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15/12/2014 09:20 - Natal de preços salgados e ceia mais magra

Alimentos típicos da data sobem 8,38%. Supermercados oferecem cestas prontas para driblar vendas fracas

 



No ano em que o consumo patina, os supermercados mostram gôndolas cheias de produtos natalinos, mas ainda procuram-se consumidores. A pouco menos de duas semanas para o Natal, as principais redes de supermercados e hipermercados cariocas lançam promoções e ampliam os serviços customizados para tentar atrair os clientes. Em que pese as vendas do varejo terem se recuperado em outubro, analistas ainda veem um fôlego curto para as vendas neste ano. E os preços continuam em alta. Levantamento do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV) para O GLOBO mostra que, em 2014, os itens que compõem a ceia, como carnes, castanhas e vinhos, estão 8,38% mais caros que no Natal passado. É uma alta maior do que a inflação pelo IPC/FGV, que tem avanço de 6,81% no período.

A maior alta nos preços é registrada nos produtos in natura, fundamentais para o preparo da ceia como a cebola, que sobe 43,76%, e o abacaxi, que está 30,12% mais caro. Frutas cristalizadas são uma opção também mais cara este ano, com alta de 16,46%. Quem planeja abrir uma garrafa de vinho para acompanhar a ceia vai gastar, em média, 11,89% mais. O pernil sobe 18,26% em relação ao ano passado, e o lombo suíno, 13,06%.
Mas a alta de preços não é generalizada. O bacalhau está 4,48% mais barato que em 2013. O panetone teve um aumento de apenas 2,75%. O quilo da castanha portuguesa ficou praticamente estável, ao contrário de nozes, avelã e uvas passas.

— A oferta e a multiplicidade de marcas pode explicar a diferença na dinâmica dos preços do vinho, que sobem acima da inflação, e do bacalhau, que recua — afirma o economista André Braz, da FGV.


MUITO ALÉM DA RABANADA

Há anos exploradas por restaurantes e delicatessens, as ceias prontas de Natal estão ampliando o espaço nas redes de supermercados. A promessa é ir além das rabanadas e facilitar a vida dos clientes. A rede Zona Sul prevê um aumento de 3,5% nas vendas, oferecendo dois tipos de ceias e até 25 tipos de kits e cestas de presente, que chegam a R$ 1.149,99, e que levam a assinatura de um chef francês.

— Queremos mirar os presentes e facilitar a vida para o consumidor — afirma Pietrangelo Leta, vice-presidente comercial da rede.

O Zonal Sul já recebeu cem encomendas de ceias e quer ver esse número multiplicado por três na próxima semana.
As redes Extra e Pão de Açúcar apostam em promoções de produtos natalinos, e, além de pratos prontos, oferecem duas modalidades de ceias prontas para famílias de quatro ou seis pessoas, que podem incluir ainda produtos não necessariamente ligados à ceia, como torta de palmito.

A rede atacadista Assaí apresenta campanha própria para o Natal, com possibilidade de pagamento parcelado em até três vezes sem juros no cartão de crédito para compras acima de R$ 50.
Além da oferta de kits, Leta, do Zona Sul, conta que este ano a rede antecipou a compra de importados para driblar a valorização do dólar. No ano passado, o Zona Sul já tinha tido problemas com uma greve no porto que atrasou o desembaraço de contêineres.

— Abrimos mão de aumentar o volume de estoque. Chegamos a nos antecipar nas compras, porque havia uma previsão de câmbio oscilante para estoque interno. Azeites, vinhos, lichia e bacalhau estão com preços muito parecidos com os do ano passado — afirma Leta.

NA MESA, HORA DAS SUBSTITUIÇÕES


Os consumidores também avaliam estratégias na hora de comprar. Como abrir mão da ceia não está em discussão, a saída encontrada pelo casal Claudia e Jorge Felício foi reforçar a pesquisa de preços e estocar produtos ao longo do segundo semestre.

— Deixei para comprar agora o peru e o bacalhau, mas o azeite e o leite condensado já venho comprando há muito tempo e sem ligar muito para marca — afirma Claudia.
A dona de casa Leda Regina Balbino faz questão de três coisas: bacalhau, chester e tender. Ela conta não ter visto diferença de preços entre as redes até agora, mas acha que podem surgir promoções até o Natal.
— Natal é inegociável, não tem jeito. Vou fazer tudo, apesar de achar que os preços aumentaram — afirma.
A nutricionista Bia Rique, chefe do Serviço de Nutrição da 38ª Enfermaria da Santa Casa da Misericórdia, recomenda algumas substituições para não pesar no bolso e apostar numa dieta saudável, como trocar as frutas cristalizadas por frescas e o peru por chester ou por um frango inteiro. Segundo o levantamento do Ibre/FGV, o preço do frango caiu 10,06%.

— O pêssego, o abacaxi e as cerejas em calda também não são tão necessários assim. No máximo, um pouquinho para a decoração — afirma.

Outra dica da nutricionista é inovar nas receitas, substituindo postas de bacalhau pelo peixe desfiado.
— Com 300 gramas, podemos servir até cinco pessoas em um suflê de bacalhau com legumes. Fica mais barato e mais saudável — afirma.

Se a ceia ficou mais cara, os presentes de Natal subiram menos que a inflação este ano. O levantamento do Ibre/ FGV mostra que os presentes tiveram reajuste médio de 4,08%.

— Apesar de os presentes terem avançado menos que a inflação, televisores, se financiados, podem subir muito de preço. A dica é comprá-los à vista para fugir das taxas de juros embutidas nos preços — afirma Braz.
— Em época de vaca gorda, os presentes dados são celulares, mas este ano vai ser o do presentinho, e ainda tem o dólar disparando — afirma Carlos Thadeu de Freitas, da Confederação Nacional do Comércio (CNC).




Veículo: O Globo - RJ

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