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09/11/2010 10:18 - Editor da "Economist" diz que Brasil deve pressionar China por câmbio

Em SP, diretor da revista britânica diz que moeda chinesa, mais que dólar, afeta indústria brasileira

 

John Micklethwait diz que é cedo para decretar declínio dos EUA e que Brasil deve reduzir dependência da China

 

Se o Datafolha fizesse uma pesquisa com líderes políticos e empresariais de todo mundo, perguntando qual é a publicação mais influente e lida entre eles, dificilmente a revista britânica "The Economist" não estaria no topo do ranking.

 

Defensora do liberalismo e criada em 1843, a "Economist" é chefiada desde 2006 por John Micklethwait, 48, que está hoje em São Paulo para participar de um debate sobre o potencial brasileiro.
"Não é justo ficar colocando Brasil sempre ao lado de China e Índia, com escalas tão diversas. Por enquanto, o Brasil é um poder regional em ascensão, como são Indonésia, Turquia", diz.

 

A revista apoiou em editorial o candidato derrotado José Serra, "porque ele teria mais ambição por fazer as reformas engavetadas por Lula", diz. "Dilma pode ser mais intervencionista ou até surpreender, como Lula."

 

O jornalista britânico passou boa parte das últimas duas décadas escrevendo sobre os EUA. Seu último livro, "The Right Nation" (trocadilho entre a "nação certa" e a palavra "direita" em inglês), conta a ascensão do conservadorismo americano.

 

Pressão brasileira
Não sou pessimista com o G20 porque minhas expectativas com o sucesso desse encontro são bem baixas. Mas o Brasil deveria pressionar mais a China, junto com os demais emergentes.
Mas a China foi bem eficiente em culpar exclusivamente os EUA. A emissão de dólares dos EUA certamente não ajuda, mas o Brasil precisa lembrar a responsabilidade chinesa, pois as manufaturas muito baratas prejudicam a indústria brasileira. O desequilíbrio é culpa dos dois, não só dos EUA.

 

Potência regional
Por enquanto, Brasil, China e Índia criaram uma situação em que todos ganham. O que o Brasil vende eles não têm. E a agricultura brasileira é muito mais produtiva que a chinesa ou a indiana.

 

Dependência chinesa
A balança brasileira está muito dependente da China. O Brasil precisa de produtos de maior valor agregado. A agricultura é fantástica, então tem que fazer produtos finalizados, ter marcas.
O setor de serviços pode se internacionalizar. O sistema bancário pode ser muito forte na América Latina.

 

Declínio americano
É muito cedo para decretar o declínio absoluto dos EUA. Estão em meio a uma recessão séria, mas onde as pessoas mais talentosas do mundo querem estudar? Em que empresas querem trabalhar?
É sério que houve mudanças. Reagan falava coisas extremas, mas tinha lido Hegel, algo que não posso falar de Sarah Palin.
O achado de Murdoch foi criar uma rede de comunicação para um público conservador que era sub-representado na mídia.
Sempre suspeito quando dizem que em 2025 a China será o maior império do mundo. Não será uma evolução em linha reta. Há desafios na urbanização, na religião e choques com os vizinhos, muitas dificuldades no caminho.

 

Europa subestimada
Também acho que muita gente está subestimando a Europa. Ela tem um problema sério de pessimismo, mas tem os trabalhadores mais qualificados. Se desregular seu setor de serviços, ele vai virar um gigante.
A Europa já sofreu grandes problemas e tem uma capacidade de se reinventar e de reconstrução enormes.
Alemanha e Europa anglosaxônica avançarão mais. Mesmo os franceses, que foram às ruas lutar contra a aposentadoria mínima aos 62 anos, também sabem que precisam mudar.

 

Inteligência de massa
O fenômeno da globalização ajuda muito a "The Economist". Nossa tiragem tem crescido muito, já supera 1,5 milhão por semana.
Temos 30 correspondentes internacionais, uma cobertura realmente global, então é normal que muitos brasileiros ou indianos nos leiam.
Vivemos a ascensão da "inteligência de massas". Reclamamos do sucesso das revistas de celebridades e fofocas, do baixo nível da TV, mas nunca tanta gente no planeta foi à universidade, leu ou teve tanto acesso à informação.

 

Jornalismo
Estamos virando blogueiros e aprendendo multimídia. Mas, para 90% da equipe, o que busco são as habilidades do jornalismo de sempre: inteligência para pensar em novas dimensões sobre tudo.

 


Veículo: Folha de S.Paulo

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