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05/09/2011 10:48 - Cauteloso, comércio adia encomendas

Com o desaquecimento da economia, as lojas projetam movimento mais modesto no fim do ano, com alta de no máximo 5% nas vendas

 

O comércio decidiu adiar as encomendas de fim de ano às indústrias e projeta um Natal moderado, com crescimento de 5% sobre o de 2010, que foi o melhor da década. Apesar de positivo, o acréscimo é bem menor que o registrado em 2009 e 2010, quando a taxa foi de dois dígitos (15%). O desempenho também está aquém da projeção inicial da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), que era de 7% e foi reduzida para 5%.

 

A cautela do varejo se mantém mesmo após o Banco Central (BC) ter cortado em 0,5 ponto porcentual os juros básicos, hoje em 12% ao ano. Estoques elevados nas fábricas, perda de fôlego no consumo em julho e agosto e o acirramento da crise nos EUA e na Europa aumentaram as incertezas em relação aos volumes de pedidos para o Natal.

 

"As lojas vão esperar até o último momento para fechar as encomendas", diz o economista da ACSP, Emílio Alfieri, relatando depoimentos feitos por varejistas em recentes reuniões.

 

Ele observa que, apesar de os números ainda serem positivos, houve uma forte desaceleração das vendas nos últimos dois meses. Em julho e agosto, a média de consultas para vendas à vista e a prazo cresceu 2,6% em relação a igual período de 2010. No primeiro e no segundo trimestres deste ano, as taxas anuais de crescimento tinham sido de 7,7% e 5,7%, respectivamente. "Foi uma queda forte", diz.

 

Ele ressalta que a correlação entre as vendas no varejo e o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) é grande e que a desaceleração é o primeiro estágio da recessão. Observando esses sinais, provavelmente, diz ele, o BC decidiu cortar os juros agora para evitar que a variação do PIB seja nula ou negativa no primeiro trimestre do ano que vem.

 

Outros especialistas dizem que como o emprego e a renda ainda apresentam bom desempenho, é pouco provável que a economia sofra uma retração.

 

Estoque. O enfraquecimento no ritmo de vendas fez o estoque subir nas lojas e nas indústrias. No mês passado, 9,5% de 1.184 indústrias consultadas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) para a sondagem industrial informaram que estavam com estoques excessivos. Em julho essa fatia era de 6,6% e em agosto de 2010, de 7,5%. "Esse é o maior porcentual de indústrias com estoques indesejáveis desde julho de 2009, quando esse índice era de 10,6%", afirma o responsável técnico pela pesquisa, o economista Jorge Ferreira Braga.

 

De 14 segmentos industriais pesquisados, 11 apresentaram elevação de estoques em agosto, quase o dobro do registrado em julho, quando seis segmentos tinham tido alta de estoques. Entre os mais estocados, estão a indústria automobilística, com 23,4% das montadoras com volume excessivo de produtos, vestuário e calçados (16,5%), têxtil (16,1%), produtos farmacêuticos (18,3%), alimentos (15,9%) e metalurgia (12,9%).

 

Braga diz que os estoques estão pesando na indústria porque a demanda doméstica por industrializados se retraiu e atingiu em agosto o nível mais baixo desde setembro de 2009. "A sondagem indica que a perspectiva de produção e de contratações entre agosto e outubro, quando as fábricas estão a todo vapor por causa do Natal, não será nada brilhante como nos últimos anos."

 

A pesquisa mostra que 36,5% das indústrias esperam aumento da produção entre agosto e outubro, ante 43,7% em 2010. Quanto às contratações, 22,6% vão admitir funcionários, ante 30,6% em agosto de 2010. É o terceiro recuo seguido da fatia de indústrias com planos de contratar.

 

"Pensar na indústria em expansão neste semestre parece meio difícil", afirma o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale. Ele diz que o setor continua prejudicado pela concorrência dos importados e pela perda de dinamismo nas exportações.

 

Mas Vale acredita que o cenário doméstico ainda será muito favorável, principalmente por conta do mercado de trabalho, com ganhos de renda e emprego em alta. "O mercado de trabalho garantirá um resultado positivo no fim do ano", prevê.

