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06/08/2014 12:55 - Empresas fecham semestre com balanço positivo apesar de indicadores ruins

Lucratividade de 51 empresas que já divulgaram seus balanços fechou em alta. Juntas, elas lucraram R$ 23,3 bilhões no primeiro semestre


Diego Amorim / Antonio Temóteo
   
Brasília – Nem as indefinições próprias do período eleitoral nem mesmo a economia brasileira em desacelaração impediram as grandes empresas do país de apresentarem resultados positivos. A reportagem levantou o lucro líquido das 51 companhias, excluindo os bancos, que já divulgaram o balanço referente ao primeiro semestre de 2014. Juntas, elas lucraram R$ 23,3 bilhões, número 18,5% maior que os R$ 19,7 bilhões dos primeiros seis meses do ano passado.

Quase dois terços das empresas registraram aumento no lucro líquido, com destaque para varejistas, telefônicas, administradoras de shoppings, de cartões e de programas de fidelidade. Na outra ponta, entre as 14 companhias que mostraram queda no lucro parcial deste ano, chama a atenção o desempenho negativo de siderúrgicas e metalúrgicas. Quatro tiveram prejuízo, nos setores imobiliário, de energia, logística e mineração.

Os dados do lucro líquido, considerado o lucro real do período, são reflexo da cautela intensificada pelas empresas no início do ano. Diante das incertezas político-econômicas, quase todas elas têm feito de tudo para reduzir despesas, o que acabou favorecendo o desempenho. “Elas podem até estar mostrando resultado, mas não se pode dizer que estão crescendo”, destaca o economista Renê Garcia Júnior, ex-diretor da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Embora cada balanço tenha suas particularidades, Garcia acrescenta que, em geral, os ganhos do primeiro semestre se explicam por reajustes de boa parte das companhias nas margens de lucro. “Fecharam menos negócio, mas o resultado foi balanceado por um ganho maior”, comenta o economista, para quem os números do restante do ano traçarão um perfil mais realista do cenário do país. “As críticas quanto à política econômica atual são generalizadas”, pontua.

Desta vez, a temporada de divulgação de balanços das empresas com ações na Bolsa, acompanhadas de perto por investidores, não rendeu estouros de champanhes, na opinião do economista Felipe Chad, sócio da DXI Planejamento Financeiro. A maioria dos resultados, reforça ele, só foi melhor na comparação com 2013 porque os empresários “apertaram o cinto” esperando uma atividade econômica consideravelmente mais fraca este ano, abrindo margem para o lucro.

PÉ NO CHÃO Ainda que o resultado líquido continue subindo, Chad acredita que as empresas tendem a manter os ânimos arrefecidos, sem muita expectativa de saltos extraordinários nos desempenhos. Não significa que os balanços trarão mais prejuízos, mas, insiste ele, todo mundo continuará “com o pé no chão”. “O ambiente não é o dos mais propícios para crescer. O mercado tem avaliado que não é hora de fazer grandes investimentos”, sustenta.

Na contramão do lucro, a receita das empresas — ou seja, o que entra no caixa — tem caído de maneira geral, observa o economista Demetrius Lucindo, da Planner Corretora. Em alguns casos, despencou, tornando urgentes a venda de ativos e um choque de gestão. “A situação é muito ruim. O lucro líquido traz distorções e provavelmente não revela, neste momento, a realidade das companhias”, sublinha. “O pior é que a perspectiva aponta para uma economia recessiva”, emenda.

A explicação mais provável para o desempenho positivo das empresas em meio às ameaças de recessão na economia está na análise do resultado financeiro de cada uma delas, no entender do presidente do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal, Carlos Eduardo de Freitas. Com a alta taxa de juros, detalha ele, as empresas preferiram apostar nos ganhos de manter o dinheiro guardado, garantindo, assim, o lucro líquido maior presente nos atuais balanços. “Foi a tesouraria quem salvou, porque, de resto, o clima de cautela ainda é total”, afirma.

Ganhos de bancos turbinados

Os ganhos com tarifas inflaram os resultados dos bancos privados no primeiro semestre. No caso do Itaú Unibanco, os serviços prestados aos clientes renderam R$ 12,3 bilhões em receitas, 17,8% a mais do que no mesmo período do ano passado. No caso do Bradesco, esse montante chegou a R$ 10,6 bilhões, o que representa uma alta de 10,7% na mesma base de comparação. E o Santander arrecadou R$ 5,3 bilhões, 2% a mais do que o valor apresentado entre janeiro a junho de 2013.

Para o analista de investimento da Planner Victor Luiz de Figueiredo Martins, com o cenário de estagnação da economia e inflação em alta, as instituições financeiras têm buscado medidas alternativas a expansão do crédito para continuar a crescer. Ele ressaltou que os gestores focaram as estratégias em redução de custos e despesas de pessoal para alavancar operações de menor risco. “Todos querem continuar a lucrar nesse ambiente e esse conjunto de ações tem sustentado o crescimento”, comentou.

O Itaú tem seguido essa cartilha e superado as expectativas do mercado. O lucro do segundo trimestre do banco chegou a R$ 4,8 bilhões, alta de 36,7% em comparação com o mesmo período do ano passado. De janeiro a junho, o resultado foi positivo em R$ 9,3 bilhões, 32,1% maior do que no primeiro semestre de 2013. O diretor corporativo de Controladoria e Relações com Investidores, Marcelo Kopel, explicou que esse resultado é fruto de uma estratégia iniciada há dois anos que tem base a menor exposição a risco, o crescimento de serviços prestados e uma maior oferta de produtos aos clientes.

CONSIGNADOS Os empréstimos para pessoas físicas chegaram a R$ 172,4 bilhões em 12 meses e cresceram 12,4%. Esse bom desempenho está atrelado aos resultados dos consignados, que cresceram 62,1% e chegaram a R$ 29,9 bilhões. O crédito imobiliário também teve um aumento de 26,1% e chegou a uma carteira de R$ 26,3 bilhões. “A diversificação das nossas fontes de receita, por meio da ampliação da oferta de serviços e a disciplina no controle de custos contribuíram para o crescimento do resultado. A combinação desses fatores nos fortalece para cenários mais voláteis”, comentou.

Na avaliação do analista da Clear Corretora Fernando Góes, essa combinação de ações dos bancos tem sido determinante para realização de lucros. Entretanto, ele ressaltou que a sustentabilidade desses resultados depende de um cenário macroeconômico mais estável. “Com inflação em alta e baixo crescimento da economia é difícil manter resultados excepcionais. Acredito que as instituições financeiras estão perto do limite”, detalhou. (Colaborou Celia Perrone)


Veículo: Estado de Minas

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