Economia
18/02/2015 10:33 - Carnaval movimenta economia em Belo Horizonte
Quantidade de pessoas que brincam no carnaval na cidade aumentou 2.000% entre 2009 e 2014. Percentual mostra como a festa mais popular do país ganhou importância para a economia da cidade
Na última quinta-feira, enquanto uma multidão curtia os batuques do Moreré, um dos 200 blocos cadastrados para desfilar no carnaval de Belo Horizonte, Fernando Morais concentrava sua atenção nos banheiros químicos espalhados no entorno da Avenida Brasil, no Bairro de Santa Efigênia, onde o grupo se apresentou. Ele é sócio da BH Locações, uma das centenas de empresas que lucram em razão do crescimento da festa na capital mineira nos últimos anos. “Há um número maior de gente a cada edição”, comemora. A quantidade de pessoas que brincam no carnaval na cidade aumentou 2.000% entre 2009 e 2014, de 50 mil homens e mulheres para 1 milhão, incluindo nessa conta crianças e adultos. Para 2015, a prefeitura municipal estima universo de 1,5 milhão de moradores e turistas. O percentual mostra como a festa mais popular do país passou a ter grande importância para a economia da cidade.
Tanto o poder público quanto as entidades ligadas ao comércio e ao setor de serviços não têm uma estimativa de quanto a folia injeta na economia da capital. Tradicionalmente, segmentos como bares e hotéis são os que mais lucram com o evento, mas empresas de diversos ramos também se beneficiam com a cifra desembolsada por turistas e moradores. O carnaval fomenta, também, o emprego, mesmo que temporário. Fernando Morais, da BH Locações, precisou admitir cinco trabalhadores para atender à demanda. Além deles, contratou uma empresa especializada em sucção de dejetos.
O aluguel diário de um banheiro químico custa, em média, R$ 80. “Vou ter um bom lucro. O melhor é que consegui concentrar meus serviços em BH. No ano passado, atendi muito no interior, trabalhando em Ouro Preto, Itaguara, Itaúna e Pompéu, entre outras cidades. O carnaval em BH está aquecido. As pessoas estão satisfeitas”, disse Fernando, que também aluga gradis para o evento. Cada peça, de 2,5 metros, é alugada por R$ 10 por todo o período da folia. Outras empresas lucram com tendas (R$ 600 para toda a festa) e mesas e cadeiras (aluguel diário de R$ 6 pelo conjunto). Os próprios blocos também injetam quantias consideráveis em empresas da cidade.
O Moreré, por exemplo, encomendou 100 camisas a uma fábrica da capital. “São R$ 1,4 mil”, calculou Helder Quiroga, um dos fundadores do grupo. O bloco revende por R$ 30 cada unidade. A diferença em relação ao preço de custo é revertida em atividades sociais e em medidas de proteção ao meio ambiente. “Neste ano ajudamos a trazer 11 catadores de latas de cerveja e refrigerantes. Além de ajudar na reciclagem dos objetos, o bloco contribui para a economia solidária”, completou Helder. Integrantes do grupo também encomendaram pequenos adesivos em forma de coração para decorar os rostos dos foliões que acompanharem o bloco.
Os foliões, aliás, estão lotando tanto os eventos em vias públicas quanto em festas privadas, como clubes. Bom para José Araújo Júnior, dono da Juninho Araújo Produções. Ele fechou alguns eventos particulares em clubes. Ganhará R$ 700 pelo aluguel de um equipamento de som. O valor inclui a animação de um DJ. Ele promove eventos de todos os portes. “O aluguel de um equipamento para uma banda, dependendo do conjunto, oscila de R$ 8 mil a R$ 17 mil para todos os dias do carnaval”, conta o rapaz. A demanda pelos serviços da empresa para este carnaval deverá ser em torno de 70% superior à registrada em 2014.
Vendas em dobro de cerveja nas ruas
A venda de cerveja é como um capítulo à parte no histórico dos ganhos dos prestadores de serviços com o carnaval. Ambulantes estão lucrando com a animação dos desfiles dos blocos em BH. Um deles, que prefere ter o nome preservado por não ser cadastrado pela Prefeitura de BH para trabalhar durante a folia, disse que as vendas praticamente dobraram em relação às de 2014. “Não nos deixaram entrar nesse espaço (o da Avenida Brasil), mas estou vendendo mais do que no ano passado.”
Bares e restaurantes também se prepararam para aumentar o faturamento. Tanto é que alguns empreendimentos estenderam o horário de funcionamento. É o caso da unidade do bairro Cidade Nova do Xico da Carne, que nos dias úteis abre as portas às 17h e resolveu antecipar o horário para as 11h. A casa investiu R$ 5 mil em projetos direcionados à folia.
Uma das apostas para atrair a clientela será destinada às crianças, como confecção de máscaras e construção de instrumentos musicais com materiais reciclados, conta o diretor da rede, Rodrigo Nascimento. “Resolvemos investir nas atividades lúdicas para atrair toda a família. Ainda mais agora que BH tem muitas opções para o carnaval”, diz o comerciante. Ele acredita que a unidade irá aumentar as vendas em cerca de 20%. Os bares e restaurantes na Região Centro-Sul da cidade, onde desfilam boa parte dos blocos, devem registrar crescimento maior.
A seção mineira da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) estima expansão de 30% das vendas frente a 2014. O diretor-executivo da entidade, Lucas Pêgo, destaca que a expectativa do setor é faturar 70% mais na comparação com o carnaval sete anos atrás. O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de BH (CDL-BH), Bruno Falci, também destaca o aumento dos foliões em BH. Para ele, o carnaval da capital foi reinventado, contribuindo para as vendas do comércio e o desenvolvimento da economia local.
Veículo: Estado de Minas
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