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08/09/2015 09:50 - Crise faz paraense consumir menos e mudar alimentação

                                                        Falta de dinheiro e preços altos impõem procura por produtos mais em conta.

Nos últimos meses, o consumidor viu sua renda ser corroída pelo aumento dos preços e seu poder de compra diminuir com o avanço das semanas. Diante desse cenário, os hábitos se alteram, medidas como corte de gastos na compra de supérfluos, redução de idas aos locais de vendas e opção por itens mais baratos, além de racionamento das aquisições estão cada vez mais comuns. A reportagem ouviu feirantes, consumidores e gerente de supermercados em Belém para levantar o que mudou na rotina do consumidor ante a alta dos preços.

Empregada doméstica, Zenilde Machado, 45 anos, mãe de um casal de filhos, mora somente com a filha, de 23 anos, que é mãe solteira, nunca trabalhou e tem duas crianças, de 7 anos e 4 meses. De acordo com ela, “tudo aumentou”. Na lista de vilões ela inclui o tomate, a cebola e o peixe. “Em casa, estamos comendo mais frango’’, disse Zenilde. Para ela, a carne está “salgada”.

Já na casa da família em que ela trabalha há 22 anos, na travessa Antônio Baena, ela contou que também houve redução nas compras dos itens de alimentação. A família é pequena: mãe e filha apenas. Na sexta-feira, 4, Zenilde comprava para a citada família dois quilos de pescada amarela por R$ 60 na Feira da 25. “Está R$ 30 o quilo da pescada. Antes, era R$ 20, no máximo R$ 25”, comentou a empregada doméstica.

Aposentada do serviço público federal, Adna Costa, 60 anos, disse ser cliente fiel de um mesmo supermercado em São Brás. Segundo a dona de casa, o que mais subiu de preço nos últimos tempos foram as frutas e as verduras. Mãe de um casal de filhos, Adna mora apenas com a filha solteira, que trabalha, e mantém uma empregada doméstica.

“Minha filha adora couve-flor, brócolis, frutas, mas tudo está caro. Eu tenho diminuído mesmo a quantidade, estou há nove anos sem reajuste, então o poder de compra cai. Sobe o valor do gás, gasolina, energia, e o salário nada. Como é que se vive assim? Cortei o restaurante aos domingos, gostava de almoçar no Parque da Residência, ficar olhando a natureza, não fui mais. Fico de olho na empregada: ‘Não faz muita comida, faz pouco, não deixa estragar, olha, o desperdício’, digo todo santo dia’’, contou Adna Costa.

Sobre o fim de semana prolongado, com o feriado do Dia da Independência, amanhã, 7, ela assinalou: ‘’Se eu pudesse, iria viajar para Marudá, Salinas, mas não dá, e olha que é início de mês, mas se você não se encaixar, entra no cheque especial e aí já viu...’’, concluiu a aposentada.

“Normalmente, não deixo de comprar, diminuo a quantidade. Mas, se acho que está demais, aí não compro’’, disse a comerciante Núbia Sá, que é de Santarém, mas está de férias em Belém, na companhia do marido , Washington do Vale. Ela fazia compras na ’Feira da 25, na Avenida Romulo Maiorana, na sexta-feira, 4.

“Ela regra tudo’’, entregou o marido de Núbia. O casal disse ter observado o aumento nos preços de diversos produtos da alimentação, tanto em Santarém, como em Belém. Em Santarém, Núbia frequenta o Mercadão 2000, feira popular da cidade, e afirma ter muita cautela na hora de decidir o que levar para casa.

“Compro mais na feira, é mais em conta que no supermercado. Eu adoro ameixa, era R$ 8 o quilo, está R$ 11, nesse caso, não levo’’, garantiu ela, que também viu aumentos nos preços de outra fruta que gosta, o abiu, e também no maço de cheiro verde e no leite. “O abiu era R$ 11 o quilo, está a R$15. O cheiro verde, no ano passado, comprei até por R$ 75 centavos o macinho, agora custa R$ 1,50,00 e R$ 2,00,’’ disse Núbia.

Supermercado baixa preço para segurar os clientes

Diante da alta dos preços, da diminuição da reda e do aumento do desemprego, os supermercados tentam segurar os clientes e o nível de vendas. O gerente de um estabelecimento localizado no bairro de São Brás, Josiel Vasconcelos, 44 anos, há 30 trabalhando na mesma empresa, enfatizou que o supermercado faz pesquisas de preços junto à concorrência, para ter ofertas mais atraentes.

“A gente trabalha semanalmente com pesquisas com foco na concorrência, levanta os preços praticados e aí faz um esforço para oferecer preços mais baratos, para garantir as nossas vendas’’, disse Josiel Vasconcelos.

Sobre quais produtos tiveram quedas nas vendas por conta dos aumentos de preços, o gerente informou que diminuiu principalmente a saída de bebidas importadas nas últimas semanas. Quanto ao movimento de compra e venda nas últimas semanas, em geral, Josiel Vasconcelos se disse satisfeito. “A gente achava que ia cair mais, mas graças a Deus, a gente não tem problemas, ocorre que tem de ver que essa semana é véspera de feriadão e sempre a gente vende muito bem nessas épocas. O movimento está bom esta semana’’, garantiu o gerente.

Pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos do Pará (Dieese/PA), divulgada na sexta-feira, 4, revelou que a cesta básica consumida pelos paraenses apresentou recuo de preços. A baixa foi registrada pelo segundo mês consecutivo no Estado.  Em julho, os alimentos ficaram 4,76% mais baratos em relação a junho, cenário influenciado pelas quedas verificadas no tomate, na farinha de mandioca e na banana. Entretanto, no balanço dos primeiros oito meses de 2015, o preço da alimentação dos paraenses continua em alta e com reajustes acima da inflação.

Supervisor técnico do Dieese/PA, Roberto Sena explica que a trajetória de preços da alimentação básica dos paraenses, nos últimos 12 meses, mostra reajuste acumulado de quase 11%. No período analisado, a grande maioria dos produtos básicos tiveram aumentos, os mais expressivos foram: tomate, com alta de 27,23%; manteiga, com alta de 21,42%; carne bovina, com alta de 20,12%. A inflação estimada para o mesmo período fica em 9,50%. Vale ressaltar, porém, que nos últimos 12 meses, alguns produtos básicos da mesa dos paraenses apresentaram quedas de preços, com destaque para o açúcar, com queda de 9,34%; da banana, com recuo de 2,33%; da farinha de mandioca, com queda de 2,09%; e o óleo, que caiu 1,72%.

 


Veículo: Jornal O Liberal - PA

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