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08/08/2013 11:33 - Queda da inflação não muda aperto monetário

O governo acredita que está vencendo, com folga, a batalha de curto prazo contra a inflação, mas isso não significa que mudará as políticas adotadas para segurar os preços. O Banco Central (BC) está usando a política monetária para mitigar os efeitos da desvalorização do real sobre os preços internos e, assim, continuará fazendo. O Ministério da Fazenda busca recuperar a credibilidade da política fiscal.

O objetivo do BC é consolidar a inflação em patamares mais baixos que os atuais. A inflação de julho (0,03%) ajudou a derrubar o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado em 12 meses para 6,27%, face aos 6,70% verificados até junho. A autoridade monetária acredita que será possível fechar 2013 com o IPCA abaixo de 5,84%, resultado registrado no ano passado.

O número de julho surpreendeu positivamente porque, no início do mês passado, o mercado, de acordo com o Boletim Focus, esperava variação de 0,25%. O governo sabe, porém, que o recuo do IPCA para 0,03% foi provocado em grande medida pela suspensão do reajuste de tarifas de transporte urbano em várias capitais e de energia em alguns Estados.

Para que a inflação continue caindo, o BC considera fundamental diminuir os repasses da desvalorização do real à inflação doméstica. O principal instrumento usado para atingir esse objetivo é a taxa básica de juros (Selic), que, portanto, deve continuar subindo nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) - hoje, a Selic está em 8,5% ao ano.

Desde janeiro, o real sofreu depreciação de 11% em relação ao dólar (ver gráfico). O BC atribui a isso o aumento da inflação no período. Apesar da queda do IPCA nos últimos dois meses, os produtos intermediários têm registrado alta de preços, provocada pela desvalorização do real. Ao calibrar os juros, o BC mira a inflação ao consumidor e não no atacado, mas, ao manter a política monetária apertada, dificulta o repasse da desvalorização aos preços no varejo (pass through, na linguagem do mercado).

É difícil saber até onde vai o dólar nesse movimento de reposicionamento da moeda americana, decorrente de expectativas de mudança da política monetária expansionista dos Estados Unidos. Não dá para dizer, portanto, se a desvalorização do real provocada por esse fato já se esgotou. O momento, analisam economistas oficiais, é complexo porque a liquidez internacional diminuiu e a volatilidade dos mercados aumentou. O Federal Reserve (Fed), o banco central americano, começa a reduzir, até o fim do ano, a compra mensal de títulos públicos e privados, medida adotada nos últimos anos para injetar liquidez no mercado e tentar reanimar a economia. O problema é que persistem dúvidas sobre a intensidade com que fará isso.

Em Brasília, sabe-se que a recuperação dos EUA favorece a economia brasileira. O Fundo Monetário Internacional (FMI) está prevendo, por causa da possível retomada americana, aumento do crescimento do PIB mundial de 3,1% em 2013 para 3,8% em 2014 e, no caso do comércio internacional, aceleração de 3,1% para 5,4%. A transição da política monetária americana inspira cuidados, contudo, no Brasil e no restante do mundo, acostumados com o excesso de liquidez dos últimos cinco anos.

Essa incerteza sobre o que ocorrerá com o dólar desautoriza mudança de estratégia na política monetária no curto prazo. Além disso, na semana passada, o FMI divulgou estudo em que afirma que, mesmo depois da recente desvalorização, o real estaria sobrevalorizado face ao dólar em algo entre 10% e 15%. Isto sugere que, no processo de reprecificação das moedas em relação à moeda americana, o real pode se depreciar ainda mais.

O BC considera fundamental diminuir os repasses da desvalorização do real à inflação doméstica


Dentro de sua estratégia, o Banco Central considera crucial mitigar, agora em agosto e nos próximos meses, o repasse da valorização do dólar para os preços internos. Esses meses são considerados críticos para o sucesso da política monetária, daí, a justificativa de não se comemorar, com grande animação, o resultado do IPCA de julho.

Entre 2011 e 2012, a atual gestão do BC engordou as reservas cambiais em US$ 85 bilhões, um colchão de liquidez importante para suavizar os movimentos de saída de dólar neste momento - na terça-feira, as reservas contavam US$ 374 bilhões. O BC vem atuando no mercado principalmente por meio de swaps cambiais, contratos que equivalem à venda de dólar no mercado futuro, mas está disposto, se a situação apertar, a vender moeda física, como fez em dezembro do ano passado (com desembolso de US$ 5,4 bilhões) e em junho deste ano (US$ 1,7 bilhão).