 


5% é o quanto se prevê de crescimento das vendas neste Natal
15% foi o índice em 2009 e 2010

 


Varejo aposta nos eletrônicos contra crise Vendas de fim de ano devem ser impulsionadas por produtos mais caros, como as TVs de tela fina e 3D, que prometem ser as estrelas do Natal

 

Apesar de estarem adiando as encomendas e admitirem que as vendas esfriaram, as grandes redes varejistas oficialmente ainda apostam em perspectivas favoráveis para o fim de ano. O principal motor deve ser a venda de eletroeletrônicos, impulsionada pelo emprego em níveis elevados e pelos reajustes salariais acima da inflação neste semestre.

 

As redes varejistas estão dispostas a atingir as metas de vendas mesmo que o mercado não tenha crescimento significativo. "Aposto num fim de ano forte", diz Roberto Fulcherberguer, vice-presidente comercial da Globex, que reúne a Casas Bahia e o Ponto Frio.

 

Ele não revela a meta de crescimento de vendas para o Natal nem quanto vai ampliar as encomendas, mas destaca que ela será cumprida, mesmo que o mercado não cresça na mesma proporção. Isso significa que a empresa considera nessa meta ganhos de fatias de mercado da concorrência. "Estamos iniciando as conversas com a indústria para fazer as encomendas", conta.

 

"Ainda não fiz as encomendas", diz o supervisor-geral da Lojas Cem, José Domingos Alves. Ele projeta crescimento de 20% nas vendas de Natal em relação à mesma data de 2010. Segundo o executivo, o cenário de vendas só vai mudar se houver desemprego no País. "Os reajustes salariais vão sustentar o consumo", acredita o executivo. Outro fator apontado por ele para que as vendas aumentem neste Natal é a estabilidade de preços dos bens duráveis.

 

Thiago Baisch, diretor de vendas da Lojas Colombo, projeta alta de 10% nas vendas de Natal. "Esse é o ritmo que temos observado até agosto", conta o executivo. Entre os destaques de produtos para o Natal, ele aponta os televisores de LED e 3D, de todas as polegadas, e também as TVs de LCD acima de 42 polegadas, tablets e os smartphones. Como esses produtos são de maior valor unitário, ele prevê um acréscimo na receita média de vendas.

 

Indústria

 

"Houve desaceleração, mas o cenário é favorável para o Natal por causa do aumento do emprego, da renda, dos dissídios salariais e, agora, o juro menor", diz o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Produtos Eletrônicos (Eletros), Lourival Kiçula.

 

Nas contas do executivo, a linha de áudio e vídeo deve ter a maior taxa de crescimento de vendas entre as demais linhas, isto é, os eletrodomésticos da linha branca (geladeiras, fogões e máquinas de lavar) e os eletroportáteis.

 

Segundo Kiçula, o faturamento dos eletrônicos será impulsionado por produtos mais caros: as TVs de tela fina e 3D, uma das estrelas do Natal. A expectativa é de alta de 15% a 18% nos volumes a serem vendidos. Já a expectativa para a linha branca é de crescimento de 5% a 7% e nos eletroportáteis, de 10%.

 

José Fuentes Molinero, vice-presidente de eletrônicos de consumo da Samsung, acha que as vendas da empresa vão crescer de 10% a 15% entre setembro e dezembro em relação a 2010, puxadas pelos tablets. A LG espera acréscimo de 40% nas vendas de TVs em geral entre setembro e dezembro, segundo o diretor de áudio e vídeo, Roberto Barboza.

 

Apesar do otimismo, as duas companhias coreanas não planejam contratações de trabalhadores temporários para atender as encomendas do Natal. Na sexta-feira, por exemplo, a LG iniciou programa de demissão voluntária na fábrica de celulares em Taubaté (SP). Essa foi a saída encontrada pela empresa para ajustar a produção à demanda menor, depois de ter dado 10 dias de férias coletivas.

 

Com o real valorizado e a sinalização de forte crescimento do consumo no primeiro trimestre, as indústrias e varejo que trabalham com itens importados ampliaram significativamente as compras.

 

A Sertrading, por exemplo, um das gigantes do comércio exterior, ampliou em 30% as compras de importados para este Natal na comparação com o mesmo período do ano passado, de acordo com o diretor comercial, Luciano Sapata.

 


Veículo: O Estado de S.Paulo

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