Economia
22/12/2015 10:23 - Sem definição política, projeções de PIB podem ter piora no ano que vem
Indicador da atividade econômica já é estimado em queda de 3% por consultorias e quadro tende a se agravar caso o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff seja prolongado.
Sem definição no cenário político e um ajuste fiscal mais forte, as expectativas econômicas podem registrar trajetória de forte deterioração em 2016, assim como aconteceu ao longo deste ano.
As projeções de consultorias entrevistadas pelo DCI já apontam queda de 3% no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2016 e retração econômica de até 3,8% para o acumulado de 2015.
A piora dos indicadores foi tão forte que este ano começou com expectativa de crescimento econômico de 0,40% e está terminando com perspectiva de queda de 3,70%, segundo o último Boletim Focus do Banco Central (BC), divulgado ontem - foi a quinta alta consecutiva nas estimativas. O mercado apontava ainda crescimento de 1,8% do PIB para 2016 em janeiro deste ano e, neste momento, já projeta recuo de 2,80%, de acordo com o mesmo relatório do BC - neste caso, os analistas revisaram suas perspectivas para retração por 11 vezes seguidas. Há quatro semanas, eles aguardavam queda de 2,01%.
Cenário
Falta de confiança, denúncias de esquemas de corrupção, incertezas com os rumos da economia, associados à retração da atividade econômica compuseram um cenário propício para a queda livre dos indicadores.
Alessandra Ribeiro, economista da Tendências Consultoria, avalia, contudo, que, quanto mais rápido ocorrer as resoluções no campo político, mais fácil podemos evitar que a projeção de retração do PIB de 3% se reverta em um número maior.
"Quanto mais o processo de impeachment da presidente [da República, Dilma Rousseff] se estender, mais a atividade econômica vai paralisando, porque tanto as famílias como as empresas, ficam receosas de tomar decisão de investimentos e de consumo", considera.
A professora de economia Virene Matesco, da Fundação Getulio Vargas (FGV), concorda com a avaliação de Ribeiro e acrescenta que o processo de impeachment significa incerteza entre a população. "No próximo ano, os indicadores de inadimplência podem se transformar em números de fechamento de empresas, dado o aprofundamento da recessão econômica", assinala.
A GO Associados prevê, por exemplo, que, caso ocorra um desfecho político até o primeiro trimestre de 2016, o custo de um ajuste fiscal na economia pode ser menor e a perda de produto, portanto, minimizada. Nesse cenário, a consultoria estima recuperação da economia brasileira a partir de 2018 - com expectativa de expansão de 0,5%. Do contrário, 2018 ainda deve registrar crescimento zero.
Para este ano, as projeções da GO Associados é de queda de 3,7% na economia e, para 2016, a expectativa é de retração de 3%.
Já a Tendências estima recuo de até 3,8% do PIB neste ano e de 3% em 2016. A LCA Consultores, por sua vez, espera queda de 3,5% em 2015 e retração de 2,8% no próximo ano, conforme informações do economista da consultoria Wermeson França.
Sem gatilho
A especialista da Tendências diz que não há "gatilhos" na economia que possam reverter o cenário recessivo para as projeções de PIB. "Há uma ausência total de gatilhos para driblar essa situação. O quadro político continua tenso e sem perspectiva de resolução rápida, contaminando a atividade econômica e, consequentemente, os indicadores. Há uma deterioração da renda, do mercado de trabalho, da confiança, dos investimentos. Não existe nada que possa levantar o PIB", reflete Ribeiro.
Do lado da oferta, o economista da GO Associados Alexandre Andrade, destaca o peso do setor de serviços na retração do PIB em 2015 e 2016, segmento que, pela primeira vez desde 1996, irá registrar duas quedas anuais seguidas, de 2,6% e de 3%, respectivamente.
"A deterioração do mercado de trabalho e dos rendimentos das famílias impactam com maior intensidade o setor de serviços. Como não há perspectiva de melhora, o segmento deve continuar sendo afetado negativamente em 2016", avalia Andrade, ressaltando que os serviços compõem cerca de 70% do PIB brasileiro.
A Tendência estima ainda queda de 2,6% nos serviços neste ano e de retração de 2,4% em 2016. Já para a LCA, o PIB do setor deve cair 2,3% em 2015 e registrar recuo de 1% no próximo ano.
As estimativas para a indústria são de queda de 6,3% em 2015 e de retração de 4,2% no ano que vem, para a Tendências. Já para a GO Associados, o segmento tende a cair 6,1% neste ano e recuar 4,7% em 2016. E, por fim, para a LCA, o setor indústria deve cair 6,4%, neste ano e registrar retração de 4,1% em 2016.
Para agropecuária, todas as estimativas apontam expansão. Para a Tendências, o setor irá apresentar acréscimo de 1,2% nos dois anos. Para a GO Associados, devem crescer 1,8% em 2015, e 1,6% em 2016.
Já para a LCA, o PIB do segmento tende a ter alta de 2,6% em 2015 e de 1,8%, em 2016.
"A agropecuária é importante na medida em que o setor exportador consegue trazer recursos para o País. Porém, o segmento participa pouco no PIB brasileiro e a melhora do saldo comercial está se dando mais por uma queda maior nas importações do que por um aumento das vendas externas", finaliza Andrade.
Veículo: Jornal DCI
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