Nesse contexto, há que se considerar o comportamento da atividade econômica. O governo acredita que a economia cresceu, no segundo trimestre, mais do que no primeiro, quando avançou 0,6% sobre o trimestre anterior. Há indícios, entretanto, de que a atividade voltou a ceder nos meses recentes, especialmente em julho. O diagnóstico é o de que o problema, agora, reside na falta de confiança, tanto da parte dos empresários quanto dos consumidores. Os agentes econômicos, na opinião do governo, estariam com uma percepção mais pessimista da economia do que mostra a realidade.

No primeiro semestre, o Produto Interno Bruto (PIB), pelo lado da oferta, ganhou terreno, assim como o emprego na indústria. Pelo lado da demanda, o investimento teve um maior protagonismo. Houve um arrefecimento no mercado de trabalho e a evolução do crédito foi um pouco mais moderada que nos anos anteriores, embora ainda cresça a taxas elevadas - o volume total avançou 16,4% nos 12 meses acumulados até junho.

Os agentes econômicos, na opinião do governo, estariam com percepção mais pessimista do que mostra a realidade

A confiança, porém, está abalada. No caso dos consumidores, houve um forte ajuste provocado pela inflação elevada nos primeiros meses do ano. A inflação alta também influenciou negativamente o humor do setor empresarial, assim como a frustração do crescimento do PIB no primeiro trimestre, a decisão da Standard & Poor's de mudar o perspectiva de risco soberano do Brasil de estável para negativa, a derrocada do grupo X (do empresário Eike Batista), a onda de manifestações populares e até a forte queda da popularidade da presidente Dilma Rousseff. No limite, a desconfiança desaguou na expectativa de que o país, por causa da piora das contas públicas, pode sofrer rebaixamento e perder o grau de investimento concedido pelas agências de classificação de risco.

Na análise do governo, a percepção está mais pessimista do que indicam os dados. Olhando para frente, a percepção negativa afeta a economia real. Para manter o país em rota de recuperação, é preciso restabelecer a confiança, do contrário, o crescimento do terceiro e do quarto trimestre também será comprometido.

Para melhorar a confiança, o governo trabalha em duas frentes. No Banco Central, a ideia é restaurá-la por meio do combate à inflação, sendo que o principal instrumento para fazer isso é a taxa Selic. Além do aperto monetário, o BC espera mais arrefecimento do mercado de trabalho nos próximos meses. Isso ajudaria a derrubar a inflação de serviços, que continua elevada. Não se espera, também, a ocorrência de quebra de safras agrícolas, como ocorreu no ano passado.

No Ministério da Fazenda, o propósito, para reconquistar a confiança dos agentes econômicos, é melhorar a interlocução com o setor privado, convencendo-o, por exemplo, de que o setor público cumprirá, sem lançar mão de manobras contábeis, a meta de superávit primário das contas públicas estabelecida para este ano (2,3% do PIB).

A Fazenda buscou nos últimos dois meses uma aproximação com o mercado. Atendeu à reivindicação pela derrubada do IOF incidente sobre investimento de estrangeiros em renda fixa e operações de derivativo cambial. Além disso, atendendo a outro pleito do meio empresarial, reduziu alíquotas de importação que haviam sido majoradas nos últimos dois anos para proteger a indústria nacional.

Considera-se, em Brasília, que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, protagonizou três acertos na semana passada. O primeiro foi ter desautorizado publicamente o representante do Brasil no Fundo Monetário Internacional, Paulo Nogueira Batista Jr., por ele ter se abstido de votar na reunião que decidiu pela concessão de um novo aporte financeiro à Grécia. Ao tomar essa decisão, Mantega demonstrou autoridade, algo que vinha sendo questionado desde quando surgiram rumores de que estaria demissionário do cargo.

Outro acerto do ministro foi ter reduzido as alíquotas de importação de uma centena de produtos. Por fim, ele foi aplaudido por ter deixado claro que o governo não mudará a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) para permitir um maior endividamento de Estados e municípios.

Também com o objetivo de aumentar a confiança de empresários e investidores na economia, o governo conta com o sucesso dos leilões de concessão ao setor privado, programados até o fim do ano, nos setores de aeroportos, rodovias, ferrovias e petróleo.



Veículo: Valor Econômico

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