Economia
29/09/2015 09:37 - De saída da Bolsa
Doze empresas já pediram para fechar capital este ano. Bovespa cai 42% em dólar
A recessão e a perda do grau de investimento pelo Brasil levaram empresas de diferentes setores a desistirem de negociar suas ações na Bolsa de Valores. Este ano, 12 companhias já pediram para cancelar seu registro na Bovespa e, assim, fechar o capital, informa Ana Paula Ribeiro. Com as ações baratas, os controladores aproveitam para recomprá- las e evitar uma depreciação maior da empresa. O grupo inclui o BicBanco, a Souza Cruz e a Vigor. Este ano, a Bolsa brasileira perdeu 42% de seu valor em dólar. O mau momento no mercado deve levar o governo a adiar para 2016 a abertura de capital da Caixa Seguradora, prevista para novembro.
O governo pretendia arrecadar R$ 4 bilhões com a operação. Com o valor das ações das empresas listadas na Bolsa de Valores de São Paulo ( Bovespa) minguando a cada mês, devido à recessão da economia, cada vez mais administradores optam pela estratégia de fechar o capital. O movimento não se restringe a um setor específico: vai da indústria alimentícia a bancos. Só este ano, já foram aprovados na Comissão de Valores Mobiliários ( CVM) seis pedidos de fechamento de capital e cancelamento de registro, e outros seis estão em análise. No ano passado, apenas cinco registros foram cancelados. E a fila deve crescer. A Estrela, tradicional fabricante de brinquedos, ainda não registrou o pedido, mas pretende fazê- lo. Segundo o presidente da companhia, Carlos Tilkian, a curto prazo não se espera uma recuperação das ações nem do setor de brinquedos, prejudicado pelos anos de dólar em patamar baixo.
— Entendemos que, pelas regras da Bolsa hoje e pelo momento da companhia, faz mais sentido fechar o capital. Daqui a alguns anos, com uma mudança na economia brasileira e no setor de brinquedos, podemos voltar — disse.
Ao fechar capital, a Estrela espera economizar com as taxas de CVM, Bolsa, auditorias trimestrais e publicações de balanço e fatos relevantes. Além disso, a empresa quer evitar os custos de uma operação de aglutinação de ações, já que seus papéis caíram para menos de R$ 1 e há uma pressão da CVM para evitar a presença das chamadas penny stocks ( ações baratas demais) na Bolsa — outro fator que deve fazer com que mais companhias peçam o cancelamento de seus registros.
Já foram aprovados este ano os pedidos de cancelamento de registro de Cia. Objetivo, GTD Participações, Cia. Cacique de Café Solúvel, Brazil Hospitality Group ( BHG), Indústria Verolme ( Ivesa), Banco Industrial e Comercial ( BicBanco) e Souza Cruz — sendo que o fechamento de capital destas duas últimas já está em andamento.
A CVM ainda analisa os pedidos de Marina Iraas cema Park, Arteris, Companhia Celg de Particpações, Banco Daycoval, Redentor Energia e Vigor Alimentos. A Estrela ainda não registrou o seu.
No caso da Vigor, pesou ainda outra questão. A empresa participava do Novo Mercado, mas a pulverização de ações não estava enquadrada nos requisitos de governança corporativo exigidos. — Como tínhamos de sair do Novo Mercado, resolvemos fechar o capital. Na verdade, queríamos fazer um IPO ( oferta pública inicial de ações, na sigla em inglês), mas, diante das circunstâncias do momento no mercado internacional, esse projeto ficou para depois — afirmou o presidente da Vigor, Gilberto Xandô.
Na avaliação de Paulo Funchal, sócio da consultoria Grant Thornton, é natural que em momentos de crise aumente o número de pedidos de fechamento de capital, já que algumas companhias passam a achar que o mercado não vale mais a pena. Foi o caso da British American Tobacco, que decidiu fechar o capital da Souza Cruz em um momento de dólar alto. Na moeda americana, a Bolsa já perdeu neste ano 42,2% de seu valor.
Em muitos casos, empresas que anunciam o fechamento de capital estão com um valor muito aquém do seu recorde histórico. As ações da concessionária de rodovias Arteris, por exemplo, acumulam queda de 56,8% em relação a sua máxima histórica, em 22 de maio de 2013. Desde que anunciou o fechamento de capital, a empresa viu o valor de seus papéis subir 14,9%. Isso costuma acontecer quando os acionistas minoritários veem chance de o valor pago ficar acima daquele estipulado inicialmente pelo controlador — que costuma se basear no valor negociado nos pregões anteriores.
Outra operação utilizada pelos administradores é a recompra de ações. No ano, cerca de 70 já foram anunciadas, entre as quais Banco do Brasil e Ambev. Embora adotar essa estratégia não seja suficiente para recuperar de forma significativa o preço das ações, essa operação é vista como positiva do ponto de vista financeiro para as companhique possuem caixa. Isso porque vão comprar um papel que está em baixa, deixar em tesouraria e depois revender em uma situação melhor. — É uma janela de oportunidade do ponto de vista de gestão financeira, mas só para a empresa que tem caixa. Mas não adianta querer brigar com o mercado, que é muito maior que a empresa — disse Funchal.
Segundo especialistas, ainda vai demorar para o valor das ações no mercado brasileiro se recuperar. Mesmo aquelas consideradas sólidas e com perspectiva de crescimento estão sofrendo com o ambiente político.
Mas, se a curto prazo a incerteza é grande, a médio prazo a expectativa é que os investidores, em especial os estrangeiros, voltem a olhar para a Bolsa brasileira. James Gulbrandsen, sócio da gestora de recursos americana NCH Capital, diz que os estrangeiros estão atentos às oportunidades, que aumentaram depois do rebaixamento do Brasil pela Standard & Poor’s, pois este deixou o dólar mais caro e a ação em reais, mais barata. — Tem uma onda de dinheiro lá fora que quer investir no Brasil. Estão só aguardando a resolução da situação política — disse.
Os estrangeiros querem companhias com boa gestão e liquidez. E, como a Bolsa está barata para eles devido à valorização do dólar, é possível encontrar barganhas. Gulbrandsen cita o setor financeiro ( grandes bancos, Cielo e Cetip), Drogasil e Ambev.
Frederico Sampaio, diretor de renda variável da Franklin Templeton, concorda. Ele diz que, em meio à turbulência, o Brasil está muito barato. No ano, o saldo de estrangeiros na Bolsa está positivo em R$ 17,66 bilhões. No entanto, no acumulado do mês até o dia 24, há saída líquida de R$ 205 milhões.
Veículo: Jornal O Globo - RJ
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