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16/11/2012 10:22 - Com desaceleração, importação deixa de atrair empresas

A importação não está mais atraindo empresas. Desde 2005 a quantidade de importadoras aumentou ano a ano de forma significativa e ininterrupta. Neste ano o número de companhias importadoras ainda é maior que a do ano passado. Desde maio, porém, o aumento de empresas perdeu ritmo e a estimativa é de que a quantidade de importadores em 2012 fique praticamente estável em relação a 2011.

Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), até maio havia 32.307 empresas que importaram, ou seja, 603 importadoras a mais que os primeiros cinco meses do ano passado. A diferença do número de empresas veio caindo a cada mês e no acumulado até setembro foram registradas apenas 228 empresas importadoras a mais que o mesmo período de 2011. Isso, porém, dizem especialistas, reflete muito mais a desaceleração interna e não significa que o produtor doméstico esteja recuperando seu espaço ou tomando o lugar do fornecedor externo.

O câmbio estabilizado em nível próximo a R$ 2 também contribuiu com a perda de atração da importação, mas não conseguiu ainda fazer mais empresas aderirem à exportação.

Rodrigo Branco, economista da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), diz que o aumento de empresas exportadoras precisa acontecer por meio da diversificação de produtos vendidos ao exterior. Para isso, novas empresas precisam aderir à exportação, principalmente as de médio e pequeno porte, que também poderiam trazer produtos de maior valor agregado aos embarques. "A exportação é muito concentrada em alguns itens da pauta e, como resultado, também em número de empresas", argumenta o economista da Funcex.

Atualmente o minério de ferro, a soja e o petróleo, os três principais produtos embarcados pelo Brasil, respondem por 30,5% do valor exportado. De janeiro a setembro deste ano, apenas 240 empresas foram responsáveis por 78,1% dos valores embarcados. Esse grupo de empresas exportou acima de US$ 100 milhões.

José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), diz que o cenário atual, porém, não é muito propício para atrair empresas para a exportação. Embora o câmbio tenha ficado mais vantajoso, afirma ele, a desaceleração da demanda internacional e os sinais de recuperação lenta são desestimulantes.

No caso do Brasil, diz Castro, o efeito Argentina também faz diferença para as exportações brasileiras. As medidas de restrição às importações pelo governo da Argentina, inclusive para as de origem brasileira, contribuem para derrubar ainda mais a quantidade de empresas que exportam. O país vizinho muitas vezes é o principal destino das vendas ao exterior de algumas empresas em setores como têxtil ou calçados, por exemplo. De janeiro a setembro, os embarques para a Argentina caíram 20,2%, redução bem maior que a queda da média total, de 4,95%.

Para Branco, além do cenário internacional, os entraves burocráticas internos funcionam como empecilhos para ampliação do número de empresas que exportam. Para estimular os pequenos e médios a olhar para o mercado externo, defende, é preciso uma política de governo voltada para isso. "Há alguns programas nesse sentido, mas é preciso ter uma política mais ampla, persistente e de longo prazo nesse sentido", argumenta.

Em relação aos desembarques, diz Branco, a estabilização na quantidade de empresas que importam neste ano não significa, necessariamente, nova tendência. Mesmo que o dólar se mantenha perto dos R$ 2, estima o economista, o número de importadores pode voltar a crescer se houver aceleração da economia doméstica no próximo ano.

Nem mesmo um real mais desvalorizado em relação ao do ano passado, diz ele, desestimularia as importações no caso de reaquecimento do mercado doméstico. Além disso, como o cenário internacional continua com demanda fraca, o Brasil seria mais uma vez assediado com a superoferta de vários fornecedores estrangeiros.

De forma semelhante à exportação, a importação tem ficado cada vez mais concentrada entre as empresas. Das 38.743 empresas que fizeram importações de janeiro a setembro deste ano, 218 desembarcaram acima de US$ 100 milhões e responderam por 60,8% dos valores desembaraçados. Em 2000, eram 74 empresas que importavam acima de US$ 100 milhões e foram responsáveis por uma fatia de 43,7% do valor total desembarcado de janeiro a setembro.



Veículo: Valor Econômico



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