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24/01/2013 11:49 - Prévia do IPCA indica pressões adicionais sobre a inflação

Com aumentos acima do esperado em alimentos e serviços, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15) superou o teto das projeções do mercado ao avançar de 0,69% para 0,88% entre dezembro e janeiro e gerou uma onda de revisões nas estimativas para o indicador fechado do mês, que já estavam em processo de deterioração. Agora, analistas trabalham com inflação ao redor de 0,90% na abertura do ano, o que elevaria as chances de um IPCA mais próximo de 6% em 2013.

A despeito da pressão sazonal dos alimentos - que, ao subirem de 0,97% para 1,45%, responderam por 0,35 ponto percentual do IPCA-15 -, e outras questões mais pontuais, como o aumento do IPI para cigarros, permanece a análise de que há fatores mais estruturais por trás da alta acentuada dos preços, já que os núcleos de inflação (medidas que tentam expurgar ou reduzir o impacto de itens voláteis no IPCA) seguem elevados e os reajustes estão mais disseminados.

A equipe econômica do BES Investimento calcula que, excluindo-se alimentos, o índice de difusão do IPCA-15, que mede a quantidade de itens que registraram alta entre um mês e outro, subiu de 65,3% para 70,3%, maior percentual desde março de 2011. "A inflação em 12 meses atingiu 7,3% apenas alguns meses depois disso (em setembro de 2011). Essa dinâmica, aliada ao comportamento dos núcleos, refuta totalmente a avaliação de que a recente deterioração da inflação está ligada somente a alimentos. Parece ser muito mais do que isso", diz, em relatório.

O índice de difusão "cheio" do IPCA-15 (que indica quantos produtos subiram no período), por sua vez, passou de 67,9% para 73,7% entre dezembro e janeiro, maior nível para qualquer mês desde 2003. Já a média dos três núcleos de inflação mais usados avançou de 0,59% para 0,74% no período. "Esses números mostram uma inflação mais resistente", avalia Thiago Carlos, da Link Investimentos, que esperava aumento de 0,80% para o IPCA-15.

O principal desvio em relação a sua projeção veio dos serviços, grupo que continuou incomodando ao subir de 0,88% para 1,06%. Apesar de as passagens aéreas terem recuado de 17% para 5,1%, outros itens caminharam na contramão, tais como excursão (12,1% para 16,1%), serviços pessoais (0,66% para 0,73%), aluguel residencial (0,5% para 1,5%) e condomínio (0,5% para 1,1%), entre outros.

O cenário da Link para a inflação de serviços no ano é de estabilidade em relação a 2012, quando esses preços subiram 8,7%, mas, a partir dos dados de janeiro, Carlos aponta que há um risco de aceleração, já que qualquer reação da atividade pode impulsionar mais repasses de custos no setor num quadro de mercado de trabalho apertado e ganhos salariais fortes. Assim, a estimativa da corretora para o IPCA em 2013, de 5,7%, está sob viés de alta.

Para Alexandre Andrade, da Votorantim Corretora, a correção de 9% do salário mínimo concedida no início do ano já pode ter influenciado alguns preços de serviços, como costureira, cabeleireiro e despachante, impacto que deve continuar nos próximos meses e, ao lado do desemprego nas mínimas históricas, manter a inflação em 12 meses desse grupo girando em torno de 8,5%.

Andrade manteve em 5,3% sua estimativa para o IPCA do ano, contando com forte descompressão de preços de alimentos no último trimestre, mas elevou de 0,90% para 0,94% sua previsão para a alta do indicador em janeiro, já que, devido a condições desfavoráveis para a produção de alimentos in natura, esses itens têm espaço para avançar ainda mais. No IPCA-15, hortaliças e legumes marcaram alta de 6,4%. Além disso, diz Andrade, o impacto do aumento do IPI para cigarros, que subiram 7% na prévia, deve se intensificar no índice do mês fechado.

O grupo alimentação e bebidas avançou acima do previsto no IPCA-15 por Flávio Combat, economista-chefe da Concórdia Corretora. Como não há margem para recuo dos alimentos até o fim do mês, a corretora deve revisar de 0,85% para algo em torno de 0,90% sua projeção para o IPCA de janeiro. Para o ano, a estimativa de Combat foi mantida em 5,5%. "Por ora, vamos manter essa previsão, mas há preocupações. A questão energética, os combustíveis e os serviços precisam ser acompanhadas de perto", afirmou Combat.



Veículo: Valor Econômico

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