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06/02/2012 11:23 - Exportador usa câmbio conservador em contratos

Há cerca de um mês, em fim de dezembro, o dólar custava R$ 1,87. Na última semana chegou a ficar em patamar abaixo de R$ 1,75. Variável importante na rentabilidade das exportações, o câmbio tem oscilado e feito as empresas aproveitarem os picos de desvalorização da moeda nacional em relação ao dólar para trazer recursos oriundos da exportação, além de usar mecanismos de proteção, como o hedge. Mesmo com a expectativa de um dólar médio em 2012 entre 7% e 10% mais caro que o de 2011, os exportadores também têm sido conservadores nas estimativas de câmbio que usam para definir os preços de venda ao exterior.

José Augusto de Castro, presidente em exercício da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), diz que os exportadores, em média, têm considerado um dólar extremamente conservador, em torno de R$ 1,70, cotação que garante margem de segurança num ambiente de grande oscilação da moeda americana. De qualquer forma, diz Castro, é uma estimativa de dólar acima do R$ 1,60 a R$ 1,65 que foi usado pelos exportadores no ano passado. "O que as empresas têm feito é acompanhar a cotação da moeda americana e, se possível, trazer para o país a receita de exportação no momento em que o real está mais desvalorizado."
 
Ele diz que algumas empresas aproveitam um fechamento de contrato num patamar mais alto de dólar. Mas, nesse caso, a venda costuma ser acompanhada por uma proteção financeira que garanta o recebido do valor exportado naquela cotação.

A fabricante de calçados Via Uno, que tem 35% do seu faturamento resultante da exportação, tem usado na coleção inverno um preço de dólar 7% ou 8% mais alto do que o usado no ano passado, em média. "Existe uma expectativa de que o câmbio este ano seja mais favorável para as exportações", diz Rodrigo Matos, gerente de exportação da indústria de calçados. Mesmo assim, conta, a empresa não se surpreendeu com a valorização do real em relação ao dólar no decorrer de janeiro. "A cotação ainda está dentro da nossa projeção porque fomos conservadores e não apostamos em um dólar muito alto."

A West Coast, que comercializa a marca Cravo e Canela, resolveu usar mais instrumentos de proteção financeira. Nos últimos dois anos, diz o diretor de mercados Eduardo Smaniotto, a fabricante de calçados não havia usado hedge. Este ano, diz ele, esse mecanismo de proteção já atinge cerca de 30% das operações de exportação. Atualmente a exportação representa cerca de 20% do faturamento da empresa. Por enquanto, diz Smaniotto, a empresa tem trabalhado com um dólar 9% mais caro do que o usado no mesmo período do ano passado para a definição dos valores dos contratos de exportação.

Mesmo com todos os cuidados, Smaniotto não crê que um dólar médio mais alto em 2012 seja o suficiente para repor a perda de competitividade resultante da valorização do real. Por isso, a empresa estima que em 2012 haverá queda de 20% no valor exportado. Uma das preocupações para o cenário deste ano está na Argentina, que representa 30% do mercado de vendas ao exterior da calçadista.

Ricardo Brito, diretor-comercial da Pimpolho, acredita que o movimento de valorização do real perante o dólar em janeiro será revertido novamente. Mesmo assim, Brito diz que a oscilação nesse nível já era estimada pela empresa. A calçadista acredita que a cotação média do dólar ficará 8% maior que a do ano passado. Otimista, Brito diz que a meta da empresa é aumentar em 45% sua exportação.

"Na verdade estamos apenas com 5% do faturamento na exportação. Como é pouco, não é tão difícil crescer", acredita Brito. Ele conta que atualmente 70% das vendas ao exterior da empresa são destinadas à America Latina. A estratégia para 2012, além de reforçar esse mercado, é buscar novos clientes em países do continente africano.

Norberto Fabris, diretor da divisão de implementos da Randon, diz que a empresa também estima para 2012 um patamar de dólar médio mais alto que o do ano passado. Mas, segundo ele, a empresa praticamente não mudou o câmbio considerado para as suas vendas ao exterior. "Nossos produtos têm um ciclo longo e podem demorar de seis a oito meses para serem entregues, principalmente quando são produtos especiais que precisam passar por um desenvolvimento", diz. Para ele, é preciso esperar uma estabilidade maior no preço do dólar para que haja um efeito mais prático do câmbio na definição de preços. "Um dólar entre R$ 1,85 e R$ 1,90 seria razoável", diz.



Veículo: Valor Econômico

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