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07/01/2011 10:27 - Inflação enfrenta novos vilões no início de 2011

A inflação no atacado fechou 2010 com a maior variação em seis anos, mas os principais vilões do ano passado - os preços dos alimentos - não indicam problemas para este início de ano. Novas pressões, contudo, manterão os índices ao consumidor pressionados. Com a alta das mensalidades escolares e das tarifas de transporte público em três capitais, a inflação ao consumidor acumulada neste primeiro bimestre vai ficar próxima a 1,5%, movimento que deve perder força em março.

 

O Índice Geral de Preços-Disponibilidade Interna (IGP-DI) aumentou 11,3% no ano passado, puxado principalmente pelo avanço acumulado de 25,6% nos preços dos produtos agrícolas no atacado. No entanto, o resultado de dezembro - alta de apenas 0,38% - registrou brutal desaceleração nos preços agrícolas, sinalizando que a inflação nos primeiros meses de 2011 será beneficiada por esse movimento.

 

Influenciados pela alta das commodities no mercado externo, impulsionada em setembro com as medidas de expansão de liquidez promovidas pelo governo americano, os preços dos produtos agrícolas no atacado brasileiro repetiram avanços próximos a 5% por três meses consecutivos, entre setembro e novembro, mas em dezembro a alta foi de apenas 0,18%. A desaceleração foi forte também entre as matérias-primas brutas, cuja alta passou de 4,27%, em novembro, para 0,74% em dezembro.

 

Por seu lado, os produtos industriais ampliaram o movimento dos agrícolas, em dezembro, ao recuarem ainda mais frente ao resultado de novembro. Os preços dos bens finais no atacado, que já haviam recuado 0,4% em novembro, caíram outros 0,6% no mês passado, enquanto o avanço dos bens intermediários foi mais modesto - dos 0,83% em novembro para 0,53% em dezembro.

 

A avaliação dos economistas consultados pelo Valoré de que os alimentos continuarão pressionando a inflação ao longo de 2011, mas em menor intensidade. Isso significa, pelos cálculos de Tatiana Pinheiro, economista do Santander, que ao invés de rodar em torno de 5%, o avanço dos preços agrícolas no atacado ficará mais próximo de 1%, em média, entre janeiro e março. "Não será mais aquele desespero do segundo semestre de 2010, mas ainda falamos de saltos de 1% por mês, isso não é pouco", afirma Tatiana, para quem haverá "substituição" de itens em alta. "Ao invés das carnes, feijão e de grãos como milho e trigo, que pressionaram no ano passado, veremos alta de cana-de-açúcar, que é sazonal".

 

Os primeiros dois meses do ano concentrarão, para o consumidor, duas contas salgadas: o reajuste nas tarifas de transporte urbano, como os ônibus metropolitanos de São Paulo e Salvador, em janeiro, e os trens no Rio de Janeiro, em fevereiro, e os preços de material escolar e das mensalidades. A economista do Santander calcula que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) passará por alta de 0,62% em janeiro, e os reajustes no transporte público de São Paulo e Salvador responderão por 0,11 ponto percentual desta alta.

 

Trata-se, diz Laura Haralyi, economista do Itaú Unibanco, de uma elevação que dificilmente se repetirá em 2012, quando ocorrem as eleições municipais. "Além disso, as pressões de transportes e de educação vão se diluir ao longo do ano, enquanto os alimentos estarão sempre no radar", diz Laura. "É preciso lembrar que a inflação no atacado parou de subir em dezembro naquele ritmo acelerado, mas parou em um patamar elevado, os alimentos ainda estão caros", afirma.

 

Para Fabio Ramos, especialista de inflação da Quest Investimentos, a inflação, no atacado e no varejo, ao longo de 2011, tende a ser mais equilibrada que nos últimos quatro anos. "Os preços dos alimentos, que impactam diretamente os preços agrícolas e também os industriais, por meio dos alimentos processados, além de itens importantes do varejo, como refeição fora de casa, não devem ser um problema até março", estima Ramos, para quem os preços dos bens industriais responderão mais às variações de emprego e salários, e à competição com importados. "O consumo foi o motor de 2010, e, mesmo assim, os preços dos bens industriais no atacado tiveram elevações mansas. Isso ocorre devido as importações que, ajudadas pelo câmbio, foram, ao longo do ano, reduzindo os preços ao consumidor", diz.

 

Os economistas avaliam que itens como produtos administrados - como tarifas públicas - e contratos de aluguel e condomínio ocuparão espaço maior na inflação neste ano. "Ainda que a indexação tenha diminuído muito", diz Tatiana, "muitos aluguéis são balizados pelos IGPs, que no ano passado contaram com a taxa negativa de 2009, mas agora a base são os 11,3% de 2010".

 

Segundo Ramos, o IPCA deve fechar o ano em 5,5%, mesma estimativa de Tatiana, do Santander. Segundo os analistas, a meta de 4,5% perseguida pelo Banco Central será novamente descumprida - hoje, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga a variação do IPCA de dezembro, que deve consolidar uma alta acumulada próxima a 6% no ano passado. "A inflação continuará pressionada pelos alimentos e pelas despesas pessoais com bens e serviços, estimulada pelo ótimo momento do mercado de trabalho e pela concessão de crédito", diz Tatiana. Além disso, os economistas avaliam que as medidas contracionistas na política monetária, como a elevação dos juros, devem fazer efeito a partir de julho.

 

Veículo: Valor Econômico

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