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07/11/2011 12:11 - Sem euforia, indústria planeja vender mais no Natal

Os fabricantes de bens de consumo típicos de fim de ano preveem crescimento das vendas em relação ao Natal do ano passado. A diferença, porém, é que a euforia de 2010 deu lugar a uma produção mais planejada, sem "surpresas" no fim do ano. Algumas empresas anteciparam a produção, como a Whirpool, ou contam com os estoques excedentes do primeiro semestre, como a Nokia. Com isso, a contratação de temporários neste quarto trimestre desacelerou em relação ao ano passado, segundo levantamento do Valor junto a 12 empresas. Na maioria dos casos, também, o crescimento previsto é um pouco menor do que o registrado no ano passado.

Para a maioria dos empresários, é o Natal brasileiro, ainda animado por renda em alta e baixo desemprego, que sustentará o crescimento. Na contas do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o décimo terceiro salário deste ano será 16% superior ao do ano passado, uma combinação de mais emprego e rendimento maior. Em valores, são R$ 118 bilhões circulando a mais entre novembro e dezembro. Além disso, algumas empresas, contudo, como a Black & Decker, reforçam a ajuda - um pequeno presente de Natal antecipado - que a recente valorização cambial deu à competitividade dos fabricantes brasileiros.

A fabricante de brinquedos Estrela calcula que as vendas no Natal deste ano cresçam cerca de 10%. No ano passado, o avanço em relação a 2009 foi de 12%. A diferença é pequena, considerando a desaceleração da economia brasileira em 2011, e por isso o crescimento é muito bem visto pelo presidente da empresa, Carlos Tilkian. "O quadro ainda é positivo, não tão forte quanto o do ano passado, mas 10% é um bom crescimento." Segundo o empresário, o Natal no setor de brinquedos só começa em novembro, quando as contas referentes ao dia das crianças começam a ser fechadas e é possível planejar a produção e a reposição de estoques para o Natal. Para a Estrela, o último trimestre representa 75% das vendas do ano inteiro.

Renda em alta, baixo desemprego e décimo terceiro 16% maior explicam as projeções de um bom Natal

Os setores de áudio e vídeo e foto da Samsung também preveem crescimento de faturamento na casa de 10% para este Natal, em comparação com o último. As encomendas em volume subiram ainda mais: 15%. Em relação às vendas de câmeras digitais, o avanço sobre o ano passado chega a 35% em valor, de acordo com José Fuentes, vice-presidente de eletrônicos e consumo da empresa. "A fotografia começou a ingressar nas classes C e D, que antigamente não se preocupavam com isso. O mercado cresceu em 2011", diz o executivo.

A Lupo, tradicional fabricante de meias que opera outras linhas de produtos, também comemora a produção para o fim de ano. Apesar de um crescimento menor do que o de 2010, quando a alta foi de 22%, o aumento de 18% em 2011 ficou dentro da capacidade da empresa, segundo o diretor comercial Valquírio Cabral Júnior. "Estamos operando no limite, mas dentro do que planejamos no começo do ano. No Natal passado só conseguimos atender 70% dos pedidos", afirma.

Entre as causas da desaceleração em relação ao ano passado, o diretor acredita que os consumidores estão menos impulsivos agora. "O pessoal está mais seletivo do que antes. Vamos ter um bom Natal neste ano, até porque como o de 2010 vai ser difícil repetir", conclui.

Mesmo quem planeja crescimento menor está otimista. "Crescer 5% não tem nenhuma anormalidade", diz Cláudia Sender, diretora de marketing da Whirpool para a América Latina, fabricante das marcas Brastemp e Consul Apesar de as vendas terem crescido 15% no Natal de 2010, ela diz que há uma oscilação natural no setor de linha branca. "O ticket médio está bem mais alto", reforça. "Vemos um crescimento em categorias que eram consideradas supérfluas. Um dos nossos grandes motores de crescimento no Natal de 2011 será a lava-louças, que hoje tem menos de 2% de penetração nos lares brasileiros", avalia Cláudia.

