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22/12/2010 10:46 - Alimentos pesam mais no prato de cada dia

Mesmo com uma queda em relação ao mês de novembro, a inflação deve fechar o ano em 5,79%, acima dos 4,18% de 2009 e na margem de limite da meta do governo, que é de 4,5%. E os vilões continuam sendo os alimentos, que tiveram redução de preço neste mês, mas ainda representam 2,29 ponto percentual do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

 

Neste mês, o IPCA teve variação de 0,69%, abaixo dos 0,86% registrados em novembro. Esta queda é reflexo da desaceleração do preço dos alimentos, que foi de 2,11% para 1,84% de um mês para o outro. Ainda assim, o resultado dos  alimentos e bebidas equivalem a 62% do IPCA deste mês.

 

Os produtos que ficaram mais baratos foram o açúcar cristal, o pão francês, o leite pasteurizado, o feijão carioca, o feijão preto e a batata inglesa. Entre os alimentos, apenas os preços das carnes continuaram em alta e passaram de 6,1% para 8,32%, com destaque para o frango e a carne seca. Segundo os economistas, os preços dos alimentos devem se estabilizar no primeiro trimestre do próximo ano, em função das expectativas de arrefecimento da economia.

 

Inflação – Uma das medidas do Banco Central (BC) que deve surtir efeito sobre a inflação no início do próximo ano é a elevação do depósito compulsório, que aumenta o custo do dinheiro para as instituições financeiras e tem o objetivo de desestimular o consumo. Na opinião do professor de economia da Trevisan Escola de Negócios, Alcides Leite, antes de decidir pelo aumento da taxa básica de juros (Selic), o governo deve aguardar para avaliar se estas medidas vão de fato conter a inflação.

 

Para o economista do Instituto de Economia Gastão Vidigal (IEGV), da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Emilio Alfieri, o governo só mexe na taxa básica de juros (Selic) se a inflação deste ano romper o limite de 6,5%. "O governo deve esperar o resultado das medidas antes de aumentá-la. Se isso ocorrer, será preciso elevar o superávit primário", afirma. Segundo Alfieri, descontada a participação dos alimentos, o resultado do IPCA é positivo.

 

Reposição – De modo geral, os economistas esperam que os preços dos alimentos sejam reposicionados e se fixem em um patamar parecido com o atual. "Os preços não sobem mas não baixam porque a demanda por alimentos está alta no mundo inteiro,  e o reflexo está no aumento no valor das commodities agrícolas e minerais", diz Leite.

 

Ao longo deste ano houve altas nos preços sazonais motivadas pelas chuvas, secas e mudanças climáticas. Os alimentos subiram no atacado e tiveram participação de 7,67% do acumulado entre janeiro e dezembro do Índice Geral de Preços ao Mercado (IGP-M), que foi de 10,56%. "Esse aumento foi repassado para o varejo, mas a tendência é de reversão e o índice no atacado deve cair", diz Leite.

 

Helvécio, do Consulado Mineiro, mexeu no preço dos pratos.Se as medidas anticonsumo do BC não surtirem efeito sobre a inflação, a previsão é de elevação da taxa básica de juros (Selic) em janeiro, segundo o professor de economia do Instituto Nacional de Pós-Graduação (INPG), Otto Nogami. Ele acredita que o IPCA vai encerrar o ano em 5,9% ou 6%.

 

"A inflação será maior porque, em dezembro, há a pressão dos alimentos e dos vestuários. A sensação psicológica de que este será o melhor Natal para o comércio pode aumentar o consumo, pressionar os preços e levar ao aumento da taxa básica de juros", conclui.

 

Alta da carne é repassada para o cardápio

 

A alta dos preços dos alimentos foi repassada para, ao menos, três opções do cardápio do restaurante Consulado Mineiro, em Pinheiros, na zona oeste de São Paulo. "Sempre tem produto que está na safra e outro na entressafra. Um compensa o outro e não precisei repassar a alta do preço do feijão para o consumidor. Mas tive que aumentar o preço dos pratos com picanha e filé mignon em 9%", diz o chef e sócio-proprietário do restaurante, Helvécio Carneiro. Segundo ele, a queda no pedido destes pratos, porém, foi de apenas 5%. "O povo quer gastar", diz.

 

Especializada em comida mineira, a casa consome por mês 220 kg de carne bovina (picanha e filé mignon) e 700 kg de feijão carioca e preto. Estes itens foram os que mais oscilaram no último IPCA. O feijão carioca subiu 10,83% em novembro e teve queda de 12,72% neste mês. A carne aumentou  8,32% em dezembro

 

Veículo: Diário do Comércio - SP

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