Economia
28/03/2011 13:44 - Renda depende menos do mínimo
O salário mínimo subiu com força nos últimos anos, mas não é o principal motor dos ganhos de rendimento registrados no mercado de trabalho. O aquecimento desse mercado e o aumento da escolaridade têm mais importância nesse processo, segundo um estudo do departamento de pesquisas e estudos econômicos do Bradesco.
Em 2007, a parcela da população ocupada que ganhava até R$ 550 era de 31,4%, percentual que recuou para 20% em janeiro de 2011, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para as seis principais regiões metropolitanas do país. "Essa faixa inclui o salário mínimo em todo o período analisado, o que indica que ele perdeu participação como referência no rendimento do trabalho", dizem as economistas Ana Paula de Almeida Alves e Ana Maria Bonomi Barufi, autoras do estudo.
Elas destacam, porém, que o piso salarial é extremamente relevante para o aumento da massa total de renda da economia, por corrigir algo como dois terços dos benefícios previdenciários do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Além disso, em lugares mais pobres do país, o salário mínimo também é uma importante referência, como no emprego público.
Desde 2007, o salário mínimo subiu 43% em termos nominais, mais do que a alta de 31% do rendimento médio das seis principais regiões metropolitanas. A questão é que a fatia das faixas de renda superiores à do mínimo ganhou mais peso no total dos ocupados. A parcela dos que recebem entre R$ 750 e R$ 1 mil pulou de 14,5% em 2007 para 20,6% no começo deste ano, enquanto a fatia dos que ganham mais de R$ 1.750 subiu de 20% para 23,2%.
Para Ana Paula e Ana Maria, "parte significativa do aumento do rendimento médio se deve à maior escolaridade da população". Os ocupados no setor privado que têm 11 ou mais anos de estudo viram a sua participação na população ocupada subir de 38% em março de 2002 para 54% no fim do ano passado. "Estudos verificaram que cada ano adicional de educação proporciona um aumento médio de 13% da renda do trabalho, controlando pelas características dos indivíduos", aponta o relatório do Bradesco, que também ressalta o peso da maior demanda por trabalho nos últimos anos, evidenciado na forte criação de empregos.
O economista Sérgio Mendonça, do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socieconômicos (Dieese), vê a demanda mais forte como o principal fator para explicar a alta no rendimento. Em si, a expansão da escolaridade não garante elevação da renda, afirma ele. Mendonça diz que, hoje, a grande procura na economia é por trabalhadores com pelo menos 11 anos de estudo, mesmo em setores como o comércio, o que significa ter pelo menos o ensino médio concluído. Apenas na construção civil - e não em todas as funções - e na área rural esse nível educacional não costuma ser exigido, acredita ele.
Ao mesmo tempo, também aumenta com força a oferta de trabalhadores com mais escolaridade, graças a universalização do ensino médio alcançada pelo país. Segundo Mendonça, é essa combinação que ajuda a explicar o forte crescimento da participação dos trabalhadores com 11 anos ou mais de estudo no total de ocupados.
No entanto, Mendonça nota que esse grupo, ao mesmo tempo, também é majoritário entre os desempregados. A taxa de desemprego tem recuado em todas as faixas de renda, mas recua a um ritmo mais lento entre os de maior escolaridade (ver gráfico). Mendonça destaca que, no começo de 2002, 29,2% dos desempregados em São Paulo tinham pelo menos ensino médio completo - o equivalente a 11 anos de estudo, percentual que saltou para 50% no começo deste ano, segundo número do Relatório Anual de Informações Sociais (Rais). A demanda por trabalhadores com maior estudo cresceu bastante, mas a oferta aumentou ainda mais, resume Mendonça.
Para ele, é possível também que uma parte dessa fatia da população recuse empregos que paguem salários muito baixos. E aí reside o grande desafio do país daqui para frente, segundo Mendonça: criar empregos de melhor qualidade, para pessoas que têm uma qualificação melhor. "É preciso desenvolver o país na direção de postos de trabalho com maior produtividade e maior valor agregado. Sem isso, poderá haver uma enorme frustração desses trabalhadores com mais anos de estudo", afirma ele. (SL)
Veículo: Valor Econômico
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