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12/01/2012 12:57 - No Ceará, produção recua, mas emprego, não

De janeiro a novembro, a produção física de calçados e têxteis no Ceará caiu fortemente - entre 23% e 25% -, enquanto o emprego formal, com carteira assinada, manteve-se constante nos dois segmentos. A reversão dessa situação pode ter começado em dezembro, quando uma série de medidas de adequação, como a adoção de férias coletivas e recolocação de funcionários, se esgotou, segundo diferentes segmentos da economia cearense ouvidos pelo Valor. De acordo com o sindicato local da indústria, pelo menos uma grande empresa fez demissões no fim de 2011.

A produção industrial do setor têxtil caiu 24,7% no Ceará até novembro, na comparação com o mesmo período de 2010, segundo a Pesquisa Industrial Mensal de Produção Física - Regional (PIM-PF) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em compensação, o saldo de empregos no mesmo intervalo de 2011 foi positivo. Foram criadas 846 vagas na indústria têxtil e de vestuário, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o que representou um crescimento frente ao saldo de empregos no setor no fim de 2010: 1,18%. Cenário semelhante é visto no setor de calçados. Enquanto a produção caiu 22,2% na comparação entre os acumulados de janeiro a novembro dos dois últimos anos, o emprego recuou apenas 1,28%, com o fechamento de 824 vagas.

Diferentes analistas da economia cearense não possuem uma única explicação para esse descompasso entre produção e mão de obra formal nos dois setores. Entre as causas apontadas estão o aumento da importação pelas próprias indústrias, a expectativa de uma retomada (que leva o empresário a segurar demissões) e o custo expressivo de treinamento de mão de obra.

"A produção caiu no setor sapateiro porque as indústrias começaram a importar componentes. A plataforma [sola] do sapato era produzida aqui e passou a ser importada", diz Reginaldo de Aguiar, técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) regional. Segundo ele, os funcionários foram direcionados para outras atividades produtivas, uma vez que a demanda pelos produtos do setor continua aquecida. "Esse mercado ainda cresce. Você produz menos, aumenta a importação, mas acaba acomodando essa mão de obra e evitando uma crise", afirma.

As demissões, contudo, devem ser vistas em maior escala nos resultados de dezembro, segundo Germano Maia, presidente do Sindicato da Indústria da Fiação e Tecelagem do Ceará. "O confeccionado chinês é o principal problema da indústria. As empresas têxteis no Ceará produziram o possível sem demitir, mas, no fim do ano, quando viram os altos estoques e as perspectivas fracas, tomaram, finalmente, medidas fortes. Os números de novembro do IBGE e do Caged ainda não mediram esse reflexo." Faz parte do pacote de medidas citado por Maia o fechamento de uma das cinco fábricas da Têxtil Bezerra de Menezes no Estado, o que representou cerca de 400 demissões.

Entre especialistas do setor, existem várias hipóteses que justificam a manutenção do nível de emprego nos setores de calçados e têxtil da indústria cearense em 2011 - apesar do resultado ruim. A adoção de férias coletivas é o movimento mais comum nas indústrias em momentos de acúmulo de estoque. "Até o momento, o emprego tem sido sustentado por essas 'paradas'. A Vulcabras marcou férias coletivas para fevereiro. O redirecionamento da mão de obra para o mercado interno, considerando a queda que houve na exportação de calçados, ajuda a controlar as demissões", diz Francisco Paiva das Neves, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Calçados do Ceará.

Outro palpite forte entre os industriais no Estado aponta para o receio de que seja ainda mais difícil - e caro - recontratar e treinar a mão de obra em um momento de recuperação desses setores do que lidar, agora, com a produção em baixa. Os investimentos para a Copa do Mundo ameaçam tirar profissionais do mercado. "Os empresários preferem manter seu quadro de funcionários na expectativa de melhorias. O mercado de trabalho está aquecido em decorrência dos investimentos ligados à Copa de 2014 e essas atividades são grandes absorvedoras de pessoal. Além disso, a qualificação de mão de obra não ocorre a curto prazo", segundo Eloisa Bezerra, do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece).

"O empresário não quer reduzir custo pouco depois de fazer um investimento em pessoal. Os setores de calçados e têxtil têm grande rotatividade, há muitas empresas se instalando no Estado e, logo, com investimento recente em pessoal", diz Roberto Macedo, presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec). Segundo ele, a automatização no setor têxtil permite que a produção seja reduzida sem afetar o emprego.

De acordo com a Fiec, a balança comercial da indústria no Estado fechará com déficit de US$ 1 bilhão em 2011. O aumento da importação de matérias-primas para a própria indústria é o maior responsável por esse desempenho. Na visão de Macedo, o emprego nos dois setores corre risco. "Temos várias fábricas no Ceará que estão perto de fechar."


Veículo: Valor Econômico

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