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08/06/2012 10:09 - Real depreciado tem pouco efeito sobre preços

A desvalorização do câmbio nos últimos meses está longe de ser desprezível, mas o repasse da depreciação do real para a inflação ao consumidor deve ser moderado, num cenário em que a economia global e a doméstica mostram-se anêmicas. Entre fevereiro e maio, a moeda brasileira perdeu 13,5% de seu valor, com o dólar subindo de R$ 1,717 para R$ 1,987.

Estudo do Credit Suisse estima que uma desvalorização do câmbio de 10% gera um repasse para a inflação de 3,5% a 6,1% em 12 meses, o que significa um aumento de 0,35 a 0,61 ponto percentual no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no período, dependendo do modelo usado nos cálculos.

O maior impacto se dá pelos alimentos e bens industriais, também havendo um efeito indireto sobre os preços administrados e serviços, muito influenciados pela inflação passada, diz o economista-chefe do banco, Nilson Teixeira. "No quadro atual, porém, vários fatores indicam que essas estimativas podem estar superestimadas", acredita ele, que projeta um IPCA de 4,8% neste ano, razoavelmente abaixo dos 6,5% do ano passado e próximo do centro da meta perseguida pelo Banco Central, de 4,5%.

O primeiro fator a inibir um repasse exagerado é que os preços das commodities agropecuárias em reais não tiveram aumentos significativos recentemente, porque o recuo das cotações em dólares desses produtos compensa parte do efeito da depreciação do câmbio, nota Teixeira. "Isso sugere que o aumento da inflação de alimentos no IPCA nos próximos trimestres tende a ser mais baixo."

Outro canal tradicional de repasse do câmbio para a inflação é dos preços das matérias-primas industriais para os bens finais. Segundo Teixeira, esse repasse diminuiu muito nos últimos anos. "A menor volatilidade da inflação e da taxa de câmbio e a maior concorrência no mercado doméstico de produtos industriais, em função da crescente penetração dos importados, podem ter contribuído para reduzir o repasse dos maiores custos com insumos para os bens finais", avalia ele.

Por fim, a atividade fraca no Brasil e no mundo também deve evitar que a depreciação do câmbio se traduza em muita inflação, ao reduzir o impacto sobre os preços industriais. "A inflação de bens duráveis no IPCA, teoricamente mais sensível ao efeito da depreciação cambial, recuou na última recessão, ocorrida entre o quarto trimestre de 2008 e o primeiro trimestre de 2009. Ela passou de zero em 2008 para uma deflação de 1,9% em 2009, favorecida pela redução dos preços dos automóveis e pela desaceleração dos demais preços", aponta o estudo.

Segundo Teixeira, a dinâmica da inflação em 2009 sugere que fatores como a queda na demanda por produtos industriais num cenário de baixo crescimento e desonerações tributárias podem reduzir o impacto da depreciação cambial sobre os preços dos bens duráveis. Teixeira diz que, nos últimos anos, o repasse do câmbio para a inflação já diminuiu significativamente. "Há uma década, os modelos chegavam a apontar que uma desvalorização de 10% teria um repasse de 12% a 15% em 12 meses."

No fim de maio, Teixeira revisou a sua projeção para o câmbio no fim do ano de R$ 1,75 para R$ 1,90. Essa mudança na estimativa para o câmbio fez o banco acrescentar 0,41 ponto percentual à sua projeção de inflação para o ano, considerando, nessa hipótese, que uma depreciação do câmbio de 10% provocaria uma alta de 0,48 ponto percentual no IPCA ao fim de 12 meses - a média do intervalo entre 0,35 e 0,61 ponto. No entanto, em um cenário de elevada incerteza externa e doméstica e com baixo crescimento interno, "é razoável assumir que o repasse no curto prazo possa ser menor", diz Teixeira.

Mesmo incorporando esse 0,41 ponto percentual a mais no IPCA por conta do repasse cambial, o Credit Suisse cortou a sua projeção para a alta do indicador no ano de 5% para 4,8%. O banco espera que a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis deve tirar 0,4 ponto da inflação deste ano, assumindo que a medida será prorrogada até 2013. Além disso, o Credit Suisse estima que as tarifas de energia elétrica vão cair 3% em função dos gastos menores com a Conta para o Consumo de Combustíveis (CCC), aliviando a inflação em mais 0,1 ponto. Por fim, Teixeira cortou a projeção em mais 0,1 ponto porque a inflação de janeiro a maio veio abaixo das previsões.

O economista Thiago Curado, da Tendências Consultoria, é outro que não se mostra muito preocupado com o repasse do câmbio para os preços. Segundo ele, o real mais fraco tem funcionado como um amortecedor que impede uma queda mais forte da inflação, mas não como uma fonte de pressões significativas. Em dólares, os preços das commodities estão em queda neste ano, mas, quando convertidos em reais, estão em alta. No entanto, não é um aumento exagerado, diz Curado, observando que a fraqueza da atividade limita o potencial de repasse.

A projeção da Tendências para o IPCA neste ano, de 5,1%, ficaria na casa de 4,8% se a projeção do câmbio no fim do ano não tivesse subido de R$ 1,80 para R$ 2. Nas contas de Curado, uma depreciação do câmbio de 10% eleva a inflação em 0,38 ponto em 12 meses.

O câmbio mais desvalorizado também não impediu que o J.P. Morgan promovesse uma pequena redução em sua projeção para o IPCA, de 5,1% para 5%, considerando que os riscos inflacionários diminuem, dado o crescimento fraco da demanda e o impacto das desonerações tributárias.

