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14/09/2015 09:29 - CNC prevê queda geral nas vendas

                  Demanda por profissionais acompanha crescimento do varejo, que é menor a cada ano, desde 2012, o que justifica a cautela.

A Confederação Nacional do Comércio (CNC) prevê que as vendas no Natal registrem a primeira queda desde 2004, quando a pesquisa foi iniciada. De acordo com o economista da CNC, Fabio Bentz, o resultado negativo do Natal reflete na contratação de empregos temporários para a data. “Há uma desaceleração das vendas no Natal desde 2012, quando o crescimento foi de 8,1%, seguido pela alta de 5,1% em 2013 e de 2% em 2014. O resultado negativo das vendas na data é certo este ano, e também consideramos a desaceleração para as vagas temporárias, que, em 2012, tiveram alta de 4,3%, em 2013, avançaram 3,8%, e, no ano passado, cresceram 1,8%, com geração de 146,3 mil postos de setembro a dezembro.”

De acordo com o economista da CNC, mesmo no pior dos natais, haverá geração de empregos temporários, contudo, em menor contingente. “O empresário fica cauteloso em investir em mão de obra, já que o investimento é alto, considerando o salário e os encargos. A efetivação também deve ser menor que nos outros anos, com, no máximo, 15%.” Fabio Bentz explica que todas as variáveis que fazem o consumidor ir às compras com mais vontade estão ausentes este ano. “A inflação ainda é alta. Embora tenha apresentado um alívio este mês, ele demora a ser sentido pelo consumidor. Essa inflação corrói a renda e a confiança do brasileiro, além das taxas de juros exorbitantes.”

O rebaixamento do grau de investimento do país pela Standard&Poors também influencia o Natal dos brasileiros, com a piora do mercado cambial e o encarecimento do crédito em breve. Infelizmente, não há mais tempo para recuperar esse quadro e este será o Natal das lembrancinhas, lembrando que, se o câmbio continuar subindo, a dataserá ainda mais contaminada, principalmente em relação aos produtos importados”, destaca.

Embora as entidades do comércio local ainda não tenham números fechados sobre a contratação de temporários no último trimestre, os economistas já avaliam a situação. De acordo com a economista Ana Paula Bastos, da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), “o cenário de desaceleração da atividade econômica e a retração das vendas no comércio refletem em uma contratação de temporários bem menor que a do ano passado. Infelizmente, neste ano, nem as datas comemorativas fortes conseguiram melhorar os resultados do comércio. Acredito que não haverá aumento de pessoal por parte dos lojistas, já que a mão de obra existente deve suprir a demanda do fim de ano. Os lojistas devem se preocupar mais em capacitar os funcionários atuais do que em investir em grandes contratações temporárias”, orienta.

Pesquisa da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Minas Gerais (Fecomércio-MG) revela que o empresariado de BH espera um segundo semestre melhor que o primeiro para o comércio varejista. “No entanto, a base comparativa do primeiro semestre é muito baixa, com um movimento fraco nas lojas. E, com o desaquecimento do mercado de trabalho, acredito que o empresariado fique limitado quanto à expansão do quadro de funcionários, principalmente considerando o aumento de custos e a baixa receita do momento. Mas acredito que o consumidor vá presentear, sim, no fim de ano, devido ao apelo emocional das datas, mesmo que o tíquete médio seja menor.”

Qualificação cai no ritmo da demanda

O Sindicato do Comércio Lojista de Belo Horizonte (Sindilojas-BH) realiza, todo ano, um banco de dados com a demanda dos lojistas e as ofertas dos candidatos às vagas temporárias, cruzando os dados para melhor atender aos perfis demandados. Segundo o presidente Nadim Donato, o Sindilojas-BH forma ainda turmas para treinamento gratuito da mão de obra. “Nesta época do ano, já estaríamos com grandes turmas formadas, mas a realidade, este ano, é outra. A demanda dos lojistas da capital está muito fraca e percebemos que a contratação de temporários pode ser um fracasso. Em outros anos, fazíamos ainda treinamentos para que as pessoas fossem efetivadas nos cargos, mas a procura do comerciante por candidatos demonstra a desaceleração do comércio.”

A diretora de Comunicação da Associação Brasileira do Trabalho Temporário
(Asserttem), Michelle Karine, destaca que o mercado de trabalho no país está desacelerado, tanto para os efetivos quanto para os temporários, mas lembra que a contratação de temporários pode ajudar a driblar a crise. “Em momentos de incertezas na economia, fica difícil para a empresa investir em despesas fixas, sem saber ao certo o que vai acontecer. Nesse sentido, considerando uma possível demanda, como ocorre no fim do ano, principalmente próximo ao Natal, o trabalho temporário é a alternativa mais efetiva, rápida e reversível. Como a maioria do empresariado reduziu ao máximo o quadro de pessoal ao longo do ano, devido à crise econômica e aos resultados negativos do varejo, e está, neste momento, trabalhando com o mínimo de mão de obra, qualquer sinal de melhora deve ser suprido com os temporários”, explica.

Michelle Karine lembrou ainda que dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT) mostram que o trabalho temporário foi uma das ferramentas usadas pelo governo norte-americano na crise de 2009 e que ajudou o país a superar a crise. “O trabalho temporário pode gerar reações positivas na economia e no desenvolvimento socioeconômico. Ele permite, por exemplo, que o governo melhore a arrecadação de tributos fiscais gerados pelas agências de recrutamento, além do FGTS e INSS. E ainda ajuda na qualificação do trabalhador, garantindo uma renda adicional. E, mesmo que o funcionário não seja efetivado nesse momento, vale a experiência pelo marketing pessoal e para possibilidades futuras.” Segundo dados da Asserttem, até 2014, a média, no Brasil, era que um em cada quatro trabalhadores temporários fosse efetivado. Mas a diretora da associação também prevê para 2015 menor expectativa de efetivação do que ano passado.

 



Veículo: Jornal Estado de Minas - MG

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