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19/01/2009 13:13 - Na crise, classes D e E terão o maior ganho real na renda

As classes D e E terão em 2009 ganho real mais expressivo na massa de rendimentos que as demais classes, aponta estudo realizado pela LCA Consultores. Pelo cálculo, baseado nos dados de renda média real individual relativos a outubro divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as classes D e E terão em 2009 incremento real de 7,8% - o maior entre as classes e superior em um ponto percentual ao ganho obtido no ano passado. 

 

A classe C terá crescimento menor, de 4,7%, que também é inferior aos 5,5% de aumento real obtidos em 2008. As classes A e B terão o incremento mais baixo, de 3,4%, também abaixo do ganho real obtido no ano passado (4,9%). Na média, a massa real de rendimentos no país terá crescimento de 4,5% em 2009, ante 5,4% em 2008. 

 

A massa real de rendimentos é calculada a partir do número de trabalhadores empregados e do seu ganho mensal. A LCA considerou como parte das classes D e E o trabalhador com ganho mensal médio de R$ 430; para a classe C, renda mensal per capita média de R$ 725 e, para as classes A e B, renda individual de R$ 2.113 ao mês. "As classes D e E têm uma renda muito próxima à do salário mínimo, por isso ela terá crescimento superior ao das demais classes", afirma o economista responsável pelo estudo, Fábio Romão. 

 

A previsão para este ano é de que o salário mínimo seja reajustado em 12%, para R$ 465, considerando o PIB de 2007 (que cresceu 5,7%) e a inflação acumulada em 12 meses até fevereiro. O aumento acima da inflação é superior ao obtido no ano passado, de 3,6%. Outro ponto favorável é a previsão de inflação de alimentos mais baixa, estimada em 5,5%, contra 11,1% em 2008. "A inflação de alimentos tem impacto mais forte sobre a renda das classes D e E, que comprometem mais o seu ganho mensal com esse grupo de produtos." 

 

Romão diz ainda que os trabalhadores das classes D e E sofrerão menos o impacto do desaquecimento da economia por se concentrarem nos setores de comércio e serviços, que apresentam uma desaceleração mais suave que os setores da indústria e da construção civil. Já no caso das classes A, B e C, o principal fator responsável pelo menor aumento na renda é a queda no nível do emprego formal, que tem afetado sobretudo o setor industrial. "O emprego industrial é o primeiro a sofrer os efeitos da crise e é o setor que concentra as classes A, B e C em função dos salários mais altos", observa. Outro segmento em que se situam essas classes é o financeiro, que já vinha reduzindo vagas de trabalho com as fusões e aquisições. 

 

Marcio Pochmann, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), prevê cenários diferenciados para as regiões. "Regiões agrícolas circunscritas à agricultura familiar não sofrerão tanto os efeitos da crise internacional como as áreas voltadas à agricultura comercial. Regiões que dependem fortemente de previdência e transferência de renda intragovernamental também tendem a ser menos afetadas", afirma. 

 

Famílias cujos membros trabalham no setor privado também sofrerão impacto mais forte da crise, diz. "Tudo indica que as decisões de investimento de governos no plano do desenvolvimento produtivo não devem ser afetadas. A manutenção do nível de emprego no país ficará mais ligada a decisões de investimento público, principalmente as decorrentes do PAC [Programa de Aceleração do Crescimento]", afirma. Para Pochmann, se o efeito da crise externa sobre a economia brasileira for apenas um crescimento mais fraco do PIB, ainda assim a expansão do nível de emprego formal não será suficiente para atender ao aumento de pessoas que entram no mercado de trabalho. "Os mais jovens também terão mais dificuldades de se empregar no próximo ano" diz. 

 

No plano regional, Pochmann estima que as regiões Nordeste e Norte terão a renda menos afetada pela crise que as regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sul. A maioria das empresas exportadoras, tanto de manufaturados como de commodities, está sediada no centro-sul, por isso a dificuldade de exportar já provoca um processo de cortes de mão-de-obra, diz. "O real desvalorizado vai estimular mais o turismo no país e menos o turismo no exterior, o que também terá um impacto positivo para o Nordeste", acrescenta. 

 

Veículo: Valor Econômico

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