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14/11/2011 08:24 - Mercado vê taxa de juros abaixo de 10% em abril


Aposta de analistas é de nova redução nas reuniões do Copom em dezembro e janeiro, com a Selic chegando a 9,97% ao ano em abril


Na tarde de sexta-feira, o mercado futuro de juros indicava que a Selic, a taxa básica de juros, vai cair dos atuais 11,5% ao ano para pouco menos de 10% em abril. Desde outubro, à medida que a crise europeia ia se agravando, as taxas dos contratos futuros tiveram tendência de queda, refletindo projeção de cortes mais acentuados da Selic nos próximos meses.

O contrato de janeiro de 2013, por exemplo, saiu de 10,39% em 27 de outubro para 9,97% no fim da tarde de sexta-feira.

A aposta do Banco Central (BC) no forte impacto da crise europeia na atividade econômica no Brasil parece ter sido plenamente aceita pelo mercado financeiro. Em 31 de agosto, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) cortou a Selic de 12,5% para 12%, parte expressiva dos analistas reagiu com contrariedade, considerando a ação prematura diante do quadro internacional ainda incerto.

Agora, a situação europeia deteriorou tanto que o mercado parece antever quedas da Selic ainda mais fortes do que a comunicação do BC, que tem reiterado a expressão "ajustes moderados".

"Os spreads dos bônus italianos foram subindo e a gente viu aqui os DIs (contratos futuros de juros) indo para baixo", diz Carlos Kawall, economista-chefe do banco de investimento J. Safra. Ele se refere ao fato de que, à medida que piorava a percepção de risco da Itália, os juros pagos pelo governo do país para colocar títulos públicos foram aumentando, chegando a se distanciar em mais de cinco pontos porcentuais do custo de captação da Alemanha no pior momento da crise.

No extremo, para quem já vê um cenário de ruptura da zona do euro como o mais provável, a Selic pode cair bem abaixo de 9% em 2012. Mas essa é uma aposta minoritária, que não se reflete até agora no mercado futuro.

O fato de que o mercado financeiro agora projeta firme queda da Selic, acompanhando o agravamento da crise internacional, não quer dizer que há aprovação unânime da estratégia do BC.

"Uma coisa é dizer que o mercado está prevendo, outra é dizer que todo mundo concorda com isso", diz um ex-diretor do BC. Ele nota que, de fato, na última semana o mercado futuro começou a projetar aceleração dos cortes da Selic, inclusive indicando em alguns dias a possibilidade de que o corte da taxa básica nas reuniões do Copom de dezembro e janeiro seja de mais de 0,5 ponto porcentual.

Mas, para o economista, se de fato o mercado considerasse esses cortes corretos, a previsão de inflação para 2012 seria em torno de 4,5%, o centro da meta, como o BC prevê. No entanto, segundo a última rodada de coleta de projeções do BC, a mediana das previsões de analistas de bancos e consultores para o IPCA de 2012 está em 5,57%.

Compromisso. Para Alexandre Schwartsman, da consultoria Schwartsman & Associados, outro ex-diretor do BC, "o mercado está lendo corretamente que o BC não tem mais o mesmo compromisso com a meta de inflação, mas sim compromisso de não deixar que o crescimento caia abaixo de um certo nível".

Ele acha, porém, que no início de 2012, se o cenário não estiver apontando para a convergência da inflação para o centro da meta - o que considera mais provável -, o BC deve parar de cortar a Selic. "No momento, eles contam que a crise possa fazer o serviço para eles, permitindo que sigam cortando a Selic".

Por outro lado, Kawall nota que, na sexta-feira, enquanto os contratos futuros de juros mais curtos subiram um pouco, voltando a sinalizar maior possibilidade de cortes de 0,5 ponto nas próximas reuniões, os contratos mais longos caíram.

Ele observa que, de acordo com a lógica das últimas semanas, um dia de relativa tranquilidade externa, como sexta-feira, levava à alta dos contratos futuros de juros no Brasil.

A lógica é justamente a de que um cenário internacional não tão ruim desacelera menos a economia brasileira. O movimento atípico dos DIs mais longos na sexta, para Kawall, pode ter refletido confiança maior do mercado na disciplina fiscal do governo. "O mercado parece comprar cada vez mais não só a leitura do BC (sobre a crise internacional), mas também a política fiscal".


Veículo: O Estado de S.Paulo

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