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14/01/2014 07:53 - Preço alto muda rotina de compras

Consumidores ficam de olho nas promoções de supermercado para pagar menos. Projeção de inflação para 2014 alcança 6%


Assustada com a escalada dos preços, a dona de casa Ana Leonor Lima mudou a rotina das compras para driblar a inflação. Em vez de ir aos supermercados mensalmente, como ocorria, ela passou a frequentar estes estabelecimentos diariamente em busca de promoções. A peregrinação no varejo tem um único objetivo: pagar mais barato, aproveitando para adquirir produtos com preços mais em conta para não comprometer ainda mais o orçamento. “Não tem como fazer compras como antigamente. Temos que aproveitar os dias de oferta, se não o dinheiro vai embora e não levamos nada”, afirma. Segundo Ana, em um ano, ela passou a gastar 30% a mais com os itens de alimentação. “Não dá para levar para casa tudo que eu levava antes. Tive que mudar os hábitos de consumo, substituir os produtos mais caros pelos mais baratos”, revela.

A rotina de Ana Leonor é repetida por um batalhão de consumidores que sentiram no bolso o custo da leniência com a inflação. Nos últimos quatro anos, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o parâmetro oficial da carestia no país, ficou sempre acima do centro da meta que deveria ser perseguida pelo governo, de 4,5% ao ano. Em 2014 não deverá ser diferente. Para cerca de 100 instituições financeiras consultadas pelo Banco Central (BC) na pesquisa semanal Focus, divulgada ontem, a inflação deverá acumular alta de 6% até dezembro.

Mesmo em 2015, a carestia deverá continuar a pressionar o orçamento do brasileiro. Pela primeira vez o BC divulgou as projeções para o fim de 2015, e elas não são nem um pouco animadoras. Pelas contas dos analistas ouvidos pelo Focus, o IPCA deverá acumular alta de 5,5%. Notícia que não agradou a auxiliar administrativa Ivonete Rocha, que viu os custo com o consumo mensal de carne dobrar em um ano, passando de R$ 150 para R$ 300. “Estou comprando a mesma quantidade e gastando muito mais. Antes, eu pagava, no máximo, R$ 16 por dois quilos de carne, hoje estou levando por R$ 27”, aponta. Ainda de acordo com ela, a situação é pior na hora de comparar o aumento dos itens básicos com o do salário. “A renda não acompanha a mesma evolução dos preços no supermercado. Temos que driblar (os preços altos) aproveitando as promoções”, revela.


SALÁRIO MÍNIMO
Em 2013, o grupo alimentação e bebidas subiu 8,5%, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Também incomodou os consumidores os gastos com serviços. Cuidar das unhas, por exemplo, ficou, em média, 11% mais caro no ano passado. A explicação para isso, diz André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, foi a correção acima da inflação do salário mínimo, que é o piso de remuneração para a maior parte dos trabalhadores do país. “Essa política trouxe benefícios claros a população da classe mais baixa, mas o mesmo não se pode dizer da classe média. Então, a dona de casa que tinha um padrão de vida melhor há alguns anos, agora está sofrendo bastante, porque a renda dela não acompanhou a alta da inflação”, disse.


Dinheiro mais caro


A saída encontrada pelo governo para minimizar a escalada dos preços foi tornar o dinheiro mais caro e escasso. Desde abril de 2013, a taxa básica de juros da economia (Selic) subiu da mínima histórica, de 7,25% ao ano, para os 10% atuais. Esta semana o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC decidirá pela continuidade ou não da alta dos juros. O grosso dos analistas de mercado financeiro aposta em mais uma alta, de 0,25 ponto percentual, para 10,25% ao ano. Mas há economistas mais pessimistas, que projetam uma elevação de 0,5 ponto. Mais do que isso, acreditam que o BC deverá continuar com a escalada da Selic até pelo menos fevereiro, levando a taxa para 11% ao ano.

André Perfeito, da Gradual Investimento, não descarta uma dose ainda maior, para 11,25%, na reunião do Copom marcada para abril. “A questão não é o quanto os juros precisam subir, mas que sinalização o BC precisa dar ao mercado para convencer que está mesmo disposto a perseguir a taxa de 4,5% ao ano (centro da meta da inflação). Hoje, a autoridade monetária está trabalhando não só para recuperar a credibilidade das suas ações como de todo o governo”, ele disse.

A mesma avaliação tem o economista-chefe Austin Rating, Alex Agostini. “Eu acho que o BC não está confortável com essa inflação atual, mas também não tem dado sinais de que está perseguindo o centro da meta”, observou. Segundo Agostini, o BC precisa dar uma resposta mais firme em relação à disparada dos preços. “Aquele comunicado que o BC fez sobre o IPCA do ano passado, em uma nota de poucas linhas, não esclareceu nada. O que todo mundo quer saber é o que a autoridade monetária está achando da inflação. Portanto, a ata dessa próxima reunião do Copom poderá dar uma sinalização mais clara de qual é a verdadeira meta perseguida pelo governo”, disse.

META INFORMAL
Em 2013, o governo se comprometeu com uma meta informal de trazer o IPCA para abaixo de 5,8%, o que não foi alcançado. Mesmo com toda a ajuda de reajustes postergados na conta de luz e nas passagens de transportes de ônibus e metrô, a inflação ficou acumulou alta de 5,91% entre janeiro e dezembro. A estudante Myrha Soares, que mora sozinha em BH, percebeu a alta dos preços e também mudou a rotina das comprar para economizar. “Na quarta-feira é dia de carne; na quinta; de sacolão. Tenho que ficar de olho para não pagar acima do que cabe no meu bolso”, diz.



Veículo: Estado de Minas

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