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04/02/2009 09:39 - Indústria brasileira despenca 12,4% em dezembro, pior queda em 17 anos

Perda acumulada em 3 meses é de 19,8%, mas mesmo assim houve expansão de 3,1% no ano, metade de 2007

 

A indústria brasileira apresentou em dezembro o pior desempenho em 17 anos, com resultados abaixo das estimativas mais pessimistas. A virada brusca de cenário no quarto trimestre derrubou o setor, que até setembro acumulava uma alta anual de 6,4%, mas fechou 2008 sem crescer mais do que 3,1%, metade da expansão apurada no ano anterior. Em três meses, a atividade industrial despencou 19,8%.

 


"Nunca tinha ocorrido uma queda tão brusca em tão curto período na indústria", observou a economista da coordenação de indústria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Isabella Nunes. Em dezembro, houve recuo de 12,4% na produção ante novembro e de 14,5% na comparação com igual mês de 2007. Em ambos os confrontos, são os piores resultados desde o início da série da pesquisa, em 1991.

 

Segundo Isabella, com o agravamento da crise internacional, além da "forte deterioração da confiança dos agentes econômicos ante a incerteza em relação ao futuro", que abalou o consumo interno, houve também uma "redução brusca da demanda internacional por commodities".

 

Isabella destacou que os recuos foram generalizados, abrangendo 25 de 27 setores na comparação com novembro e 23 de 27 setores ante dezembro de 2007. Foi o maior número de segmentos em queda já verificado na pesquisa. "Há um quadro generalizado de queda, como reflexo do agravamento da crise."

 

Com o tombo do último mês do ano, a indústria voltou ao nível de produção de março de 2004, deixando para trás os sucessivos recordes alcançados ao longo do ano passado, até a derrocada iniciada em outubro. Os mesmos segmentos que vinham impulsionando o forte crescimento do setor até setembro lideraram os impactos negativos no último trimestre.

 

CRÉDITO

 

Os bens de consumo duráveis (automóveis, celulares, eletrodomésticos), dependentes do mesmo crédito que foi o principal canal de contágio da crise no Brasil, apresentaram queda de 19,5% na produção no quarto trimestre e recuo de 42% somente em dezembro, na comparação com iguais períodos do ano anterior.

 

A produção de veículos automotores (autopeças, automóveis), responsável sozinha por cerca de 30% da expansão acumulada no total da indústria de janeiro a setembro, representou também o principal impacto, mas dessa vez negativo, no desempenho do setor em dezembro e no quarto trimestre. A produção desse segmento recuou 39,7% em dezembro ante novembro e 49,5% ante igual mês de 2007.

 

Os celulares também apresentaram a extraordinária queda de 61% na produção em dezembro ante igual mês de 2007, puxando para baixo a produção da atividade de material eletrônico e de comunicações, que despencou 60% no período. Ainda nessa comparação, os eletrodomésticos tiveram perda de 17,5%.

 

Os segmentos exportadores de commodities encolheram a produção, em sintonia com a forte diminuição da demanda internacional. Em dezembro, ante igual mês de 2007, houve queda na metalurgia básica (de 24,5% na produção de aço) e nas indústrias extrativas (de 21,3%, puxadas sobretudo pelo minério de ferro).

 

INVESTIMENTOS

 

Os dados industriais de dezembro trouxeram uma má notícia adicional, que foi a aterrissagem da crise sobre os investimentos. A produção de bens de capital, que vinha conseguindo se manter com resultados positivos ante igual período de ano anterior até novembro, mostrou brusca perda de ritmo em dezembro, puxada especialmente pela queda nos investimentos industriais. Houve recuo de 13,1% ante igual mês de 2007, interrompendo uma sequência de 29 taxas positivas nessa comparação.

 

Essa categoria mostrava forte vigor desde 2007 e acumulou expansão de 18,8% de janeiro a setembro do ano passado ante igual período do ano anterior, revertendo para expansão de apenas 2,8% no quarto trimestre ante igual trimestre do ano anterior. As principais quedas em dezembro ocorreram em bens de capital para indústria (31,5%) e para uso misto (35%, com forte impacto de microcomputadores e aparelhos celulares).

 

Veículo: O Estado de S.Paulo

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