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24/11/2008 08:34 - Surgem sinais de inadimplência

Começam a surgir sinais de alta da inadimplência e os bancos já esperam uma piora do cenários para o próximo ano, mas nada alarmante. A expectativa é que com a desaceleração econômica em 2009 haverá redução de emprego e renda, fatores determinantes para elevação dos atrasos no crédito. 

 

De maneira geral o percentual de inadimplência (atrasos acima de 90 dias) para pessoas físicas está oscilando entre 7% e 7,5% da carteira total desde o fim de 2005, de acordo com dados do Banco Central. Em setembro, último dado disponível, o índice ficou em 7,3%, abaixo do pico do ano atingido em agosto, 7,5%, e também inferior ao valor mais alto dos últimos anos, de 8,25%, atingido em abril de 2002. 


 
Mas em outubro, alguns dados começaram a apontar para um patamar mais elevado. O indicador Serasa revela crescimento de 4,9% sobre setembro e de 7,5% no ano em relação ao mesmo período de 2007. Os cheques sem fundos a cada mil compensados também aumentaram na variação mensal em 12,3%.

 

A Equifax, empresa de acompanhamento de crédito também registrou elevação no mês passado no volume de cheques devolvidos da ordem de 11,56% em outubro de 2008 em relação a setembro do mesmo ano. "É provável que haja elevação também em novembro, mas a alta deve ser reduzida pelo 13º salário, que muitos usam para liquidar dividas. Vamos ter uma noção melhor entre janeiro e março", avalia Alcides Leite, coordenador do Centro do Conhecimento da Equifax. 

 

Os dados macroeconômicos é que alimentam essa expectativa dos bancos. A queda na renda do trabalhador foi a maior observada desde janeiro de 2006, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Em outubro, o rendimento médio real foi de R$ 1.258,20, queda de 1,3% em relação ao mês anterior. O nível de desemprego nacional correspondeu a 7,5% em outubro. A crise financeira reduziu as contratações formais em outubro a 61,4 mil vagas, pouco menos de um terço em relação aos 205,26 mil postos criados em igual mês de 2007. 

 

Além disso, lembra Leite, as taxas de juros estão mais altas em relação ao primeiro semestre e há escassez de crédito, condições que ajudam num cenário de falta de recursos. "As pessoas tem mais dificuldade para ter acesso ao crédito e para girar seu fluxo de caixa. Por um lado tem menos acesso e por outro o custo financeiro das dividas subiu. Situação muito provável de aumento". 

 

Outro importante indicador, da Associação Comercial de São Paulo, já registra um patamar superior aos anos anteriores. O índice de inadimplência mostra o número de registros negativos líquidos (recebidos menos cancelados) dividido pelo número de consultas ao Sistema Central de Proteção ao Crédito (SCPC) 

 

Historicamente, há um pico de alta em março e uma recuperação em dezembro, por conta da entrada de recursos do décimo-terceiro salário. Analisando o comportamento da curva, no entanto, vê-se claramente que o indicador está mais alto a cada ano. O índice de outubro, 7,01, é o maior para o mês desde 1997, quando atingiu 12,94. 

 

Por conta desses primeiros sinais e da crise mundial que afeta o sistema financeiro, Adalberto Savioli, presidente da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi) espera alta da inadimplência, mas em níveis não preocupantes já que a qualidade da concessão dos empréstimos foi mantida, disse. "A expansão do crédito nos últimos anos se deu pela oferta de produtos mais baratos, trazendo mais pessoas para o mercado, mas houve mudança no processo de concessão". 

 

O maior temor está na linha de veículos, especialmente automóveis usados e motos. Até setembro, o índice de inadimplência (acima de 90 dias) subiu para 3,8%, maior índice desde 2000 (início da série histórica do BC). No ano, a elevação é de 0,8 ponto percentual. Além disso, as parcelas em atraso entre 15 dias e 90 dias já corresponde a 7,4% (alta de 0,7 no ano). 

 

Segundo Savioli, o quadro pode se agravar devido a escassez de linhas para usados. Ele explica que sem crédito, as vendas caem e tendem a puxar o preço dos carros antigos. Isso aumenta a diferença de preços entre o zero e o usado. Assim, quando o novo sai da concessionária, a desvalorização é maior, fazendo com que, muitas vezes, a dívida supere o valor do veículo. 

 

Dentro desse segmento, a atenção maior está voltada para as linhas destinadas ao financiamento de motos. "Tenho uma grande carteira de motos e estou muito preocupado", disse o presidente de uma grande financeira. 

 

Istvan Kasznar, economista-chefe da Acrefi que acaba de lançar um estudo sobre o tema, pondera que apesar a expectativa de alta, o nível de endividamento do brasileiro está abaixo dos padrões mundiais. Segundo ele, no Brasil o chamado superendividamento, quando o indivíduo não tem mais condições de cobrir a dívida com a renda disponível, está ao redor de 7% do total, contra quase 40% nos Estados Unidos. 

 

De fato, o nível de crédito em relação ao PIB no Brasil é da ordem de 40%, metade da média dos emergentes e cerca de um terço dos países desenvolvidos. Segundo dados da Serasa, a renda média do brasileiro é suficiente para cobrir quase quatro vezes o estoque de crédito, contra 1 vez em outros países como Chile, Espanha e Estados Unidos. 

 

Veículo: Valor Econômico

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