Economia
06/01/2012 11:24 - País perde espaço para vizinhos da AL
O Brasil perdeu espaço para a vizinhança ao longo do ano passado em operações de finanças corporativas. Em outros países latino-americanos, as fusões e aquisições e as ofertas de ações tiveram um desempenho superior ao do país com a maior economia da região.
A dianteira dos "hermanos" em 2011 apareceu com mais força no mercado de oferta de ações de empresas. Essas operações somaram US$ 20,2 bilhões na América Latina, excluindo-se o Brasil, quatro vezes o volume registrado em 2010, segundo dados da Dealogic. No Brasil, por outro lado, o volume levantado na bolsa de valores para financiar as empresas caiu 77,3%, para US$ 11,1 bilhões. Mesmo deixando-se de lado a operação bilionária da Petrobras, feita em 2010, ainda assim há uma retração em 2011.
A maior oferta de ações da América Latina no ano passado foi a da Gerdau, de US$ 2,5 bilhões, mas logo na segunda posição aparece o Grupo de Inversiones Suramericana, uma holding da Colômbia que detém o Bancolombia e uma seguradora, entre outros ativos. A operação somou US$ 1,7 bilhão.
Se em 2009 e em 2010 o Brasil deteve uma fatia de quase 90% das ofertas de ações, no ano passado o quinhão caiu para 35,5%, apesar de o país ainda manter a liderança. A Colômbia, por exemplo, encerrou o ano com US$ 6,3 bilhões em venda de papéis em bolsa, atrás apenas do Brasil.
Em fusões e aquisições, ninguém passou ileso pela contração. Mas, enquanto o volume financeiro de negócios com empresas brasileiras caiu 45,2%, no restante da América Latina teve queda mais suave, de 31,7%.
Só nas emissões de papéis de dívida é que o Brasil puxou a média da região latino-americana toda. O crescimento do volume emitido aqui foi de 7,6%, enquanto o resto da vizinhança registrou alta de 1,54%.
Não é à toa que os próprios bancos brasileiros estão buscando avançar para além das fronteiras nacionais. O BTG Pactual, por exemplo, deve fechar ainda neste mês a compra da corretora chilena Celfin. Também negocia outra corretora na Colômbia. Já o Itaú abriu um banco de atacado na Colômbia, por meio do Itaú BBA, e adquiriu as agências do HSBC no Chile. Fundos de "private equity" estrangeiros que antes tinham base apenas no Brasil, agora abrem escritórios pela vizinhança, como é o caso do Advent.
Além da grande capacidade de geração de negócios, os vizinhos do Brasil também estão absorvendo muitos papéis lançados por companhias brasileiras. "A região virou um importante bolsão de distribuição de ativos brasileiros, principalmente Peru, Colômbia e Chile", afirma Guilherme Paes, sócio do BTG Pactual. São países que até pouco tempo atrás não faziam parte do roteiro de distribuição dos bancos de investimento, mas que ao longo deste ano compraram papéis de empresas como TAM, BrasilTelecom e Eletrobras.
Há algumas explicações para "los hermanos" estarem se saindo melhor agora. Uma delas é que a perspectiva de crescimento das economias da região, principalmente Peru, Chile e Colômbia, é maior do que a esperada para o Brasil. Isso tem feito com que empresas desses países já sejam negociadas a múltiplos de preço em relação ao lucro superiores.
Outro motivo para o pior desempenho do Brasil está justamente em um dos pontos fortes que o país tem diante dos outros. Ignacio Adame, vice-presidente executivo do Santander, explica que diversos mercados latino-americanos são menores e mais fechados, sendo menos afetados pela crise internacional. "O Brasil é um mercado maior e mais internacionalizado. Os problemas externos atingem mais essas economias. O Brasil é um país exportador, depende mais do que acontece com China e Estados Unidos."
Também atrapalhou o Brasil o fato de as poucas emissões de ações realizadas em 2011 não terem tido um bom desempenho no mercado secundário, assustando os investidores. Mesmo no exterior, as ofertas iniciais (IPO, da sigla em inglês) não mostraram um desempenho interessante, diz Hans Lin, co-chefe de banco de investimento do Bank of America Merrill Lynch. A avaliação que serviu para atrair o investidor não deu o retorno esperado após o início das negociações, diz Lin, do BofA.
Veículo: Valor Econômico
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