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31/03/2011 12:22 - BC desiste de atingir centro da meta em 2011

Segundo análise do Relatório de Inflação, busca da taxa de 4,5% para o IPCA poderia levar à recessão

 

O Banco Central aumentou a projeção de inflação para este ano de 4,8% para 5,6% e, ao mesmo tempo, adiou para 2012 a convergência dos preços para o centro da meta de 4,5%. Segundo o Relatório de Inflação, divulgado ontem, o custo de trazer a variação do IPCA para o centro da meta ainda este ano, dado o intenso choque de commodities, seria uma recessão na economia brasileira.

 

A opção do BC foi pela acomodação dos efeitos da alta das commodities, que tiveram impacto estimado de 2,5 pontos percentuais no IPCA, parte disso incorporado no ano passado, combatendo apenas os chamados efeitos secundários, ou seja, a disseminação dessa alta nos demais preços. Com isso, a economia deverá ter um crescimento de 4%, conforme previsão do BC, e a inflação recuará para 4,6% no fim do próximo ano.

 

Citando a literatura econômica, a experiência internacional e episódios passados do regime de metas brasileiro, o diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton Araújo, disse que os intervalos inferiores e superiores ao centro da meta de inflação, que vão de 2,5% a 6,5%, servem justamente para acomodar os choques de preços, por definição imprevisíveis.

 

"As bandas são os instrumentos que viabilizam a acomodação da política monetária a esse tipo de situação [choque de oferta]. A boa prática e a teoria econômica recomendam que a convergência da inflação à meta, tendo em vista o afastamento observado no ano passado, seja mais suave", disse ele em entrevista para divulgação do relatório. Caso a opção fosse pelo centro da meta, os custos em termos do PIB seriam "demasiado elevados", disse.

 

O BC preferiu uma política gradualista, combatendo os efeitos secundários via elevação da Selic e, também, com medidas macroprudenciais de restrição ao crédito. Conta ainda com a redução dos gastos do governo, que promete cumprir a meta cheia de superávit primário (R$ 117,8 bilhões).

 

O BC acredita que já está em curso uma desaceleração da atividade econômica, com o PIB avançando abaixo do potencial desde o segundo semestre do ano passado. O processo será intensificado quando os efeitos da política monetária, que sofrem com uma defasagem de até nove meses, no caso da Selic, se tornarem mais presentes, com redução da inflação em 12 meses a partir do último trimestre do ano.

 

Segundo Araújo, no entanto, a instituição não abandonou o centro da meta para este ano e pode, inclusive, rever a política monetária, caso se mostre necessário. "Temos ainda um trabalho árduo e vamos seguir em frente para que a inflação não se afaste muito da meta em 2011, o que vai contribuir com o trabalho de trazer a inflação à meta no ano que vêm", afirmou.

 

O Relatório de Inflação foi lido pelo mercado como ainda mais "dovish" do que os documentos anteriores - neologismo que indica um BC mais leniente com a inflação e menos afeito à subida de juros. A reação imediata, tanto de economistas das instituições financeiras, quanto do mercado de juros, foi de reduzir a expectativa de novas elevações da Selic. Ao mesmo tempo, foi sinalizada uma maior desconfiança sobre o sucesso do BC na empreitada. A autoridade monetária, porém, mostrou segurança em relação ao caminho escolhido.

 

Um indicador das incertezas do mercado está nas taxas negociadas na BM&FBovespa. Os contratos de juros com prazos mais curtos apresentaram queda, indicando que os investidores não acreditam em um aperto muito extenso da Selic, que pode ser interrompido na próxima reunião, de abril. Já os contratos mais longos tiveram leve alta, sinalizando que os agentes esperam uma piora do cenário futuro, seja com uma aceleração da inflação, seja pela necessidade de novas elevações da taxa básica.

 

O BC resolveu, também, alterar a forma de divulgação do Boletim Focus, que coleta as opiniões do mercado, apontando de forma clara quais setores estão mais céticos com a política monetária. Separou as respostas dos analistas em três grupos: bancos, gestoras de recursos (assets) e outras (que incluem as consultorias). Com essa divisão, fica claro que as apostas mais acentuadas no fracasso do BC estão concentradas nas gestoras independentes.

 

Veículo: Valor Econômico

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