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22/07/2015 10:28 - Meta fiscal deve ser reduzida a 0,15% do PIB

                                  Número final será divulgado hoje, após sinal verde de Dilma. Equipe econômica não descarta mais corte de gastos



Presidente Dilma mudou de ideia e deu sinal verde para reduzir esforço fiscal de 1,13% para 0,15%. - BRASÍLIA- A contragosto, a presidente Dilma Rousseff deu o sinal verde para que a equipe econômica reduza imediatamente a meta de superávit primário ( economia para o pagamento de juros da dívida pública), o que deve ser anunciado hoje, quando será divulgado o relatório de receitas e despesas do terceiro bimestre. Nos últimos dois dias, a presidente analisou com os ministros da Fazenda, Joaquim Levy, e do Planejamento, Nelson Barbosa, o desempenho da arrecadação tributária até agora. Concluiu que um esforço fiscal de R$ 66,3 bilhões, ou 1,13% do Produto Interno Bruto ( PIB), não é mais possível. As reuniões para tratar do assunto se estenderam até tarde da noite de ontem e, segundo fontes, os cálculos apontavam para um primário de 0,15% do PIB, com um corte adicional de gastos.

No entanto, a presidente mudou de posição após ouvir de técnicos da equipe econômica que a manutenção de um superávit primário de 1,13% do PIB não seria viabilizada apenas com uma estimativa maior de receitas extraordinárias. Seria preciso também fazer um forte contingenciamento adicional de despesas. Esses gastos já receberam uma tesourada de quase R$ 70 bilhões em 2015. Diante disso, o novo relatório bimestral de receitas e despesas deve trazer estimativas já considerando uma meta de superávit primário mais baixa. Também é possível que seja enviado logo ao Congresso o próximo passo: um novo projeto de lei propondo a diminuição do esforço fiscal para o ano.

LEVY INDICA QUE HÁ ESPAÇO PARA CORTAR DESPESAS

Segundo um auxiliar, a presidente Dilma demonstrou preocupação em contar com um valor excessivo de receitas extraordinárias que, no futuro, poderiam levar o governo a ser acionado por manobras fiscais, como já está ocorrendo no Tribunal de Contas da União em relação às contas de 2014, por causa das “pedaladas”.

Com isso, prevaleceu no Palácio do Planalto o argumento defendido pelo ministro do Planejamento de que era precisa sinalizar o mais rapidamente possível ao mercado que o resultado de 1,13% do PIB não será atingido. Levy não se opunha à redução, mas queria que ela ocorresse mais à frente para dar ao governo tempo para buscar receitas. Assim, o resultado do ano ficaria o mais próximo possível da meta, de acordo com essa visão.

Para evitar a leitura de que a redução da meta representaria sua derrota, Levy desceu ontem ao comitê de imprensa para uma conversa de quase meia hora com os jornalistas, em que tentou justificar sua posição, sinalizando nas entrelinhas que a meta seria ajustada, mas sem descontinuidade da política econômica. Sem confirmar se o esforço fiscal seria reduzido, disse que uma mudança de meta não significa o fim do ajuste e ressaltou que os números precisam ser tratados com realismo.

Segundo Levy, o cenário econômico mudou, e o governo estaria avaliando todos os indicadores para conduzir a política econômica com “vigor e realismo”. O ministro reiterou que é ilusão acreditar que a redução da meta levará ao fim do ajuste fiscal e destacou que o assunto estava sendo tratado pelo governo “com responsabilidade, transparência e harmonia”.

— O que a gente tem que fazer agora é trabalhar para retomar o crescimento. (...) Qualquer coisa que a gente faça tem que ser no contexto de continuar construindo as condições para o crescimento. Mudar a meta não significa que acabou o ajuste. Vai ter que continuar fazendo o ajuste e acelerar as medidas de crescimento — afirmou Levy. — A gente tem que continuar trabalhando na economia, se a meta éA, B, C ou D, ela é o que a gente acha que é realista, factível.

O ministro da Fazenda disse que o governo continuará perseguindo novas fontes de receita e também indicou que ainda há algum espaço para cortar despesas. Nos bastidores, a negociação em torno do novo relatório considerou cortes entre R$ 10 bilhões e R$ 20 bilhões. Segundo ele, “com discricionalidade”, há margem para enxugar gastos.

— Tem de fazer um trabalhinho de contingenciamento. Tem de fazer o que tem de fazer. Talvez tenha de cortar um pouquinho de despesa e pronto. Eu não sei se vai ser expressivo. A situação não está tranquila. Tenho sinalizado isso com meu jeitinho. Vamos tomar as medidas que achamos que são cabíveis. Sem muito drama — disse o ministro.

‘ ALGUÉM ESTÁ ACHANDO FÁCIL?’

Perguntado se defendia a manutenção da meta em 1,1% do PIB, Levy afirmou que nunca se expressou sobre esse assunto. E quando foi perguntado se reduzir esse objetivo não seria uma sinalização negativa para o mercado, respondeu:

— Depende da estratégia do que você está construindo. A situação fácil não é. Alguém está achando fácil? A gente já disse que é fácil? (...) A gente está fazendo tudo direitinho. A gente explica por que que caiu a receita. A gente vai conduzindo as coisas de forma bem transparente.

Levy frisou que o relatório refletirá a realidade, ou seja, o que aconteceu com as receitas. O governo perdeu mais arrecadação que o esperado por causa da recessão econômica. Só no último bimestre, a diferença entre a arrecadação prevista no Orçamento e a efetiva chega a R$ 13 bilhões.

O ministro disse ainda que o relatório considerará “alguma coisinha” dos bilhões que devem entrar nos cofres públicos por causa da abertura de capital da Caixa Seguradora e do IRB ( ex- Instituto de Resseguros do Brasil). Os recursos representam parte das receitas extraordinárias que o governo espera arrecadar para fechar as contas.

— A mensagem é que a gente continua tendo uma estratégia fiscal que responde a circunstâncias, mas garante os nossos objetivos, tá certo? É uma composição, como sempre. A economia desacelerou não tanto por causa do ajuste, mas por coisas que já haviam ( ocorrido). E agora a gente está tomando as medidas cabíveis para fazer a travessia. Estamos fazendo tudo que é necessário para esta meta — disse Levy, ao se referir ao objetivo de 1,1% do PIB.




Veículo: Jornal O Globo - RJ

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