Economia
13/08/2013 11:25 - Baixa do milho prejudica a economia rural americana
O boom nos preços do milho que ajudou a impulsionar a economia rural americana está se extinguindo diante da expectativa de uma safra recorde no país.
Os preços do grão caíram mais de 40% em relação aos picos históricos do ano passado, tendo atingido seu nível mais baixo em quase três anos. O declínio está trazendo algum alívio para os frigoríficos e outras empresas alimentícias que vinham sofrendo com os altos custos da ração animal e outros ingredientes à base de milho. O grão mais barato também poderá estabilizar os preços da carne nos supermercados.
Mas a queda é uma má notícia para os produtores que viram suas receitas, já descontada a inflação, saltarem para os patamares mais altos desde o início dos anos 70, enquanto o preço das terras agrícolas subiu tanto que alguns analistas temeram uma bolha. A baixa no preço do milho vai pressionar as margens dos produtores e doer no bolso daqueles que arrendam a terra para suas colheitas. As vendas de tratores e insumos agrícolas provavelmente também serão afetadas.
O milho é a maior lavoura dos Estados Unidos, cultivado em mais de 400 mil propriedades. O total da área plantada é quase igual à do Estado do Maranhão. Ontem, o contrato futuro de milho para entrega em dezembro, o mais alinhado à colheita deste semestre, fechou a US$ 4,64 por bushel, bem menos que os US$ 8,31 do fim de agosto de 2012. O preço da soja, a segunda maior lavoura dos EUA, caiu mais de 20% em relação a um ano atrás.
Muitos analistas preveem quedas ainda maiores para o preço do milho. Na semana passada, o banco Goldman Sachs Group Inc. baixou sua previsão de 12 meses para US$ 4,25 o bushel. Se os preços despencarem desta forma e permanecerem assim, eles "apertariam seriamente as margens", afirma T.J. Shambaugh, cuja família planta milho há 150 anos.
Shambaugh, que tem 53 anos, espera que sua fazenda de quase 810 hectares produza cerca de 12,6 toneladas de milho por hectare este ano, ante 5,3 toneladas por hectare no ano passado. Ele vendeu metade da sua safra estimada por mais de US$ 5 o bushel no início do ano. "Para este ano está bom; 2014 e 2015 pode ser outra história", diz ele.
Os preços do milho oscilaram em torno de menos US$ 2,50 o bushel na maior parte dos últimos dez anos. Eles dispararam em 2008 devido a enchentes e à demanda crescente da indústria do etanol. A recessão derrubou os preços de novo, mas eles se recuperaram e voltaram ainda mais fortes, embalados por mercados externos como a China e uma seca que afetou o suprimento.
Os preços se mantiveram acima de US$ 6 o bushel na maior parte do tempo nos últimos dois anos. Ontem, os futuros do milho subiram em Chicago depois que o Departamento de Agricultura americano (USDA) divulgou que a safra do cereal seria de 349,6 milhões de toneladas, 1,3% mais que o estimado no mês passado pelo órgão, e se mantiveram em alta até o fechamento mesmo que o volume ainda vá bater facilmente o recorde de 332 milhões do fim da década passada.
Parte dessa gorda safra poderia ser ameaçada por geadas antes da colheita. E os produtores poderiam também decidir plantar menos milho no futuro se as margens de lucro encolherem muito. Isso reduziria o suprimento do grão e ajudaria a elevar os preços. Neste momento, os produtores americanos também precisam de demanda, que vem sendo fraca. As exportações americanas caíram para níveis não vistos em décadas diante do aumento da concorrência dos países da América do Sul e outras regiões. O crescimento da produção de etanol está caindo à medida que esse combustível à base de milho chega ao limite da proporção que pode ser misturada à gasolina.
"Estamos retornando a um cenário mais normal depois de um período de preços realmente anormais, diz Darrel Good, economista agrícola da Universidade de Illinois. "Todo mundo de certo modo reconheceu, durante o período ascendente, que aqueles preços não eram sustentáveis, mas para os produtores foi fácil se acostumar a eles."
A empresa de alimentos Tyson Foods Inc. afirmou no início do mês que espera que o custo com ração na sua unidade de frangos diminua em US$ 500 milhões no próximo ano fiscal. A companhia de lácteos Dean Foods Co. também prevê custos menores com ração. Já a gigante dos grãos ADM declarou que pretende se beneficiar de um maior volume de milho e grão de soja para ser armazenado e processado. "É uma recuperação essencial para a ADM", disse Craig Huss, diretor de riscos da empresa.
Não está claro o quanto os consumidores vão se beneficiar dos preços mais baixos do milho. A rede de comida mexicana Chipotle Mexican Grill Inc. afirmou que não está mais considerando um aumento de preços que ela havia anunciado que poderia ser necessário para compensar a alta dos ingredientes. Um índice bastante acompanhado de preços de alimentos caiu pelo terceiro mês seguido em julho, ajudado pelo declínio nos preços do milho.
Ainda assim, Richard Volpe, economista do USDA, disse que os supermercados aproveitaram os preços baixos para recompor suas margens, corroídas nos últimos anos pelo aumento dos custos e da concorrência.
O preço da terra cultivável no chamado Centro-Oeste americano já está perdendo fôlego depois de ter disparado quase 80% nos últimos quatro anos, para uma média de US$ 17.248 o hectare. As últimas avaliações feitas pelo banco Farm Credit Services of America, que concede financiamento para agricultores, mostram que a alta no preço da terra diminuiu durante o primeiro semestre. A Universidade Purdue projeta um declínio do valor da terra no segundo semestre em partes do Estado de Indiana.
Os preços menores do milho vão ajudar os produtores de carne que sofreram com as secas do ano passado, as quais danificaram pastos e aumentaram o preço da ração. O declínio de um ano nos preços do milho e as chuvas recentes já melhoraram a situação de muitos criadores de gado.
Veículo: Valor Econômico
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