teve alta de 0,78%, puxando o avanço do índice a 0,45%.
 
A professora também ressaltou que a decisão do BC, no dia final do processo de impeachment, já era esperada. "Eles não iriam mexer nos juros agora, com toda essa turbulência. Não era a hora para alterar a política monetária."
 
Ajustes
 
Outro ponto que recebeu atenção do colegiado do Copom foi a realização dos ajustes fiscais pelo governo. Ao identificar os riscos internos para o avanço da inflação, foi colocado, na nota, que "incertezas quanto à aprovação e implementação dos ajustes necessários na economia permanecem".
 
Por outro lado, se os ajustes forem implementados "de forma mais célere", poderiam acontecer ganhos de confiança, o que reduziria as expectativas de inflação, apontou o documento do comitê.
 
Para João Ricardo Costa Filho, professor de economia da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), o BC vai esperar a aprovação das medidas no Legislativo para começar a reduzir a taxa de juros.
 
"Eles vão aguardar pelo avanço de matérias como o teto de gastos públicos e a reforma da previdência, para, depois, agir de forma mais efetiva", explicou.
 
Já Oliveira defendeu que fatores não colocados na nota do BC também pesaram para a nona manutenção consecutiva da Selic, parte da série de repetições mais extensa desde 1996, quando começa a série histórica do banco público.
 
"Temos alguns problemas internacionais que causam instabilidade e poderiam afetar a inflação, como a possível elevação da taxa de juros americana e o Brexit."
 
Perspectivas
 
Os especialistas entrevistados divergem quanto ao momento da redução da Selic. "Se o ajuste fiscal avançar, é possível que os cortes comecem já na próxima reunião, em outubro", projetou Virene.
 
A estimativa de Oliveira foi mais conservadora. Para ele, a mudança deve ser vista no começo do ano que vem. "A não ser que as situações política e econômica melhorem muito em pouco tempo, o que dificilmente acontecerá", ponderou.
 
Sobre o futuro, os diretores do BC indicaram que "uma flexibilização das condições monetárias dependerá de fatores que permitam maior confiança no alcance das metas para a inflação nos horizontes relevantes para a condução da política monetária, em particular da meta de 4,5% em 2017".
 
Para os analistas financeiros consultados pelo BC, o recuo da Selic deve acontecer ainda neste ano. No último relatório de mercado Focus, divulgado nesta semana, foi projetado que a taxa cairá para 13,75% ao ano até o fim de 2016.
 
Entretanto, a intensidade do corte mudou nas últimas semanas. Há um mês, a projeção era de que a Selic terminaria 2016 em 13,50% ao ano.
 
A perspectiva para o final de 2017 também foi alterada. No começo de agosto, os analistas indicavam uma taxa de 11% ao ano e, nesta semana, apontaram para 11,25% ao ano.
 
Fonte: DCI

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