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04/10/2010 11:33 - Comércio em reais com Argentina triplica, mas é 3,7% do total

O comércio de mercadorias entre Brasil e Argentina com uso direto de moeda local, sem troca por dólares pelos exportadores e importadores, triplicou neste ano, e superou US$ 90 milhões mensais, em média, nos oito primeiros meses deste ano. O número de operações também cresceu, e chegou a 220, em média, por mês, com uma tendência clara de crescimento - em agosto, chegaram a 320 as operações de exportação que usam o real ou o peso como moeda.

 

O governo ainda avalia as razões do crescimento que, informalmente, se atribui ao maior conhecimento do sistema por pequenos e médios exportadores. O resultado acumulado de janeiro a agosto ficou pouco abaixo de R$ 740 milhões, ou aproximadamente US$ 413 milhões, se convertido esse valor pela taxa média do dólar no período. Esse total representa cerca de 3,7% do total das vendas brasileiras ao país vizinho no período. No mesmo período de 2009, a proporção era inferior a 1,5%.

 

O interesse pelo mecanismo de moeda local está concentrado no lado brasileiro. Enquanto as exportadoras brasileiras aumentaram continuamente as vendas usando moedas locais como referência nos contratos, os argentinos realizaram apenas sete operações a cada dois meses - o maior número de operações, cinco, foi registrado em agosto.

 

A apatia dos exportadores argentinos contraria o interesse do governo do país vizinho, que vê no mecanismo uma maneira de reduzir a dependência de moeda estrangeira. Essa é uma questão delicada devido às dificuldades de financiamento internacional argentino não resolvidas com a renegociação da moratória do país, em 2005. As dificuldades em obter garantias e seguro cambial para operações em reais ou pesos é um dos principais obstáculos à disseminação do sistema, que o Brasil tenta expandir para outros países, e gostaria de iniciar ainda neste ano com o Uruguai.

 

As operações de exportadores brasileiros com o sistema de moedas locais pularam de 198, em janeiro, para 320 em agosto. Do lado brasileiro, o aumento do interesse pelo uso do sistema de comércio em moeda local é incentivado pela redução de custos com a contratação de câmbio - mas, segundo os especialistas do governo, é preferido principalmente por empresas de menor porte, sem acesso ao mercado de financiamento de exportação em dólares.

 

O sistema de pagamento em moeda local, embora seja um passo para o uso livre das moedas locais nas transações entre os dois países, ainda depende do dólar como referência, o que significa que os exportadores ainda correm risco cambial - talvez a principal razão para a baixa popularização do sistema na Argentina. As empresas realizam as operações no sistema financeiro local, em moeda nacional, e, informados, os Bancos Centrais de cada país fazem entre si a compensação: a autoridade monetária do país com saldo negativo no total de operações de importação e exportação transfere esse saldo, em dólares, para o Banco Central do país com saldo positivo.

 

Segundo técnicos dos dois governos, os valores transacionados no sistema de pagamento em moeda local, apesar de serem crescentes, tendem a se acomodar em um patamar reduzido, enquanto o governo não encontrar solução para os principais problemas detectados na operação com as moedas regionais. Em 2009, após a pequena adesão ao sistema, foi criado um grupo de trabalho de estímulo às exportações em reais e ao sistema de pagamentos em moeda local, que identificou como problema principal exatamente o financiamento: as linhas de crédito em pesos ou reais ainda têm custo bem superior ao do financiamento em moeda estrangeira.

 

O grupo de trabalho sugeriu estudar maneiras para que o governo brasileiro, por meio do BNDES-Exim, conceda linhas de equalização de crédito nas operações em reais, e, com apoio do Proex (financiamento às exportações), ofereça crédito em reais com juros equivalentes à taxa internacional Libor. Essas propostas ainda estão em estudo no BNDES. As diferenças entre as opções de financiamento tradicionais e as possíveis no novo sistema fazem com que seja pouco atrativo o comércio em moeda local para os principais exportadores, especialmente as montadoras de automóveis, responsáveis pela maior fatia no comércio bilateral.

 


Veículo: Valor Econômico

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