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15/08/2014 12:24 - Brasil/Japão: Um passo além

Por Eduardo Belo | Para o Valor, de São Paulo

 

Mais de um século depois que o Kasato Maru trouxe os primeiros imigrantes, o Japão segue com os olhos voltados para o Brasil. Uma pesquisa realizada pelo Japan Bank for International Cooperation (JBIC) publicada no mês passado no Boletim Oficial da Câmara Brasileira de Comércio no Japão aponta o Brasil como sexto principal destino para possíveis investimentos de empresas japonesas. O dado mais relevante reside no fato de o Brasil ser o primeiro alvo de interesse fora da Ásia. Das 488 empresas entrevistadas, 132 (23,4%) demonstraram interesse pelo Brasil. Indonésia, Índia, Tailândia, China e Vietnã são os destinos preferidos.

 

Visto mais de perto, porém, o resultado da pesquisa acende o sinal amarelo em pelo menos dois aspectos. O primeiro é a perda de alguns pontos no interesse das empresas. Na pesquisa anterior, com um número ligeiramente maior de entrevistadas, o JBIC havia apurado que 25,7% das companhias estavam olhando para o Brasil. O segundo é o crescimento do México, que subiu três pontos e aparece em sétimo lugar, com 17% das preferências.

 

A perda de pontos brasileira pode ser parcialmente explicada por outro dado que emerge da pesquisa: a preocupação com o custo Brasil. Perguntadas sobre o que as atrai ao país e o que as afasta, as empresas apontaram majoritariamente o potencial de crescimento (88,5%) e o tamanho do mercado (31%) como maiores atrativos. Do lado dos problemas, apareceram fatores como instabilidade cambial e de preços, insegurança, burocracia no comércio externo, falta de transparência no aparato legal, infraestrutura deficitária e desconhecimento sobre o país com percentuais entre 23,2% e 28,3% - além da competitividade do mercado local, principal obstáculo aos investimentos, com 29,3% das respostas cumulativas.

 

Os números mostram que é preciso dar um passo à frente e resolver os problemas do custo Brasil, afirma Cesar Alves Ferragi, Assessor acadêmico internacional da ESPM. Conhecedor da cultura do Japão, onde morou por seis anos, até 2012, Ferragi entende que é preciso cultivar um relacionamento mais estreito, aproveitando a simpatia que os japoneses nutrem pelo Brasil.

 

Ele considera o resultado da pesquisa do JBIC importante porque existe na cultura japonesa certa resistência a apontar abertamente as falhas do interlocutor. A diplomacia e as empresas japonesas dificilmente vão reclamar do custo Brasil, da burocracia e da falta de segurança, mas esses dados aparecem na pesquisa respondida de forma anônima e vão ser levados em conta na hora da decisão de investir, argumenta.

 

O protocolo de não fazer críticas abertas não foi inteiramente seguido pelo primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, em sua visita ao Brasil no início do mês. Em encontro com empresários, Abe, conhecido por sua espontaneidade, reclamou dos "aspectos dormentes" nas relações entre os dois países e disse que "há 40 anos" empresários dos dois lados do oceano tentam solucionar a questão sem sucesso. O premiê cobrou reformas para que os investimentos japoneses no Brasil possam avançar.

 

"É hora de o Brasil repensar sua relação econômica com o Japão", diz Alexandre Uehara, diretor acadêmico das Faculdades Rio Branco, especialista em Ásia. "Tudo bem que existem problemas a resolver nas exportações, o custo Brasil e os tributos, mas é preciso começar a olhar para um mercado em que o preço não é um limitador para os negócios e desenvolver produtos que atendam às necessidades do mercado japonês, com um bom marketing."

 

O diretor da Rio Branco cita o exemplo do setor calçadista. O Japão hoje compra calçados mais baratos na China e com maior valor agregado na Itália. Só que muitas vezes o couro do calçado chinês e do italiano veio do Brasil. "O Brasil poderia desenvolver produtos para o mercado japonês diretamente e ocupar esse espaço", argumenta.

 

Para Uehara, o mais importante é o Brasil mudar seu perfil de fornecedor de produtos básicos. Em 2013, as trocas comerciais entre os dois países mostraram que o Brasil obteve 69,5% de sua receita de exportação para o Japão com básicos e gastou 99,2% com a compra de industrializados.

 

Abrir o mercado japonês para mais produtos brasileiros é uma tarefa a ser realizada por empresas e governo, diz Uehara. A Agência Brasileira de Promoção às Exportações (Apex) também tem um importante papel nessa negociação, segundo Ariane Roder, professora e pesquisadora da área de negócios internacionais do Instituto Coppead da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Tanto Apex quanto entidades de classe dos setores produtivos devem prover os empresários de informações sobre o complexo mercado japonês, defende.

 

Para ela, entre os obstáculos implícitos no ingresso de produtos brasileiros no Japão encontra-se a imagem do Brasil como país em desenvolvimento, o que se reflete na ideia de que possui produtos de menor qualidade. "Quando se fala em mudar a pauta de exportação do Brasil para o Japão penso que essa barreira ficará mais evidente, já que a ideia é exportar produtos com maior valor agregado", diz. A pesquisadora defende mais controle de qualidade, rigor de fiscalização e um trabalho de restauração da imagem do Brasil como um país capaz de produzir artigos de ponta.

 

Para Ferragi, o Brasil tem interesses comuns com o Japão e pode se favorecer política e economicamente disso. Embora mantenham um relacionamento comercial dinâmico e intenso com seus vizinhos asiáticos, o Japão está cercado de países com os quais a relação diplomática é delicada, devido a seu passado de guerras e dominação. As duas economias mais fortes da região, Coreia e China, são diplomaticamente hostis a Tóquio.

 

Ter um parceiro grande, importante e capaz de suprir necessidades diversas para diminuir o peso dos vizinhos nas trocas comerciais é tudo que o Japão deseja. O Brasil pode funcionar como o hedge japonês se demonstrar preocupação em atender essas necessidades e, principalmente, se conseguir se adaptar a elas.

 

País que produz 40% dos alimentos que consome, o Japão já demonstrou interesse em financiar a produção de alimentos na África, onde a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) tem extenso trabalho de desenvolvimento de plantios nas áreas de savana, baseada em seus 40 anos de experiência com o cultivo de soja e outros produtos no cerrado. Já existe uma incipiente aproximação entre os dois países para essa finalidade, mas esse é um dos campos em que a relação pode avançar bastante, diz o consultor da ESPM. O Brasil tem tecnologia para oferecer e o Japão, dinheiro para financiar. Segundo Ferragi, a aproximação entre os dois países crescerá no ano que vem, com as comemorações dos 120 anos do tratado de amizade, navegação e comércio.

 

 

Veículo: Valor Econômico

 

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