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22/10/2015 10:03 - Recessão deve evitar alta de juros, mesmo com alta de preços

                                            Banco Central anuncia taxa nesta quarta-feira; especialistas preveem manutenção em 14,25%.

Com uma inflação que demora a dar sinais de que vá ceder e um ambiente de forte desaceleração da atividade produtiva, os economistas apostam na manutenção da Selic em 14,25% ao ano, mas alertam: esse patamar de juros não será suficiente para levar a inflação ao centro da meta em 2016, como quer o governo. Porém, aumentar o aperto monetário pode não surtir o efeito desejado e, pior, agravar ainda mais a recessão. Diante desse dilema, a expectativa dos especialistas é que o Banco Central sinalize que o IPCA de 4,5% só será atingido em 2017.

— A única coisa que o BC pode fazer para a inflação convergir é elevar os juros, mas isso resultaria em uma recessão ainda maior. O governo poderia ajudar do lado dos gastos públicos, com um corte de despesas. Mas não vejo nem uma nem outra coisa acontecer, então as projeções para inflação vão continuar acima do centro da meta — avaliou Jankiel Santos, economista-chefe do Haitong Bank.

PRESSÃO SOBRE 2016

As limitações à atuação do BC estão na própria dinâmica dos preços. A inflação alta de 2015 tende a alimentar a alta dos preços no ano que vem. Além disso, a valorização do dólar, novos aumentos dos preços de combustíveis e a necessidade de reajustes nas tarifas de energia colocam pressão sobre a inflação de 2016. A próxima decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre os juros será anunciada nesta quarta-feira.

— A nossa expectativa de inflação está em 5,8% para o ano que vem e com viés altista. São diversos os motivos para essa projeção. Vamos ter um outro aumento forte de energia elétrica e provavelmente de tarifas de transporte público. No setor de serviços, os preços de educação seguem em alta também — considerou Carlos Gonçalves Lopes, economista do Banco Votorantim.

Para Luis Otavio de Souza Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil, o mais importante para se traçar as expectativas daqui para frente em relação aos juros e à inflação será o teor do comunicado que o BC irá divulgar. Além de informar a manutenção da Selic, há a expectativa de que a autoridade monetária deixe de sinalizar a convergência da inflação para o centro da meta até o final de 2016.

— Essa é uma grande curiosidade em relação a essa reunião e que poderá dar alguma dica sobre os próximos passos do BC. Se o BC tirar do comunicado a referência ao ano de 2016, será uma sinalização de que agora está olhando para 2017 — explicou.

De acordo com o Boletim Focus — pesquisa semanal do BC com analistas do mercado —, a projeção é de que a inflação só volte ao centro da meta em 2019.

— O discurso de perseguir, a “ferro e fogo” a meta de 4,5% para o IPCA em 2016 veio perdendo força em um reconhecimento de tácito que, sem a ajuda fiscal, essa intenção estaria inviabilizada — frisou o economista-chefe da Canepa Investimentos, Alexandre Póvoa.

O Boletim Focus divulgado ontem mostrou nova piora nas expectativas. A previsão para o índice oficial de inflação, o IPCA, passou de 9,7% para 9,75% em 2015. Para o ano que vem, a estimativa também subiu, de 6,05% para 6,12%. Os analistas revisaram ainda a projeção de queda do Produto Interno Bruto (PIB) em 2015, de 2,97% para 3%. Foi a 14ª semana seguida de piora da estimativa. Para o ano que vem, a recessão esperada subiu de 1,2% para 1,22%.

IMPACTO NA POLÍTICA FISCAL

Para os economistas, o cenário político cercado de incertezas, a possibilidade de impeachment da presidente da República e os impactos da Operação Lava-Jato influenciam diretamente as projeções.

— É uma constante deterioração. O gatilho para a melhora seria uma retomada de confiança, mas a gente não consegue enxergar esse gatilho nos próximos meses — avaliou Rafael Bacciotti, economista da Tendências, que lembra que o desemprego já é algo generalizado e que isso alimenta o quadro de falta de confiança:

— A gente voltou a patamares de 2010. Em termos de desemprego, em um semestre, voltamos cinco anos — acrescenta Bacciotti.

Além disso, as perspectivas em torno da política fiscal agravam ainda mais o quadro inflacionário. Leal acrescenta que o BC tem pouco a fazer para coibir a tendência de alta da inflação, uma vez que a parte fiscal do país está desarrumada, com os gastos em tendência de alta.

— O problema do Brasil é a politica fiscal. Enquanto não resolver a questão fiscal, a gente vai continuar com esse problema de desancoragem nas expectativas de inflação de curto prazo. Resolvendo a política fiscal, você resolveria o problema dos juros, que poderiam cair, e também teríamos um dólar menos apreciado — disse, reforçando que, nesse sentido, uma reforma da Previdência é mais importante que a volta da CPMF.

A média das expectativas do mercado para a inflação do ano que vem está em 6,12%, mas já há instituições que preveem um IPCA de 6,5%, ou seja, no teto da meta. Quando há o descumprimento da meta, o presidente do BC envia uma carta aberta ao ministro da Fazenda justificando as razões de o objetivo não ter sido cumprido. Desde o início do sistema de metas da inflação, em 1999, isso ocorreu em 2002 e 2004.

OTIMISMO COM AS CONTAS EXTERNAS

Na avaliação de Felipe Sales, economista do Itaú Unibanco, o BC estará de olho nas expectativas de inflação e, se para o longo prazo elas se deteriorarem, a autoridade monetária pode ser obrigada a retomar o ciclo de alta dos juros.

— No nosso cenário, a Selic fica estável em 14,25% ao ano até o final do ano que vem. Mas, se de fato, por algum motivo, as expectativas de inflação para os prazos mais longos se deteriorarem, o BC pode ter que retomar a alta de juros — avaliou, lembrando que o Itaú espera um IPCA de 6,5% ao final do ano que vem.

Apenas em um aspecto há otimismo em relação à economia brasileira: as contas externas. A aposta para o déficit diminuiu pela sétima semana consecutiva. Passou de US$ 65,5 bilhões para US$ 65 bilhões, fruto de um dólar mais valorizado, que estimula as exportações. A reboque dessa recuperação, a entrada de investimentos estrangeiros deve ser maior. A expectativa subiu de US$ 61,5 bilhões para US$ 62,5 bilhões.

 



Veículo: Jornal O Liberal - PA

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