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25/06/2015 12:15 - Retomada de investimento no País deve ocorrer em dois anos

                                   No longo prazo. De acordo com especialistas, em diferentes metodologias, entrada de capital estrangeiro em 2015 deve recuar no Brasil, mas mercado interno voltará a ser atrativo




São Paulo - A retomada do ingresso acumulado de investimentos estrangeiros diretos (IED) no Brasil deve vir somente em meados de 2017, de acordo com especialistas. A expectativa deles é que neste ano, esse fluxo de recursos recue.

De acordo com Luís Afonso Lima, diretor presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), com base na metodologia da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad, na sigla em inglês), a previsão é de que a entrada de IED caia de US$ 62,5 bilhões registrados no ano passado, para US$ 55 bilhões. "Acreditamos que fique neste patamar em 2016 e até 2017", afirmou ao DCI.

Se confirmada o montante de 2015, seria mais um ano de retração do ingresso de IED. Ontem, o diretor da Sobeet apresentou o resultado do relatório World Investment Report 2015 (WIR 2015), que revelou uma queda de 2,3% nessas entradas no Brasil em 2014, comparado a 2013, quando registrou quase US$ 64 bilhões.

Já para o presidente da Fractal, Celso Grisi, com base em dados do Banco Central (BC) do Brasil, a estimativa é de que o ingresso desses recursos internacionais diminua de US$ 96,9 bilhões, para US$ 70 bilhões. Mas para 2016, ocorra ligeira retomada para US$ 74 bilhões. "O clima atual para receber investimentos é ruim. Houve até um movimento positivo em alguns meses. Mas a sinalização é de que o Brasil não volte a receber investimentos como antes", explica.

Por outro lado, Grisi entende, assim como o economista e membro do Conselho Federal de Economia (Cofecon), Antonio Correa de Lacerda, que o Brasil continuará a ser destaque na América Latina. A participação brasileira é de 40% do fluxo total de IED para a região.

O presidente da Fractal afirma que, apesar dos problemas que investidores estrangeiros encontram no Brasil, tal como o complexo sistema tributário, o mercado nacional apresenta vantagens, como um consumo da população em potencial.

"O investidor internacional não olha a atual conjuntura, mas sim o cenário a longo prazo. E temos ainda um grande mercado e necessidades, como em melhorar nossa infraestrutura", comentou Lacerda, durante a apresentação do WIR 2015 à imprensa brasileira, na sede da Sobeet, em São Paulo.

Fatos negativos

De acordo com o relatório da Unctad - apresentado ontem em diferentes países -, o declínio de investimentos no Brasil foi impulsionado por uma queda no setor primário (representado pelas extrações de petróleo e gás natural e de minério), de 58%, para US$ 7 bilhões. A queda dos preços de commodities foi o fator da diminuição de ingresso de IED não só aqui, mas também em países emergentes, segundo Afonso Lima.

Por outro lado, os fluxos na indústria e serviços no Brasil subiram 5% e 18%, para US$ 22 bilhões e US$ 33 bilhões, respectivamente. O IED para os veículos motorizados, na indústria, registrou o maior aumento em termos absolutos (de US$ 1,4 bilhão) e atingiu um montante total de US $ 4 bilhões, colocando este segmento entre os quatro maiores setores beneficiários em 2014, após comércio (US$ 6,8 bilhões), Telecomunicações (US$ 4,2 bilhões), e de extração de petróleo e gás (US$ 4,1 bilhões dólares).

No entanto, no que diz respeito ao Brasil como investidor, o cenário é oposto. O País foi o último no ranking da América Latina no ano passado, com um déficit de US$ 3,5 bilhões, o quarto consecutivo.

Enquanto entre os "recebedores" de recursos, o Brasil está na quinta posição - em 2009 estava na 12ª colocação -, como investidor nem aparece entre as 20 nações principais.

Já o Chile, em 2014, foi o destaque positivo em entrada de IED (com alta de 38%, para US$ 22,9 bilhões, comparado a 2013), assim como em investir em outros países (acréscimo de 71%, para US$ 13 bilhões).

"Porém, o Brasil possui um grande número de empresas que são tradicionais investidores externos, sendo o caso mais recente da JBS. Portanto, somos capazes de investir em outros países", avalia Grisi.

Na América Latina, houve queda de 18% desses investimentos no exterior entre 2013 e 2014, para US$ 23 bilhões. O mesmo ocorreu no caso das entradas, de 14,4%, para US$ 159,4 bilhões, a primeira depois de quatro anos seguidos de alta.

Além dos preços mais baixos das commodities, a redução das operações de fusões e aquisições na América Central e Caribe foi responsável pelo resultado do fluxo negativo de recursos para a região. "A atual desaceleração nos fluxos de IED para o local é motivo para reflexão. No contexto da agenda de desenvolvimento após 2015, os formuladores de políticas podem considerar potenciais opções políticas sobre o papel do IED para o desenvolvimento da região", sugere a Unctad no relatório referente a dados de 2014.

Ao participar da exposição do WIR 2015 no Brasil, o diretor do departamento de assuntos financeiros e de serviços, Embaixador Carlos Márcio Bicalho Cozendey, informou que o Brasil está intensificando as negociações para novos acordos de cooperação e facilitação de investimentos (ACFI). "Estamos em negociação avançada com a Colômbia, e iniciamos as conversas com Chile e Peru, e temos a intenção de tratar do tema como países do Norte da África", afirmou. Neste ano, foram assinados ACFIs com México, Angola e Moçambique.

Cozendey explicou que esses acordos se referem aos Acordos de Promoção e Proteção de Investimentos (APPIs), concebidos no início da década de 90, mas que foram negados pelo Congresso Nacional, por não estarem de acordo com as regras brasileiras. Segundo o embaixador, a tentativa agora, após mudanças nas cláusulas dos acordos, é de que esses tratados sejam aceitos politicamente. Com a consolidação dos já aprovados, ele espera que o Brasil possa avançar as negociações com países desenvolvidos.

No mundo

O WIR 2015 revelou que, de modo geral, o fluxo de investimentos estrangeiros diretos no mundo recuou 16,3% em 2014, para US$ 1,23 trilhão, devido "principalmente pela fragilidade da economia global, incertezas entre investidores e uma geopolítica elevada de riscos", conforme a Unctad.

Neste cenário, a China, país em desenvolvimento, passou a ser a primeira no ranking de entrada de IED, ao passar de US$ 124 bilhões para R$ 129 bilhões, ente 2013 e o ano passado. Os Estados Unidos registraram ingresso de US$ 92 bilhões, uma queda de 60%, nesta mesma base de comparação. No entanto, esse país é o primeiro colocado como investidor, com US$ 337 bilhões em 2014.



Veículo: DCI

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