Economia
10/04/2014 08:10 - Prato do brasileiro pesa mais que em países ricos
No País, alimentos comprometem 24,6% do orçamento familiar, acima do índice dos EUA, por exemplo, de 8,5%
Rio/São Paulo. Além de mais caros nos últimos meses e acima da inflação média, os alimentos consomem no Brasil uma fatia expressiva do orçamento familiar: 24,6%, segundo o IBGE. O percentual é superior a países com nível de renda maior. Nos EUA, por exemplo, as famílias comprometem apenas 8,5% das despesas com a compra de comida. Na Alemanha, o percentual é de 10,3%, pouco abaixo dos 11,2% do Reino Unido. Já em Itália e França, os gastos com alimentação pesam 16,4% e 14,9%, respectivamente.
Os dados são de levantamento da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e se referem ao ano passado. Quanto mais rico um país, mais sofisticado é seu consumo, que tende a migrar de itens mais básicos, como comida, para outros mais sofisticados - bens de maior valor e serviços, por exemplo -, de acordo com economistas. O fenômeno, dizem, também ocorre no Brasil, que ainda está num patamar anterior de desenvolvimento.
Chile e México, mais próximos da realidade brasileira, gastam, porém, proporcionalmente menos com alimentos: 19,1% e 18,7%, respectivamente.
Juro ainda maior
A inflação de março acima da prevista aumentou no mercado a aposta de que o Banco Central tenha que subir mais a taxa de juros para conter a escalada dos preços. A taxa Selic está hoje em 11% ao ano e sobe desde março de 2013, quando estava no menor nível histórico de 7,25% ao ano. Ainda assim, a inflação tem se mostrado renitente, variando ao redor de 6% ao ano.
A alta dos juros tem dois efeitos sobre a inflação: tende a reprimir o consumo, o que desincentiva aumentos de preço, e atrai investidores estrangeiros, elevando o fluxo de dólares para o país. Com isso, a cotação da moeda americana cai, o que ajuda a baixar preços de importados.
A taxa de juros em 11% ao ano já está provocando uma atração de estrangeiros, o que explica a recente queda do dólar. Hoje, a moeda americana fechou a R$ 2,214 (cotação à vista), em alta de 0,64%, depois de três sessões seguidas em queda.
A próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC será em maio e as expectativas se concentram em mais uma elevação, para 11,25% ao ano. Para analistas, contudo, a resistência da inflação pode levar o BC a estender esse reajuste.
"A aceleração da inflação reduz muito a margem de manobra para o Copom parar o ciclo em maio e também aumenta a probabilidade de altas para além do mês que vem", diz Alberto Ramos, diretor de pesquisas econômicas para América Latina do Goldman Sachs. "O Copom vai ter que subir a Selic bem mais, se não agora, certamente depois das eleições".
Atrativo para estrangeiros
Uma nova alta dos juros tende a tornar o Brasil ainda mais atrativo para estrangeiros, reforçando a queda do dólar. De acordo com Alberto Ramos, enquanto as taxas de juros de longo prazo dos Estados Unidos seguirem estáveis e abaixo de 3% ao ano, haverá interesse de estrangeiros em investimentos atrelados à Selic no Brasil. Hoje, a taxa americana estava em 2,69% ao ano.
Luís Otávio Leal, economista-chefe do banco ABC, afirma que analistas ainda não incorporaram o cenário de dólar mais barato às expectativas de inflação, apesar de a moeda americana estar abaixo de R$ 2,30 desde o fim do mês passado. Isso porque ainda é dúvida por quanto tempo esse período de trégua dos estrangeiros com o Brasil vai durar. "Estamos dependentes de acontecimentos externos", diz.
Enquanto isso, a previsão é que os alimentos continuem subindo com força em abril.
Carnes bovina e de aves, além de leite e ovos, estão no radar de alta dos economistas. Além disso, preços que nada têm a ver com a seca estão impulsionando a inflação, como os de serviços (cuja alta está em 9,1%).
Para Fábio Silveira, diretor de pesquisas econômicas da consultoria GO Associados, a ajuda do dólar será insuficiente contra a carestia. Sua previsão é que o limite estipulado pelo próprio governo para a inflação estoure em maio. "Mesmo com juros elevados, a inflação está andando sozinha. Estamos entrando em um perigoso processo de comportamento inercial da inflação".
Tombini 'mantém compromisso'
Brasília O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, reafirmou ontem seu compromisso de controle da inflação. Em entrevista ao Jornal Nacional, da Rede Globo, ele afirmou que o trabalho do BC tem efeito importante sobre a inflação ao consumidor. Lembrou que entre junho de 2003 e janeiro deste ano, o IPCA acumulado em 12 meses recuou 1,10 ponto porcentual, de 6,67% para 5,60%.
"Ou seja, o trabalho do Banco Central tem efeito importante sobre a inflação ao consumidor", disse. Tombini afirmou ainda que o Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne a cada seis semanas para definir os juros básicos e destacou que o BC "não só olha as condições macro, que estão balanceadas, mas também o equilíbrio entre oferta e demanda". "Temos vivido choques e, como o próprio BC disse, é um choque temporário", argumentou, em referência à pressão dos alimentos sobre a inflação.
Banco Mundial
O Brasil enfrenta uma "combinação difícil" de inflação alta e baixo crescimento e deve adotar uma política fiscal mais austera para dar espaço ao Banco Central para reduzir a taxa de juros. A avaliação foi feita ontem pelo economista-chefe do Banco Mundial para América Latina e Caribe, Augusto de la Torre. Em sua opinião, a ausência de rigor fiscal é o que explica a inusitada pressão de preços.
Veículo: Diário do Nordeste
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