 

A desvalorização do câmbio nos últimos meses está longe de ser desprezível, mas o repasse da depreciação do real para a inflação ao consumidor deve ser moderado, num cenário em que a economia global e a doméstica mostram-se anêmicas. Entre fevereiro e maio, a moeda brasileira perdeu 13,5% de seu valor, com o dólar subindo de R$ 1,717 para R$ 1,987.

Estudo do Credit Suisse estima que uma desvalorização do câmbio de 10% gera um repasse para a inflação de 3,5% a 6,1% em 12 meses, o que significa um aumento de 0,35 a 0,61 ponto percentual no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no período, dependendo do modelo usado nos cálculos.

O maior impacto se dá pelos alimentos e bens industriais, também havendo um efeito indireto sobre os preços administrados e serviços, muito influenciados pela inflação passada, diz o economista-chefe do banco, Nilson Teixeira. "No quadro atual, porém, vários fatores indicam que essas estimativas podem estar superestimadas", acredita ele, que projeta um IPCA de 4,8% neste ano, razoavelmente abaixo dos 6,5% do ano passado e próximo do centro da meta perseguida pelo Banco Central, de 4,5%.

O primeiro fator a inibir um repasse exagerado é que os preços das commodities agropecuárias em reais não tiveram aumentos significativos recentemente, porque o recuo das cotações em dólares desses produtos compensa parte do efeito da depreciação do câmbio, nota Teixeira. "Isso sugere que o aumento da inflação de alimentos no IPCA nos próximos trimestres tende a ser mais baixo."

Outro canal tradicional de repasse do câmbio para a inflação é dos preços das matérias-primas industriais para os bens finais. Segundo Teixeira, esse repasse diminuiu muito nos últimos anos. "A menor volatilidade da inflação e da taxa de câmbio e a maior concorrência no mercado doméstico de produtos industriais, em função da crescente penetração dos importados, podem ter contribuído para reduzir o repasse dos maiores custos com insumos para os bens finais", avalia ele.

Por fim, a atividade fraca no Brasil e no mundo também deve evitar que a depreciação do câmbio se traduza em muita inflação, ao reduzir o impacto sobre os preços industriais. "A inflação de bens duráveis no IPCA, teoricamente mais sensível ao efeito da depreciação cambial, recuou na última recessão, ocorrida entre o quarto trimestre de 2008 e o primeiro trimestre de 2009. Ela passou de zero em 2008 para uma deflação de 1,9% em 2009, favorecida pela redução dos preços dos automóveis e pela desaceleração dos demais preços", aponta o estudo.

Segundo Teixeira, a dinâmica da inflação em 2009 sugere que fatores como a queda na demanda por produtos industriais num cenário de baixo crescimento e desonerações tributárias podem reduzir o impacto da depreciação cambial sobre os preços dos bens duráveis. Teixeira diz que, nos últimos anos, o repasse do câmbio para a inflação já diminuiu significativamente. "Há uma década, os modelos chegavam a apontar que uma desvalorização de 10% teria um repasse de 12% a 15% em 12 meses."

No fim de maio, Teixeira revisou a sua projeção para o câmbio no fim do ano de R$ 1,75 para R$ 1,90. Essa mudança na estimativa para o câmbio fez o banco acrescentar 0,41 ponto percentual à sua projeção de inflação para o ano, considerando, nessa hipótese, que uma depreciação do câmbio de 10% provocaria uma alta de 0,48 ponto percentual no IPCA ao fim de 12 meses - a média do intervalo entre 0,35 e 0,61 ponto. No entanto, em um cenário de elevada incerteza externa e doméstica e com baixo crescimento interno, "é razoável assumir que o repasse no curto prazo possa ser menor", diz Teixeira.

Mesmo incorporando esse 0,41 ponto percentual a mais no IPCA por conta do repasse cambial, o Credit Suisse cortou a sua projeção para a alta do indicador no ano de 5% para 4,8%. O banco espera que a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis deve tirar 0,4 ponto da inflação deste ano, assumindo que a medida será prorrogada até 2013. Além disso, o Credit Suisse estima que as tarifas de energia elétrica vão cair 3% em função dos gastos menores com a Conta para o Consumo de Combustíveis (CCC), aliviando a inflação em mais 0,1 ponto. Por fim, Teixeira cortou a projeção em mais 0,1 ponto porque a inflação de janeiro a maio veio abaixo das previsões.

O economista Thiago Curado, da Tendências Consultoria, é outro que não se mostra muito preocupado com o repasse do câmbio para os preços. Segundo ele, o real mais fraco tem funcionado como um amortecedor que impede uma queda mais forte da inflação, mas não como uma fonte de pressões significativas. Em dólares, os preços das commodities estão em queda neste ano, mas, quando convertidos em reais, estão em alta. No entanto, não é um aumento exagerado, diz Curado, observando que a fraqueza da atividade limita o potencial de repasse.

A projeção da Tendências para o IPCA neste ano, de 5,1%, ficaria na casa de 4,8% se a projeção do câmbio no fim do ano não tivesse subido de R$ 1,80 para R$ 2. Nas contas de Curado, uma depreciação do câmbio de 10% eleva a inflação em 0,38 ponto em 12 meses.

O câmbio mais desvalorizado também não impediu que o J.P. Morgan promovesse uma pequena redução em sua projeção para o IPCA, de 5,1% para 5%, considerando que os riscos inflacionários diminuem, dado o crescimento fraco da demanda e o impacto das desonerações tributárias.

 

Veículo: Valor Econômico

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