Esse cenário é parcialmente compartilhado pela Nokia, que teve um "excelente ano" em vendas, mas espera estagnação no Natal. "Talvez as vendas sejam até um pouco menores em virtude do grande crescimento no ano passado", diz Enrico Porta, diretor financeiro da empresa. Porta atribui esse resultado ao desempenho da economia no país. "A gente sofre diretamente com a desaceleração da economia: crescimento menor, demanda menor. O mercado de celular é muito atingido", diz ele.

A desvalorização recente do real deu mais competitividade aos produtos fabricados no país neste fim de ano

O executivo, contudo, não está decepcionado com esse resultado e diz que a empresa estava bem preparada para o nível de atividade no segundo semestre. "Conseguimos nos programar para o fim do ano com a capacidade instalada no primeiro semestre", explica. A Nokia, que viu as vendas de celulares crescerem muito no começo do ano - a empresa não forneceu números -, contratou, naquele momento, funcionários fixos para atender essa demanda. Por isso, a contratação de temporários para o Natal foi menor do que no ano passado. "Mas a de fixos neste ano foi maior", reforça o executivo.

Outro sinal positivo para a Nokia é que no começo de novembro as vendas estão mais próximas do que foi planejado para o ano do que os resultados apresentados no mesmo momento do ano passado. E o ticket médio também aumentou. "Produtos mais caros, como smartphones, estão puxando as vendas. As vendas de celulares com teclado no aparelho e com dois chips que podem ser de operadoras diferentes crescem bastante", diz Porta. Segundo ele, o fato de o brasileiro ter, em média, mais de um celular por habitante, mostra que as novas compras não são apenas uma reposição de aparelhos, mas que as pessoas estão buscando equipamentos mais avançados.

O mesmo não foi verificado por Fuentes nos setores de áudio, vídeo e foto da Samsung, mas ele destaca que o consumidor "saiu ganhando". Segundo o executivo, quem compraria há um ano uma televisão de 32 polegadas, hoje compra uma de 40 ou uma com tela em LCD. "O ticket médio está caindo em torno de 25%, mas as compras estão mais sofisticadas". Ou seja, com menos dinheiro, pode-se comprar produtos mais avançados em relação às compras no mesmo período do ano passado.

Na Estrela, a contratação de temporários também não avançou no mesmo ritmo que as vendas. O número desse tipo de ocupados aumentou 3% em relação aos que foram contratados para o Natal do ano passado. A solução para essa conta em que a produção cresce muito mais que a contratação de funcionários é o aumento de produtividade. Na Estrela, o que proporcionou esse aumento foi o giro maior de produtos, segundo o presidente da empresa. Na Samsung, o ano correu de acordo com o que foi planejado, segundo Fuentes.

A demanda por uma mão de obra extra para suprir os pedidos fez o quadro total da Mallory aumentar em 55% na linha de produção. Além dos 248 funcionários fixos, a empresa de eletrodomésticos contratou mais 138 temporários, reflexo do crescimento de 15% da produção visando o Natal. Para o diretor comercial Wilson Brambilla, a demanda surpreendeu positivamente. "Nos preparamos ao longo dos meses para atender aos pedidos, mas mesmo assim foi inevitável a contratação dos temporários", diz.

No caso da Black & Decker do Brasil, os temporários vão virar efetivos em 2012. Atualmente, 850 pessoas trabalham na linha de produção da empresa, que com a expansão dos pedidos aumentou o efetivo de mão de obra em 20%. O que forçou esse crescimento foi a capacidade da fábrica, que operou no máximo em outubro para atender as encomendas, principalmente as de eletrodomésticos, de acordo com o presidente Paulo Martins. "Vamos manter o efetivo no ano que vem, já que alguns dos novos processos produtivos serão incorporados na planta", afirma.

Depois de um terceiro trimestre mais fraco em vendas, a Black & Decker prevê um aumento de 18% no faturamento de fim e ano em relação ao registrado no ano passado. A desvalorização recente do real, que flutua agora em um patamar de R$ 1,75, deu mais competitividade aos produtos produzido no país, segundo Martins.



Veículo: Valor Econômico

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