Economia
02/04/2012 08:53 - Governo debate ação radical contra importados
Estudo encomendado pelo Ministério do Desenvolvimento propõe forte alta de imposto de importado, mas Fazenda não quer mudança brusca na economia
Setores do governo defendem ações mais agressivas para defender a indústria nacional do que as medidas em gestação no Ministério da Fazenda, que devem ser anunciadas na terça-feira. O 'Estado' teve acesso a detalhado estudo feito por técnicos do governo a pedido do ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel.
Sob o título "Indústria de transformação e concorrência externa predatória, uma proposta de mitigação dos efeitos", o documento é uma apresentação de 35 slides, que expõe duas propostas "complementares" para "aumentar a competitividade da indústria da transformação e mitigar o problema cambial".
A primeira proposta é a desoneração da folha de pagamentos combinada com a criação de uma sobretaxa para os produtos importados. A segunda é elevar o IOF indiscriminadamente para todas as operações cambiais.
Apresentadas por Pimentel, as medidas são consideradas uma brusca mudança na condução da economia pela equipe do ministro Guido Mantega. Procurada, a assessoria do ministério do Desenvolvimento disse apenas que "a discussão (desoneração da folha) está no âmbito da Fazenda" e não quis comentar o estudo.
Desonerar a folha de pagamentos é uma proposta de campanha da presidente Dilma Rousseff. O maior empecilho sempre foi a restrição orçamentária. O documento aponta uma saída ao sugerir a criação de uma Cofins (Contribuição para o Financiamento de Seguridade Social) adicional e um mecanismo de crédito tributário para a indústria.
A operação funcionaria da seguinte maneira. Primeiro, o governo reduziria de 20% para zero a contribuição patronal do INSS para toda a indústria. O custo estimado é de R$ 20 bilhões.
Em conjunto, criaria uma Cofins adicional de 9% para todos os produtos manufaturados. Mas, em seguida, concederia para a indústria instalada no País um crédito tributário equivalente. A arrecadação extra resultante seria de R$ 27,3 bilhões - suficiente para pagar a desoneração da folha de pagamentos.
O documento especifica que a arrecadação extra de R$ 7,3 bilhões é necessária para cobrir a queda de receita provocada pela redução das importações e pela exclusão dos produtos vindos dos países do Mercosul.
Só importados. O objetivo declarado da operação seria onerar só os importados. Logo no terceiro slide, é dito que a meta é "reduzir o custo Brasil embutido na folha de pagamentos, transferindo-o para o trabalho externo".
Pelos cálculos do estudo, o fim da contribuição do INSS sobre a folha de salários significaria uma redução de custo para as empresas de 5,4%. Somada a majoração de 9% dos itens importados, a diferença a favor dos bens produzidos no País seria de 15% - equivalente a uma desvalorização cambial relevante.
Apenas no governo atual, Mantega já realizou 13 alterações nas alíquotas e nos prazos do IOF. A proposta defendida por Pimentel é mais ambiciosa: elevar o IOF para todas as operações cambiais, exceto exportações e investimento direto. No entanto, as empresas teriam que comprovar suas exportações e seus investimento para serem ressarcidas. Essa segunda proposta já havia sido relevada pela Agência Estado e foi negada por uma nota veemente da Fazenda.
Veículo: O Estado de S.Paulo
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