Economia
05/08/2013 10:22 - Diagnóstico errado frustra retomada da atividade
Apesar da série de estímulos concedidos no período recente, o Brasil deve repetir em 2013 a combinação entre baixo crescimento e inflação elevada já observada nos dois anos anteriores. Para a maioria dos economistas ouvidos pelo Valor Data, esse é o resultado de um equívoco por parte do governo, que, para um cenário distinto, repetiu a dose de incentivos ao consumo que levou o país a uma rápida recuperação dos efeitos da crise econômica global de 2008.
Para além do diagnóstico considerado incorreto, há a avaliação de que um dos principais problemas da conjuntura não está diretamente ligado à política econômica, e sim ao modo como o governo se comunica com o mercado. Como exemplos, economistas citam declarações divergentes de autoridades sobre o câmbio, reprimendas públicas a setores considerados muito lucrativos e o anúncio de metas fiscais e de crescimento que, até agora, não foram cumpridas.
Dentro do projeto de coleta de projeções dos principais indicadores do país, o Valor Data faz, de tempos em tempos, consultas mais qualitativas com as consultorias e departamentos econômicos de instituições financeiras. Para essa rodada, foram apresentadas três questões (ver quadro).
O objetivo central era entender se os economistas consideram que houve erros de condução a partir da chamada nova matriz macroeconômica - formada por juros menores, câmbio mais desvalorizado e política fiscal anticíclica -, que teriam gerado o atual quadro de baixo crescimento e inflação pressionada. Também foi perguntado se há espaço para correções que permitam acelerar a atividade antes das eleições de 2014.
Para Thaís Marzola Zara, economista-chefe da Rosenberg & Associados, insistir em políticas de expansão da demanda, mesmo com o mercado de trabalho a quase pleno emprego, pode ter sido o principal erro da nova matriz. Segundo Thaís, o governo subestimou o endividamento das famílias e não antecipou que a expansão menor da população ocupada em um cenário de emprego farto traria crescimento mais fraco da massa salarial. "Estes fatores estruturais acabaram por refletir no consumo em desaceleração", disse. Outros erros, afirma a economista, foram a falta de tato na relação com o setor privado e frequentes anúncios de metas não atingidas.
"A tentativa do governo de acelerar o crescimento, sem atentar que as condições de fundo haviam mudado e demandavam nova estratégia, mostrou limitações, trouxe mais inflação e minou a confiança na economia", afirma Paulo Pereira Miguel, economista-chefe da Quest Investimentos. Como fatores que impulsionaram o crescimento nos últimos anos e não estão mais presentes, ele menciona a alta dos preços das exportações em função da economia chinesa e o avanço do crédito para consumo.
Os incentivos implementados nos campos fiscal, monetário e cambial, afirma Daniel Moreli Rocha, do Indusval & Partners, geraram distorções que afetaram o potencial de crescimento. "O cenário de inflação elevada, constantes alterações de alíquotas de impostos, intervenções em setores-chave da economia e maior volatilidade cambial acabou por contaminar os investimentos."
José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, afirma que o uso discricionário de isenções e desonerações, combinado com a expansão da dívida pela capitalização de empresas estatais, pode ter sido o maior erro do governo, pois "não reduziu a inflação, não recompôs o investimento e não sustentou o consumo". Para ele, o alívio de custos para os setores beneficiados virou margem de lucro ou permitiu aquisição de ativos no exterior.
A pouca transparência em relação à situação fiscal, diz Gonçalves, é um erro "grosseiro", assim como a confusão de declarações sobre câmbio e juros entre integrantes da Fazenda e do BC. "Ora o câmbio foi instrumento de controle da inflação, ora foi tratado separadamente dos juros, como se fosse possível. O erro geral é que não se pode prometer o que não se pode entregar. O erro específico é prometer o que não se quer entregar."
Já Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria, prefere não identificar um erro principal na nova matriz. Para ela, é a essência do modelo que está equivocada. "O erro está em ter vários objetivos para um número reduzido de instrumentos", diz. Na lista de prioridades para o país voltar a crescer mais, está a recuperação da credibilidade da política econômica, afirma Alessandra, o que exige mudanças no âmbito fiscal. Do lado monetário, o BC endureceu o discurso e está subindo os juros, mas ela pondera que o aperto tende a ter efeito inicial negativo sobre o Produto Interno Bruto (PIB).
Para Fernando Genta, economista-chefe da MCM Consultores, há espaço para correções nos rumos da política econômica e elas já vêm sendo postas em prática, como o ajuste na política monetária. Em relação ao crescimento, no entanto, a situação é mais complexa. "Resta ao governo reconquistar a confiança dos agentes econômicos para, a partir daí, canalizar os recursos necessários no processo de melhoria da infraestrutura, o que elevaria o crescimento do produto potencial brasileiro."
Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco, diz que "a discussão de matriz macro fica irrelevante diante da restrição maior de custos", o que, segundo ele, é o principal problema, ao lado do mercado de trabalho aquecido, que restringe o potencial de crescimento. Nesse contexto, a agenda mais importante é a de aumento de produtividade, o que já está sendo perseguido pelas empresas. "Temos evidências de que as empresas estão fazendo um esforço colossal de redução de custos. Lá na frente isso será bom para uma retomada competitiva, mas no curto prazo não tem jeito: é atividade para baixo."
Mesmo discordando de vários pontos da nova matriz, o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, afirma que é prematuro concluir que a reforma de alguns pontos do tripé não deu certo. Segundo ele, a "péssima" comunicação das autoridades, a adoção de medidas "criativas" na área fiscal e incentivos implementados na base do "desespero" em 2012 ofuscaram uma agenda positiva de políticas pró-investimento e competitividade.
"O governo parece ter percebido isso apenas recentemente e vem ajustando, ainda que gradativamente, várias políticas", observa Borges. "Mas será necessário bastante tempo, e eventuais mudanças de nomes na equipe econômica, para retomar a credibilidade perdida nos últimos tempos."
Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, faz a crítica mais dura ao novo regime. "A nova matriz econômica é velha e de baixa qualidade". Os erros, diz, estão nos incentivos intensos para aumentar o consumo, na política fiscal expansionista e no que chama de "estrago" da política monetária.
No momento Vale só vê uma saída para tentar acelerar o ritmo de crescimento do país: "A única coisa seria trocar toda a equipe econômica e acreditar piamente que a presidente mudou radicalmente seu pensamento econômico". A população também precisaria ser convencida da necessidade de ajustes dolorosos, o que ficou mais difícil depois das manifestações de junho.
Sem apontar erros, Roberto Padovani, economista-chefe da Votorantim Corretora, avalia que não houve mudanças, ou alterações institucionais relevantes, no atual regime econômico. Houve, para ele, flexibilização do tripé. O governo, diz, já tem mostrado preocupação com a inflação e o crescimento e, agora, é preciso avançar na comunicação da política para reduzir ruídos e elevar a confiança no país.
Veículo: Valor Econômico
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