Economia
06/05/2014 12:39 - Peso das tarifas sobre IPCA pode ir além de 2015
Após cinco anos de reajustes abaixo da inflação, os preços administrados devem se converter, em 2015, na principal fonte de pressão sobre o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Economistas consultados pelo Valor afirmam que os robustos aumentos esperados em energia, combustíveis e tarifas de transporte público prometem fazer com que os administrados - aqueles preços que têm interferência do governo - subam mais do que os preços livres no próximo ano. E para alguns economistas, a pressão pode ir além do próximo ano.
O boletim Focus, divulgado ontem pelo Banco Central (BC), mostra que a expectativa é de elevação de 6,5% em administrados em 2015, acima da alta de 6% projetada para o IPCA no período. Caso esse quadro se confirme, será o primeiro ano desde 2009 em que o reajuste de administrados superará a inflação do período. Para este ano, as projeções indicam elevação de 5% em administrados, ainda abaixo da alta de 6,5% prevista para o IPCA.
Em apenas um mês, os economistas ouvidos pelo BC para o relatório semanal elevaram suas estimativas de reajustes em preços administrados em 0,55 ponto percentual para este ano e em um ponto percentual no próximo. Quatro semanas atrás, as altas projetadas eram de 4,45% em 2014 e de 5,50% em 2015.
Para a economista Adriana Molinari, da Tendências Consultoria, o mercado está alinhando expectativas principalmente aos preços de energia, que estavam represados. Os aumentos autorizados nas tarifas das concessionárias em 2014, destaca ela, foram além do esperado. Pelos seus cálculos, o reajuste médio até o momento foi de 15%, quando o aguardado era algo em torno de 10%. Por conta disso, a Tendências estuda elevar sua projeção para o IPCA deste ano, atualmente em 6,3%. A previsão de alta de 4,74% em administrados em 2014 ainda não inclui os reflexos do leilão de energia elétrica realizado na semana passada sobre as contas de luz.
Para 2015, a consultoria projeta elevação de 7,44% nos preços administrados e de 6,3% no IPCA. "O ajuste em administrados deve começar em 2015 e se estender pelos próximos anos, mantendo o IPCA em torno de 6% ao menos até 2018", diz Adriana. "Há locais em que as tarifas de ônibus não sobem há quatro anos."
Já Roberto Padovani, economista-chefe da Votorantim Corretora, acredita que, passado o ajuste a ser feito em 2015, os administrados voltarão a subir abaixo do IPCA. Isso porque, historicamente, os preços administrados sobem menos que a inflação. "Como tivemos um quadro atípico de falta de reajustes em 2013 e, em 2014, as eleições inibem aumentos, haverá uma concentração em 2015", diz Padovani, que projeta alta de 6,4% em administrados e de 6% no IPCA no próximo ano.
Os cálculos de Padovani apontam elevação de 11% nas contas de luz, de 7% na gasolina e outros 7% de aumento nas tarifas de transporte público em 2015. "À medida que o clima melhore, é de se esperar uma desaceleração nos reajustes de energia", comenta Padovani. Para o economista, a partir de 2016, é possível que a inflação volte a perder fôlego e se aproxime do centro da meta, de 4,5%, mas não por conta de administrados. "O que dita a inflação no Brasil é o comportamento dos serviços", argumenta. Com o mercado de trabalho em desaquecimento, sua expectativa é de menor pressão sobre esses preços.
Por ora, entretanto, Padovani entende que as projeções de inflação alta têm reflexos sobre as perspectivas de expansão da economia brasileira, já que corroem a confiança dos empresários e afetam as decisões de investimento. No Focus, a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) baixou de 1,65% para 1,63% em 2014 e de 2% para 1,91% em 2015.
Um fator que deve influenciar tanto o PIB quanto a inflação nos próximos meses, enfatiza Adriana, é o juro. Um novo ciclo de arrocho monetário deve começar em março de 2015, pelas suas previsões, permitindo uma desaceleração nos preços livres, e desestimulando o crescimento econômico.
Após 11 semanas prevendo que a taxa Selic chegaria ao fim de 2015 em 12% ao ano, os economistas do Focus elevaram suas projeções a 12,25%. Para 2014, as estimativas permaneceram em 11,25. Em relatório enviado a clientes, o BNP Paribas diz esperar mais revisões nos juros nas próximas semanas. "Nosso panorama de longo prazo mostra que os juros precisam subir ao menos a 13% no próximo ano, e a economia lutará para conseguir crescer 1%", afirma o documento do BC.
Veículo: Valor Econômico
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