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25/03/2009 07:48 - BNDES foca aporte de capital para fortalecer empresas na crise

O BNDES decidiu aproveitar o mau momento dos mercados para ampliar o aporte de capital em empresas. Este movimento, iniciado em 2008 após a quebra do Lehman Brothers, será uma das prioridades da instituição este ano. A intenção é reforçar o arsenal anticrise do banco principalmente no apoio aos processos de consolidação de companhias como VCP/Aracruz e BRTelecom/Telemar. Dono da maior carteira de ações do país, avaliada em quase R$ 60 bilhões, com participações concentradas nos setores de petróleo e gás, energia elétrica e mineração, o BNDES, através de sua subsidiária de participações a BNDESPar, tem presença direta e indireta em mais de 300 empresas - em 186, ela está presente no capital, enquanto em outras 120 ela participa através de seus 35 fundos de investimento.

 

"No ano passado estávamos fazendo uma grande reciclagem da carteira do ponto de vista do investimento e do desinvestimento quando veio a crise, e então paramos com os desinvestimentos [venda de ações]. Como o mercado continua ruim, optamos por eleger 2009 como o ano do investimento em renda variável", disse Eduardo Rathfingerl, diretor da área de mercado de capitais do banco ao Valor.

 

O executivo evitou falar quanto a BNDESPar pretende investir até dezembro em aporte de capital. "É muito difícil estabelecer uma meta de reciclagem da carteira", afirmou. Em 2008, segundo ele, a carteira de renda variável do banco bateu recorde girando R$ 21,8 bilhões em compra e venda de ações. Deste total, R$ 14 bilhões foram gastos com operações de aquisição de participações acionárias em novas empresas e R$ 8 bilhões com vendas de ações com destaque para papéis da CSN, da ArcelorMittal e Aços Villares.

 

A política do banco de investir em ações ganhou força na gestão de Luciano Coutinho, após ter sido retomada com a chegada de Guido Mantega à presidência do banco. Hoje, ela prioriza empresas dos setores de infraestrutura e inovação e os processos de consolidação e internacionalização de empresas. "Estas são as nossas prioridades fortes", ressalta Rathfingerl.

 

A infraestrutura foi selecionada porque continua com vários projetos "inelásticos", como os de energia, concessões rodoviárias e portos. Este mês, o banco aportou R$ 150 milhões na LLX, empresa de logística do grupo EBX de Eike Batista, para ter uma participação de 12,05% na companhia, pois considera o projeto de construção de dois portos no litoral fluminense muito importante para desengargalar as exportações brasileiras.

 

O setor de inovação, que Rathfingerl confessa ser o seu "xodó", também está cheio de empresas de tamanho pequeno e médio que necessitam de mecanismos de financiamento adequados tanto de renda fixa, quanto de renda variável para crescer. E num ano difícil de crise financeira as consolidações de empresas vão estar no "foco" da área de renda variável do banco, como já está acontecendo, avisa Rathfingerl. A internacionalização das empresas sempre vem depois da consolidação, pressagia.

 

Desde o início do ano, o BNDES participa ativamente de um dos maiores processos de consolidação em curso no país, o da Aracruz Celulose e VCP. Rathfingerl adiantou que a instituição terá uma participação importante na nova empresa (relatório do Goldman Sachs fala em 29%). "Esta companhia [que está surgindo da fusão das duas gigantes de celulose] é resultado de pelo menos umas 50 operações que foram feitas ao longo de 40 anos com participação acionária do BNDES", lembra.

 

Ele revelou que o banco impôs uma condição à VCP e Aracruz para entrar na operação. "Dissemos a eles: 'Resolvam os derivativos que a gente entra'", relatou o diretor da área de mercado de capitais. "Jamais entraríamos antes disto", acrescentou. A seu ver, participar do capital da maior empresa de celulose do mundo é a realização de um velho sonho do BNDES. "Isto para nós (banco) é o ápice de um sonho coroado com uma boa governança. A nova empresa vai unificar ações e vai para o novo mercado. Isto é muito importante".

 

Outra fusão que teve suporte e estímulo do BNDES foi a da BRTelecom com a Telemar. Ainda está em processo de definição a participação do BNDES na nova empresa. "Vamos entrar com percentual próximo de 17%", disse Rathfingerl. O BNDES tem 31% no capital da Telemar Participações e mais 3% no capital total da Brasil Telecom. Até o final do semestre, o restante de suas ações que ultrapassar sua nova participação será leiloada entre Funcef e Petros.

 

A negociação entre Sadia e Perdigão com vistas a uma futura fusão, como vem sendo noticiado, também poderá contar com o apoio do banco. "Esta negociação não está passando pelo BNDES", garante o diretor de mercado de capitais. Mas ele foi enfático ao dizer que o banco não negará apoio a esta operação se for procurado pelas duas empresas. "Este assunto não está aqui. Estamos acompanhando as discussões e se elas chegarem a alguma solução de consolidação e vierem nos pedir apoio, a gente dá", acrescenta.

 

Os setores de frigoríficos e de etanol também são vistos como passíveis de consolidação dado o impacto da crise sobre a demanda de carne e etanol. O banco tem ações em empresas de álcool e etanol, como a Brenco, na qual entrou no final do ano passado, e a Santa Elisa Vale. Há dois anos apoia os frigoríficos por considerar que o setor tem "inegáveis vantagens comparativas". Além de garantir o processo de internacionalização do grupo JBS Friboi, o BNDES aportou capital na Bertin S/A (26,92%), na Marfrig Frigoríficos (14,66%) e mais recentemente na Independência Participações S/A (13,89%), que pediu recuperação judicial.

 

A quase falência do Independência pegou o banco de surpresa. Rathfingerl contou que o BNDES ainda não participava do conselho do Independência quando a empresa tomou esta decisão. "Fizemos uma auditoria rigorosa para entrarmos na empresa, que chegou até a colocar bônus no mercado internacional no ano passado", informou. Ele admite que nas operações de renda variável este tipo de coisa pode acontecer, mas do ponto de vista do BNDES "são casos esporádicos".

 

O executivo enfatiza que para o banco a decisão de aportar capital numa empresa passa por uma visão de longo prazo e do que o país precisa. "Participar do capital nos permite ter uma espécie de periscópio, uma visão mais clara da estratégia da companhia e uma participação na sua governança através dos conselhos". Rathfingerl informou que o banco nunca adquire o controle das empresas das quais é sócio. "Nossa fatia de capital geralmente tem um percentual máximo de 30%, e costumamos ter uma estratégia de saída da companhia que não prejudique sua curva de crescimento".

 

Veículo: Valor Econômico

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