Por Tainara Machado | De São Paulo

Após quatro meses consecutivos de queda, a produção industrial deve voltar a subir em julho, de acordo com economistas consultados pelo Valor. Sem o "efeito Copa", que reduziu o número de dias úteis no mês anterior, a maioria dos indicadores de atividade da indústria mostrou variação positiva na passagem mensal, mas em magnitude insuficiente para compensar a deterioração observada nos períodos anteriores. Além disso, a confiança em baixa e o nível de estoques ainda elevados limitam a capacidade de retomada do segmento, afirmam analistas.

De acordo com a média das projeções de 17 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data, a produção industrial aumentou 0,5% em julho, após ter encolhido 1,4% no mês anterior, feitos os ajustes sazonais. As estimativas para a Pesquisa Industrial Mensal - Produção Física (PIM-PF), a ser divulgada hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), vão de queda de 0,5% até alta de 1,2% no período.

Para Rafael Bacciotti, economista da Tendências Consultoria, julho foi um pequeno "respiro" depois de quatro meses seguidos de queda da produção industrial. Bacciotti estima alta de 0,6% da atividade manufatureira no mês, e atribui essa melhora principalmente ao fim da Copa do Mundo, que reduziu as horas trabalhadas ao longo do mês anterior. O economista, porém, pondera que esta é uma alta sobre uma base de comparação bastante baixa.

Entre os indicadores que sinalizam alguma recuperação do setor em julho, Bacciotti destaca a produção de automóveis, que aumentou 10,3% em relação a junho, de acordo com dados da Anfavea, que reúne as montadoras instaladas no país, dessazonalizados pela consultoria.

O fluxo de veículos pesados em rodovias pedagiadas, medido pela Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR) em parceria com a Tendências, também aumentou 3,3% na passagem mensal. Outros indicadores com evolução positiva no período foram o consumo de energia elétrica pela indústria, que cresceu 1%, e a expedição de papel ondulado (+ 5,4%), sempre de acordo com os dados com ajuste sazonal da Tendências.

Ainda que as altas pareçam expressivas, Bacciotti afirma que são insuficientes para reverter a queda observada no último mês do primeiro semestre. Por isso, diz, é possível que julho marque uma retomada apenas pontual da indústria, sem reversão da tendência de deterioração da atividade no setor observada ao longo deste ano.

Flavio Serrano, economista-sênior do BES Investimento, também avalia que os indicadores antecedentes sugerem alta da produção industrial em julho, embora não pareça um movimento duradouro. "É um crescimento em cima de uma base muito fraca, parece algo momentâneo", afirma o economista, que projeta alta de 0,8% do segmento na passagem mensal. Em sua avaliação, este não seria um desempenho ruim da indústria, mas dado o contexto, as perspectivas não são muito animadoras.

"Os primeiros sinais para agosto não são positivos", afirma. A Sondagem Industrial da Fundação Getulio Vargas (FGV) mostrou a oitava queda seguida da confiança no período, com retração de 1,2% em agosto, enquanto os estoques subiram.

Para Serrano, é pouco provável que o setor volte a aumentar produção no terceiro trimestre, até por causa de um efeito estatístico, já que a queda entre abril e junho deixou uma "herança" negativa para o trimestre seguinte.

Bacciotti, da Tendências, estima alguma melhora da atividade industrial entre julho e setembro deste ano, embora ainda prefira observar mais dados para fazer projeções para o período. De todo modo, diz, é esperada alguma melhora do ramo de bens de capital, com a normalização das linhas de financiamento do BNDES ao ramo de veículos pesados.

Para o economista, o segmento de bens duráveis também dá sinais de melhora. "Com alta da produção nesses segmentos, é possível que a indústria volte a subir", afirma Bacciotti. Ainda assim, afirma, a estimativa é de retração de 2% da produção industrial no ano.

Veículo: Valor Econômico