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19/08/2011 11:46 - Alimentos puxam volta da inflação

Os três índices de inflação divulgados nesta semana confirmaram que o começo de agosto deixou definitivamente para trás a deflação de preços agrícolas. Os preços voltaram a subir e os índices ficaram um pouco acima das expectativas de analistas consultados pelo Valor, puxados pelos alimentos. Segundo economistas, os dados recentes podem mudar projeções para o fim de agosto, mas não alteram o cenário inflacionário do fim do ano, que registrará IPCA próximo de 6% e, na projeção de um analista, ultrapassará o teto da meta, atingindo 6,6%.

 

Como fontes de pressão inflacionária ao longo do ano, a despeito de um ainda incerto alívio das commodities como reflexo das turbulências externas, são apontadas a demanda aquecida, que chancela aumentos nos serviços, e altas nos alimentos e transportes, com a entressafra do álcool tendo início em outubro.

 

O Índice Geral de Preços - 10 (IGP-10), divulgado ontem, teve alta de 0,2% em agosto, contra deflação de 0,12% no índice de julho. O Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S), por sua vez, teve rápida elevação entre a primeira e a segunda semana do mês, ao passar de recuo de 0,01% para alta de 0,17%. Outro IPC, o da Fipe, subiu 0,41% no período (acima do 0,33% da primeira semana de agosto).

 

"Nossas projeções subestimaram a inflação dessa semana", afirma Thiago Curado, da Tendências Consultoria Integrada. O movimento que causou as altas, no entanto, já estava na sua conta. "Tanto no atacado como para o consumidor, o que puxou os indicadores de forma mais forte foram as carnes". Os bovinos subiram 2,26% no Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) de agosto, contra recuo de 1,43% na leitura anterior. Curado também destaca o avanço das aves no IPA, que subiram 6,53% (em julho, houve queda de 1,42%).

 

Diante dos números desta semana, o economista da Tendências vai revisar para cima sua projeção de 0,30% para o IGP-M de agosto, já que os preços agrícolas devem continuar pressionando e tendo reflexos nos alimentos para o varejo. Ele ressalta, contudo, que a inflação ficará relativamente baixa neste mês, mesmo que não tão tranquila como em junho e julho, que registraram deflação nos IGPs.

 

O economista-chefe da Máxima Asset Management, Elson Teles, também aumentará sua previsão para o IGP-M do fim do mês para algo acima de 0,40% mas, em sua opinião, as elevações desta semana não foram alarmantes, mas sim sazonais para esta época do ano, com a entressafra da carne e de alimentos. Ainda assim, o avanço dos preços agropecuários foi mais forte do que o esperado por Teles, que tinha na conta um IGP-10 de 0,12%.

 

As primeiras prévias do mês, porém, não alteraram as previsões para o ano, que contam com demanda aquecida e pressão de serviços contrabalançando um ainda incerto alívio em commodities por conta da crise externa. Além disso, está prevista uma forte subida do álcool a partir de outubro.

 

"Alimentação vai ditar a volatilidade dos indicadores de inflação e serviços continuarão pressionados", avalia Flávio Serrano, economista do Espirito Santo Investment Bank. Segundo cálculos dele, os serviços devem registrar alta mensal média entre 0,40% e 0,60% até o fim do ano, o que garante taxa de 0,35% nos IPCs da Fipe e da FGV. Teles, da Máxima, diz que sua projeção de 6,3% para o IPCA neste ano ainda depende do movimento dos alimentos. "Eles vão subir, só não sabemos o quanto."

 

Serrano observa que o álcool será outra fonte de alta, e não descarta um novo choque como o ocorrido no fim do ano passado, que alterou os patamares de preços. "As perspectivas de produção para o etanol são insuficientes", concorda Curado, para quem o impacto da crise na inflação virá somente em 2012. "Ela não altera nossa projeção de IPCA de 6,6% em 2011". O economista explica que a retração da atividade econômica interna vem da indústria, o que não diminui pressões de demanda.

 

Teles acredita que se o cenário de 2012 for de baixo crescimento mundial, pode-se ter uma inflação menos pressionada no ano que vem, mas ainda assim o centro da meta, de 4,5%, não seria atingido. "Mas talvez isso seja secundário para o Banco Central em um cenário de crise", cogita. Para ele, o "grosso" da queda das commodities, se acontecer, virá em 2012.

 


Veículo: Valor Econômico

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