Economia
08/11/2012 12:54 - Para analistas, pressão sobre preços agrícolas no varejo vai diminuir
Ao avançar de 1,26% para 1,36% entre setembro e outubro, o grupo alimentação e bebidas foi a principal influência de alta sobre o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que subiu de 0,57% para 0,59% no período, mas não deve gerar maiores preocupações nos meses finais do ano. Economistas avaliam que o choque de commodities teve seu último impacto sobre a inflação no varejo, e que, daqui em diante, os preços vão absorver, embora em menor medida, a rápida descompressão observada no atacado.
Divulgado ontem pela Fundação Getulio Vargas (FGV), o Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI) recuou com mais força que o previsto na passagem de setembro e outubro ao deixar aumento de 0,88% para queda de 0,31%, com deflação de 1,3% nos produtos agropecuários e de 0,4% nos industriais. A expectativa é que esse movimento alcance o consumidor em novembro e dezembro, o que pode ajudar o IPCA a fechar 2012 em nível pouco inferior à alta 5,45% acumulada nos 12 meses encerrados em outubro.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, concorda em que a variação do IPCA de outubro foi reflexo do comportamento dos produtos agrícolas. "É normal neste período do ano que tenha aumento de produtos em função de safra e entressafra", disse ontem em Brasília. De acordo com ele, a "boa notícia" é que o IGP-DI prenuncia uma inflação menor.
Com base no atual resultado do IPCA e também na perda de fôlego observada no atacado, Fabio Romão, da LCA Consultores, revisou ligeiramente para baixo, de 5,5% para 5,4%, sua estimativa para o aumento do indicador oficial de inflação este ano. "Há itens que podem fazer com que esse número seja até um pouco mais baixo", diz Romão, destacando o comportamento das carnes bovinas no atacado. Após terem subido 8,9% em setembro, elas caíram agora 4,1%.
No IPCA, as carnes ficaram 2% mais caras no mês passado, com impacto de 0,05 ponto percentual no índice, atrás apenas do arroz, que subiu 9,8% e adicionou 0,06 ponto ao indicador de outubro. Além da saída do efeito da escalada de grãos sobre alimentos derivados, o economista da LCA acrescenta que a normalização da oferta interna de produtos in natura também vão ajudar a inflação de alimentos nos próximos meses.
Thiago Carlos, da Link Investimentos, nota que alguns itens já vêm cedendo no IPCA, tais como batata-inglesa (21,6% para 5,6%), frango (4,6% para 2,3%) e pão francês (3,1% para 1,7%), entre outros, tendência que deve se aprofundar em novembro à medida que a correção nos preços de insumos chegue à ponta final. Assim, projeta Carlos, o grupo alimentação e bebidas vai subir 0,77% no próximo mês e se converter na principal ajuda ao IPCA.
Um pouco mais pessimista, o economista-chefe do banco ABC Brasil, Luís Otávio Leal, acredita que o espaço para repasses de preços menores ao varejo é limitado. "As empresas do ramo alimentício perderam muita margem com essa alta de commodities. A saca de soja dobrou de preço em dois meses", explica Leal, que trabalha com inflação de alimentos abaixo de 1% no próximo mês.
Excluindo alimentação e bebidas, no entanto, não haverá alívio à inflação partindo de outros grupos no curto prazo, segundo os analistas ouvidos. O índice de difusão do IPCA, que mede a quantidade de itens que registraram aumento de preços entre um mês e outro, aumentou de 66,3% para 68,8% entre setembro e outubro, apontando que a inflação não está concentrada só nos alimentos.
Outro sinal que reforça essa avaliação vem dos núcleos de inflação, medidas que tentam diminuir ou expurgar o impacto de itens voláteis do IPCA. A média desses três indicadores passou de 0,49% em setembro para 0,54% em outubro. "Tirando alimentação, outros itens seguirão perturbando", diz Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria, para quem os serviços voltarão a pressionar a inflação nos meses finais do ano.
Mesmo com deflação de 0,16% em empregado doméstico, que tem peso de 11% no grupo, os preços de serviços ficaram estáveis em relação a setembro, ao mostrarem alta de 0,51%. Romão, da LCA, calcula que, excluindo empregados domésticos, os serviços pessoais se aceleraram de 0,23% para 0,29% entre setembro e outubro. Em sua opinião, esse comportamento responde mais à sazonalidade de fim de ano, em resposta ao aquecimento da demanda.
Para Alessandra, os serviços já responderão à retomada da atividade nos próximos meses, o que deve dar fôlego extra além da aceleração sazonal aos preços.
Veículo: Valor Econômico
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