Economia
10/10/2012 11:51 - Com alta da inadimplência, queda de juros chega devagar ao comércio
O movimento de queda na taxa de juros no varejo caminha devagar. As maiores companhias do setor não receberam orientação dos bancos - parceiros das redes na oferta de crédito ao consumidor - para reduzir as taxas cobradas nas vendas com boleto ou no cartão de crédito da rede. Isso, apesar do processo de redução da taxa básica de juros e dos recentes anúncios das instituições financeiras de reduzir suas taxas aos clientes. Até segunda ordem, no comércio, o plano é manter tudo como está.
Hoje, Itaú, Bradesco e HSBC são as principais instituições que atuam no financiamento ao cliente nas lojas e, por meio de suas financeiras, são eles que determinam os juros cobrados na venda parcelada ao consumidor.
A elevação no índice de inadimplência, verificado desde o ano passado, que pressiona o nível de risco do crédito e eleva as provisões, tem sido a justificativa apresentada pelas financeiras às redes para postergar uma eventual queda, segundo executivos do varejo ouvidos ontem. As varejistas Walmart, Grupo Pão de Açúcar, Casas Bahia, Ponto Frio, e as redes regionais ou de médio porte como EletroShopping, Rabelo, Novo Mundo, Cybelar e D'Avó Supermercados não mexeram nas taxas. As empresas confirmam a informação.
O Valor apurou que o Carrefour também não reduziu os seus juros. A Lojas Americanas, que desde agosto deixou de ser parceira do Itaú no financiamento ao cliente, informou que ainda não opera com novo cartão próprio. Entre os bancos, o Itaú, responsável pela definição da política de juros em cerca de 50 varejistas no país, não se manifestou a respeito. O Itaú tem cartões de crédito com varejistas e financia vendas parceladas no boleto.
Um executivo de rede varejista ouvido ontem diz que, mais à frente, o banco pretende analisar caso a caso, para verificar em que contrato cabe uma mudança nas taxas ao consumidor. "Mas eles não tem dado prazo para isso", conta a fonte. No caso do Bradesco, o banco informou redução em suas taxas no cartão, inclusive nos cartões das redes de varejo, mas o Bradesco não informa em que rede houve redução efetivamente. O banco tem 12 varejistas em sua carteira, entre elas, Leader e O Boticário.
Na avaliação das redes há um "nó" nessa conta. "Se as financeiras reduzem a taxa agora, a receita com vendas é impactada num momento em que as lojas ainda precisam administrar as perdas com a inadimplência. Será preciso de seis a oito meses para limpar essa base dos atrasos em pagamento no varejo. Então eu acho difícil uma redução de taxa neste ano no setor", disse Éfren Nunes, diretor de serviços, crédito e cobrança da Cybelar, rede de varejo do interior paulista.
A varejista cobra juros mensais de 4,99% nas vendas com carnê há mais de um ano e financia o cliente com caixa próprio. Portanto, não opera em parceria com bancos. Apesar disso, e portanto ter autonomia para definir suas taxas, a cadeia não pretende reduzir o índice. "Trabalhamos com quatro bancos hoje, mas o custo de captação, mesmo tendo caído nos últimos meses, ainda está alto", diz Nunes.
O que existe, na avaliação de Richard Saunders, presidente da EletroShopping e da Máquina de Vendas Nordeste, é reflexo de um efeito dominó no mercado. "Em muitos casos, as lojas ficam esperando para ver quem vai puxar a fila e começar a mexer nas taxas", diz ele. "Varejo é pura concorrência. Não dá para descartar que uma movimentação aconteça logo se uma rede grande fizer algo. Aí, o resto vai atrás", afirma Manoel Araújo, sócio diretor na Martinez de Araújo Consultoria de Varejo.
Enquanto esse movimento não acontece, o EletroShopping, parceira da Losango (HSBC), fez "ajustes promocionais" em seus planos.
A rede não mexeu em suas taxas neste ano e não há previsão nesse sentido, mas flexibilizou algumas ofertas. "Para nós, os planos com maior demanda giram, em média, em 4 vezes sem juros. Mas passamos a vender alguns itens, antes comercializados nesse prazo, em 10 ou 12 parcelas sem juros para atrair o cliente", diz Saunders.
Na avaliação de especialistas em varejo, parte desse dilema em relação à definição das taxas tem a ver com a necessidade de o varejo e as financeiras reverem a atual política de juros no mercado. "O problema é maior. Nesse momento, a grande discussão do setor são as vendas em 8, 10, 12 vezes sem juros. Isso não existe em lugar nenhum e é insustentável. No momento em que esse debate ganhou peso, surgiu essa questão da queda nas taxas", afirma Antonio Coriolano, sócio da RetailConsulting.
Veículo: Valor Econômico
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